Contendo-se

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O Sol já tinha nascido quando o não-vivo avistou os portões da Cidadela Principal. Havia cavalgado metade do percurso e caminhado o restante dele a fim de poupar o cavalo já exausto, não conseguindo cumprir o trajeto da volta antes do despertar dos alestianos.

Dois soldados guardavam a entrada, abordando todos os novos visitantes e conferindo cargas e decretos reais, antes de finalmente liberarem a passagem. Mesmo distante, Cassis podia sentir o cheiro deles, o odor cítrico de suas peles misturado com o suor fixado nas armaduras, o cheiro de um ser vivo, que parecia bastante convidativo para um vampiro faminto como ele.

O imortal estava ciente da baixa quantidade de sangue em seu organismo, a secura na garganta parecia arranhá-lo e um constante alerta apitava em sua cabeça, gritando: "Cuidado! Você está mal alimentado, ele pode estar à espreita, esperando para sair".

Ele precisava se alimentar o quanto antes e, com esta convicção em mente, o príncipe subiu em seu cavalo, exigindo dele um último esforço para levá-lo ao castelo. O cavalo dispara em direção aos portões da Cidadela, ignorando as ordens de parada dos dois guardas e se embrenhando casas adentro em direção à segurança do castelo.

Alguns alestianos pareciam estranhamente surpresos por vê-lo, como se estivesse desaparecido há décadas, enquanto outros corriam assustados diante da velocidade do cavalo e saltavam para fora do caminho para não serem atropelados. Cassis podia sentir o cheiro deles, de todos eles, humanos com a sedução correndo nas veias. Sua garganta sedenta ardia por um gole daquele vitae tão tentador, mas, por sorte, o garanhão não sentia o mesmo e continuou seu poderoso galope até os portões do castelo, que rapidamente foram abertos para ele, o príncipe.

O vampiro para o cavalo bruscamente, largando-o no pátio principal à mercê dos soldados, enquanto se dirigia rapidamente para a sala de banquetes. A grande mesa de madeira já estava vazia devido ao fim do período de desjejum, não havia nada ali, nem mesmo uma taça de vitae e Cassis não pôde evitar socar o móvel em frustração.

Uma jovem criada adentra o salão às pressas, atraída pelo barulho de seu golpe e pensando se tratar de alguma visita inesperada do rei, parando instantaneamente ao ver o monstro que a espreitava.

― Traga-me vitae – ordena, amparando o corpo na mesa como se estivesse sofrendo. – Agora! – grita, fazendo a criada se retirar com um pulo.

Já era possível senti-lo, era possível detectar a força e o instinto assassino dele. Cassis ouvia sua razão gritar por um pouco de vitae, enquanto sua selvageria ficava cada vez mais forte, pulsando em seu peito como um monstro querendo sair para brincar.

Sara surge logo atrás, estava retornando de um passeio pelo jardim quando ouviu seu berro irritado e o seguiu até ali. Ela estava possessa por se tornar piada entre as más-línguas de Alestia e vê-lo tão de repente pareceu aumentar a chama de sua fúria, cegando-a completamente para o fato dele não parecer bem naquele momento, de que algo realmente perigoso estava acontecendo.

― Onde esteve esse tempo todo? Exijo explicações – começa ela com tom autoritário, cruzando os braços de maneira nada elegante.

Houve silêncio!

Cassis vira-se lentamente, olhando fundo nos olhos de Sara como se tentasse hipnotizá-la, seduzi-la, fazendo sua aproximação cessar rapidamente. Seus olhos não pareciam monótonos como antes, nem tampouco carregavam a mesma cor, mas transbordavam um desejo doentio em sua tonalidade rósea, como se algo dentro dele tivesse sido ligado de repente.

Era difícil segurar, difícil resistir! O vampiro pôde sentir o seu cheiro antes mesmo que cruzasse o batente da porta, sentindo também o poder da sede aumentar com a simples ideia de provar de seu sangue. E agora, olhando para ela, ele estava tentado a se aproximar da pele branca e macia de seu pescoço, para olhar mais de perto o perfeito emaranhado de veias que se espalhavam por baixo da fina camada de epiderme.

Cassis (Série Alestia I)Onde histórias criam vida. Descubra agora