Sentimento Mútuo

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Os lábios de Sara dançavam com os de Cassis num toque suave e prolongado, fazendo sua pele se arrepiar e uma explosão de torpor se espalhar pelo seu corpo, bloqueando todos os seus sentidos. A princesa não sabia mais onde estava, se havia alguém por perto ou o que deveria fazer com as próprias mãos, pois tudo o que conseguia pensar era naquele momento, naquele beijo, no sabor doce e agradável da boca de Cassis e em como ele parecia querer aquilo tanto quanto ela.

Ele, por sua vez, podia ouvir as batidas fortes do coração da princesa como se ele estivesse ao lado de seu ouvido e, com aquele beijo, sentindo o sabor suave do vinho nos lábios macios de Sara, o vampiro se deu conta do quanto tudo àquilo era certo. O contato era certo, o momento era certo, as palavras que o antecederam eram certas, até mesmo àquela aliança maluca entre as espécies era certa, pois tudo o que envolvia Sara de Alestia parecia ser extremamente certo e os segundos com ela pareciam infinitos.

Cassis cessa o contato dos lábios lenta e sedutoramente, apoiando as mãos sobre a cadeira da princesa e observando seus olhos fechados e respiração descompassada. Ele sorri levemente, feliz, mas disfarçando suas emoções assim que ela abre os olhos e o encara, com um brilho diferente no olhar.

Sara enche os pulmões de ar, envolvida pela bolha romântica que havia se formado ao redor deles, achando aquele o momento perfeito para dizer como realmente se sentia. Entretanto, a atmosfera arrebatadora é instantaneamente estourada com a intromissão de dois soldados, que adentram o salão de banquetes para requisitar a presença do príncipe no campo de treinamento da fortaleza leste.

O vampiro a olha, incerto, dividido entre o compromisso de seu principado e sua vontade de permanecer ali com ela, para ouvir o que tinha a lhe dizer.

― Vá, deve ser importante – sussurra Sara decidindo por ele, ainda sentindo-se aérea com o que havia acabado de acontecer.

― Irei – cochicha de volta –, mas quando retornar tenho algo importante a lhe contar. Espere por mim!

― Esperarei – confirma, assistindo a saída do vampiro com expectativa e já ansiando por seu retorno.

O tempo, a partir daquele momento, pareceu passar devagar demais na opinião de Sara, que precisou tomar o comando do castelo e fazer diversas mudanças, para ocupar a mente inquieta. A ordem sobre a reposição de vitae foi reforçada, uma pintura de Cassis para a Sala das Lembranças encomendada, o jardim podado, o quarto de Richard limpo e levemente modificado, acordos de compra e venda de alimentos reajustados, a cozinha reorganizada e a belíssima harpa transportada do quarto do rei para a sala do trono, onde Sara esperava corresponder ao pedido do vampiro e tocar uma bela melodia.

Quando a noite cai, nos aposentos reais, Sara se aconchega na cama e instantaneamente sente falta de sua companhia noturna. Cassis não havia retornado da fortaleza, o que significava que os assuntos militares eram bem mais complexos do que o esperado, deixando sua mulher sozinha pela primeira vez em muitas noites. E, apesar de se esforçar para pegar no sono, a princesa não conseguia conter a ansiedade e as lembranças do beijo, que retornavam a sua mente a todo instante, fazendo-a tocar os lábios involuntariamente com a ponta dos dedos.

A porta do aposento se abre repentinamente, trazendo uma onda de euforia para o coração da realeza, que logo se senta.

― Perdoe-me por perturbá-la, vossa alteza – pede a criada, deixando Sara levemente desapontada por não ser quem ela esperava. – Sua presença é requisitada na sala de reuniões do rei, uma visita urgente à espera.

― Quem, em sã consciência, se atreve a nos fazer uma visita a essa hora?

― Sua alteza, príncipe Henrique de Aurora, senhora. Os soldados não ousaram barrá-lo – identifica a criada, correndo para apanhar o longo robe da princesa assim que ela saltou da cama, a fim de cobrir-lhe a roupa de dormir e torná-la mais apresentável.

Cassis (Série Alestia I)Onde histórias criam vida. Descubra agora