Tempestade

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Ragnar continuava a surpreender-se com o avanço da interação que os dois garotos estavam tendo, em apenas uma semana era como se já fossem conhecidos a anos. Apesar de que cada vez que abriam a boca acabava em discussão e Canute emburrado em um canto. O velho sentia que o príncipe estava feliz, quem sabe pelo fato de nunca ter convivido com pessoas de sua idade ou quem sabe pelo fato de Thorffin não trata-lo como alguém da realeza e sim como um garoto normal de 15 anos.
Os primeiros sete dias se passaram rápido, Thorffin caçava e sentiasse feliz por ter Ragnar para cozinhar. Desde muito pequeno era acostumado a comer restos, carne queimada ou sem sal, nunca antes havia provado temperos tão bons, nem mesmo com sua mãe.
Faltavam pelo menos mais três ou quatro dias para chegar ao destino mas antes deveriam passar por uma vila inimiga.
Enquanto comiam, uma mensagem chegou por meio de um pássaro.
Thorffin espantou-se, era a primeira vez que via aquilo. Ficou olhando para o pássaro enquanto Ragnar lia o conteúdo da carta. Se perguntava como o pássaro sabia a localização ou mesmo porque ele não ia embora, afinal tinha asas, não precisava entregar a mensagem e concluiu que pássaros são animais muito leais e espertos. Porém foi puxado de seus devaneios quando o velho pulou de onde estava sentado. Os pingos grossos de chuva começaram a ecoar pela floresta.

— Askeladd diz que o inimigo avançou muito rápido, se não nos apressar eles chegarão antes de nós no ponto de encontro e estaremos cercados. Arrume as coisas Thorffin vamos partir!

— Impossível velhote, vem tempestade por aí, por causa da vila não podemos seguir o caminho normal e teremos de cruzar o desfiladeiro, quer mesmo passar por lá com uma chuva dessas, eu vivi no mar tempo suficiente pra saber quando a chuva vai ser ruim.

— E que escolha nós temos ?! É melhor arriscar do que deixar que nos peguem no final do caminho!

— Tsk, velho idiota, vai acabar nos matando.

Contra vontade Thorffin entrou na carroça rumo ao íngreme desfiladeiro. A chuva aumentava mais e mais ao ponto de quase não dar para ver o que estava na frente de si, os cavalos começavam a agitar-se.

— Eu disse velho! Não temos como cruzar assim!

— Droga! Vamos dar meia volta então.

Enquanto o homem tentava dar a volta foi interrompido pelo grito se Canute. — Ragnar Cuidado!- Mas já era tarde, as pedras e lama desciam fazendo barulho. Jogando-os furiosamente para fora da carroça.
Canute foi arrastado pela correnteza de lama.

— Vossa alteza!

— Pegue os cavalos! Sem eles nunca chegaremos a tempo, eu vou atrás do príncipe, nos encontramos adiante da vila! - Thorffin gritou antes de se atirar atrás do outro.

Conseguiu alcança-lo com algum esforço, abraçou o príncipe para protegê-lo das pedras enquanto tinha sua carne dilacecarada com o choque das pedras pontiagudas , gemeu de dor,eles pararam mais alguns metros abaixo. Era impossível subir novamente, a passagem tinha sido totalmente coberta, o único jeito era correr por dentro da floresta.
Mas primeiro tinha que cuidar desses ferimentos ou acabaria sangrando até a morte pensou Thorffin, vila era a opção mais viável e mais perigosa ele tinham de invadir uma casa matar os moradores para poder conseguir algo para estancar o sangue.
Canute estava desesperado enquando via o outro sangrar tanto.

— O que fazemos ??

— Vamos até a vila e conseguimos uma casa.

— Esta maluco é uma vila de inimigos!

— E você tem ideia melhor ?! Ou quer morrer congelado na chuva?

Canute se encolheu, enquanto Thorffin levantava com dificuldade, meio cambaleante deu alguns passos. O príncipe pegou-o pelo braço ajudando a andar.

— Não preciso de sua ajuda.

— O..que... Mas é claro q...
Canute não podia acreditar na teimosia do garoto. — Pra sua informação não estou de TE ajudando estou ME ajudando assim nós chegamos mais rápido na vila.

Thorffin ficou calado estava com muita dor para retrucar.
Quando chegaram a vila escolheram uma casa ao azar, o garoto sacou suas armas com as últimas forças arrombou a porta pronto para o combate, mas o destino lhes sorriu, a casa estava vazia. A chuva abafou o som da pancada, ninguém percebeu nada.
Eles entraram, Thorffin despencou no chão.

— Thorffin !

Canute o ajudou a sentar.

— Pro....procure algo que possa estancar o sangue...

O príncipe vasculhou a casa achou algumas roupas velhas e um pano velho parecido a uma faixa. Levou- os de volta ao outro.

— Isso serve ?

— Deve servir.Consegue ascender a lareira ?

Thorffin tirou a blusa com dificuldade. Relevando um corte feio que ia do meio de suas costas ao ombro, se fosse mais fundo podia ter facilmente furado seu pulmão, ele teve sorte.
O príncipe por sua vez, que mais por desespero do que técnica conseguiu ascender a lareira.

— Agora você precisa queimar o ferimento, ou não vai parar de sangrar.

— O ...o que.. eu não posso fazer isso.- Canute recuou trêmulo.

— Você quer que eu morra?

— Não! É só que...

— Vai de uma vez!

O outro obedeceu pegando um pedaço de ferro próximo esquentou até deixar a ponta avermelhada então passou no corte, fechando-o. Com o cheiro de carne queimada e os gemidos de dor de Thorffin, Canute pensou que desmaiaria.

— E..e..está feito.

— Agora enfaixa, com aquilo.

Apontou o pano velho aparentemente meio sujo ou manchado.
Depois de terminar ajudou o loiro a vestir as roupas secas e chegar mais perto do fogo. Thorffin acabou desmaiando logo após.
Canute enquanto vestia o garoto percebeu a quantidade de cicatrizes que ele possuía, comparado consigo, tinha uma pele queimada e grossa, músculos definidos pela batalha, era um verdadeiro homem, se não fosse pela cara ninguém diria que ambos tem a mesma idade.
Thorffin acordou duas ou três horas depois com o barulho de bater de dentes do príncipe. Olhou para o lado o garoto continuava molhado e com as mesmas roupas.

— Seu idiota, por que não trocou de roupa?

— Como eu poderia colocar essas roupas? Eu sou um príncipe!

— Ora seu... Não me faça ir aí!

Canute tremeu com o olhar assassino que Thorffin.

— Certo.

Virou de costas para o outro tirando a blusa primeiro. Thorffin observava, a pele perfeita, branca, sem cicatrizes salvo os hematomas da situação de mais cedo. Um corpo mais perfeito do que qualquer mulher que já tivesse visto. Estendeu a mão tocando as costas do príncipe com a ponta dos dedos descendo até perto do cóccix.

O outro respondeu arqueando a coluna com o susto. Ficou todo vermelho na mesma hora.

— O que você está fazendo !!? Pervertido!

— Háh? Eu só encostei em você, não tenha esse tipo de reação, idiota!

Thorffin ficou vermelho percebendo a situação estranha que criara.
Canute terminou de trocar-se em outro cômodo da casa.
Depois disso acabaram adormecendo novamente o dia já estava clareando quando acordam, mudaram as roupas novamente e se aprontaram para sair, a chuva havia cessado.

O Lírio Que Floresce No Campo-ThorffinXCanuteOnde histórias criam vida. Descubra agora