4- Complicado

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        Minha cabeça latejava. Meus olhos ardiam e eu me sentia enjoado. Sentia que se eu colocasse qualquer coisa para dentro, logo a vomitaria. O pior era ouvir as reclamações do meu estômago vazio. Me virei na cama e me deparei com um corpo quente, respirando tranquilamente. Abri os olhos. Coloquei a mão no rosto e praguejei o mais baixo possível. Porém, ainda assim, meus palavrões diurnos a despertaram. Ela acordou quieta, mas quando percebeu que estávamos dividindo a mesma cama, se levantou de uma vez, sentando na cama.

         - Mathias! O que você está fazendo aqui?! - Ela reclamou, colocando as mãos nos seios, já que se sentara sem lembrar que ainda estava nua. - Ai meu Deus! Porra! Por favor me diz que não fizemos nada, que estávamos bêbados demais para transar!

         Aline pediu, fechando os olhos com força, quase ordenando que eu fizesse o que queria. Nosso caso era grave, mas ainda assim, eu consegui rir da situação. E ri abertamente. "Puta merda, eu transei com a namorada do meu melhor amigo!" 

         Ao encarar novamente uma Aline revoltada, segurei o riso. Seu rosto ainda pedia uma resposta.

          - Nós dois estamos nus. Mas, pense pelo lado positivo... - Ela me interrompeu.

          - Você consegue ver um lado positivo nisso?! A gente transou! - Ela disse, enfatizando a última palavra.

          - Pelo menos, fomos precavidos. - Estendi uma camisinha usada para ela ver.

          Não pude evitar rir da sua cara ao olhar a camisinha na minha mão, ali, balançando para um lado e para o outro. Dessa vez, meu riso foi baixo o suficiente para não irritá-la. Aline levantou de uma vez, rebolando no caminho do banheiro do seu quarto.

         - Que tal um banho a dois? - Provoquei.

        A garota estendeu seu dedo médio para mim.

         - Vai se foder, Mathias. - Ela resmungou, de mau-humor. Bateu a porta do banheiro e ainda disse que iria cortar certas partes baixas minhas se eu me atrevesse a entrar no banheiro com ela ainda lá.

        Tentei sorrir. Forcei-me a fazer isso. Por mim e pela merda que eu havia feito. Me sentei na cama, com as mãos na cabeça. "O que eu fiz?". Nesse dia, o ditado popular "se arrependimento matasse", fez sentido pra mim. No meu exterior, eu parecia tranquilo, mas no meu interior, eu estava preocupado. Foi tudo por causa do álcool, apenas. Eu realmente não sentia nada pela Aline, éramos bons amigos, só isso. Mas, em um milhão de vidas, nunca imaginei que eu seria capaz de transar com ela. Esfreguei as mãos no meu cabelo, querendo socar meu rosto.

          Gabriel era meu melhor amigo e andávamos afastados nos últimos meses, eu sentia falta da sua companhia, das nossas saídas juntos... Tudo, sendo honesto. Eu estava acostumado a sermos como irmãos e aquilo que eu havia feito... Se Gabriel descobrisse, seria o fim da nossa amizade. Observei a manhã ensolarada daquele dia pelas brechas da janela coberta por uma cortina. "Que idiota!"

          Não muito tempo depois, Aline saiu do banheiro e eu entrei. Não conseguia parar de pensar, a água quente parecia triturar meu cérebro, o transformando em carne moída. Saí e me vesti. Aline estava sentada na cama, mexendo no celular, com o nariz vermelho. Me aproximei dela, apenas o suficiente para ver o que fazia.

          - Veja... - Ela aproximou o celular de mim e me mostrou uma foto dela com Gabriel. Me senti ainda mais culpado. A tela do celular apagou e Aline fechou os olhos avermelhados, respirando fundo. - Foi apenas uma noite, certo? Não quis dizer nada, ok?

         Assenti. Não sabia ao certo o que dizer, a não ser um "ok" quase inaldível. Notei seu guarda-roupa cheio de objetos diferentes pendurados e me contive naquela visão.

Coração De Papel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora