Localização é Tudo.

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Localização é tudo. Morar perto do trabalho é maravilhoso, sério, não ter que acordar cedo pra pegar ônibus é o seu prazer de todas as manhãs, mas nunca lhe disseram que, pra ter o gostinho da paz e tranquilidade de não ter um despertador tocando às 5 da manhã, teria que equilibrar as malas com todas as suas coisas além de levar a mochila com o notebook na frente para que nenhum espertinho resolvesse que seria fácil abrir sua bolsa e levar alguma coisa.

Quando falara para os pais que iria se mudar para um lugar mais perto do trabalho omitira completamente a parte sobre a casa grande e esquisita no topo de uma ladeira com uma curva esquisita e, claro, de sua nova moradia ser uma república estudantil. Eles esperavam que uma hora ou outra o filho mais novo saísse de casa e alugasse algum lugar pra morar, afinal, ele trabalhava e não era mais nenhum bebê, no entanto, morar com um monte de universitários em uma casa mista não pareceria um avanço aos olhos dos pais que já estavam cansados de ter que lidar com as excentricidades de Rodrigo.

No fim, Rodrigo não tivera nenhum motivo clandestino para alugar um quarto ali, simplesmente achara o aluguel barato e a dona era uma senhora muito simpática que não impusera nenhuma regra explicita além de que as portas da casa deveriam ser mantidas abertas. Era uma casa grande de dois andares, com paredes caiadas do lado de fora que davam lugar ao papel de parede floral que decorava boa parte de seu inteiror. Seu quarto e os demais ficavam no segundo andar da república, que ele imaginava ter sido a moradia pra uma das famílias ricas da região no final do século passado, aqui e ali ainda podiam se ver brinquedos antigos de criança, as famosas presilhas da Sandy que a sua irmã adorava quando era adolescentes e essas coisinhas pequenas que as pessoas deixam para trás em mudanças, a única coisa estranha era a nova dona não ter se livrado de toda aquela tralha em quase vinte anos!

— Pegou o melhor quarto, sortudo! — exclamou uma menina baixa de cabelos castanhos que logo se apresentou como Ana, enquanto Rodrigo tentava equilibrar tudo e abrir a porta ao mesmo tempo — Não sei o que você tá pagando pra Dona Lourdes pra que ela te deixe ficar aí.

- Eu disse pra ela que qualquer quarto tava bom pra mim e ela me ofereceu esse – deu de ombros com desinteresse – Meu nome é Rodrigo, a gente se vê por aí – encerrou as apresentações levando o restante de suas coisas para o suposto melhor quarto da casa.

Tinha uma cama grande e um guarda roupa bonito, do tipo que ele veria em uma novela de época, um banheiro (as portas de banheiro podiam ficar fechadas) e outra porta que levava a uma antessala através da qual ele tinha o vislumbre pra outro quarto, gêmeo do seu. Rodrigo colocou o notebook em cima da cama e jogou as malas na frente do guarda roupas para guardar tudo quando tivesse coragem, não esperava ver ou falar com mais ninguém naquele dia, mas ao levantar os olhos, teve a primeira visão da habitante do quarto vizinho.

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