Caderninho Vermelho

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Dona Lourdes, como sempre, estava sentada em uma cadeira de balanço na varanda quando Rodrigo chegou em casa pela tarde. Ela não parecia em nada com sua Sofia fantasma e ele duvidava que ela fosse algum parente que ainda morava na casa, mas mesmo que ele achasse tudo aquilo meio ridículo, engoliu em seco e se aproximou.

- A senhora sabia sobre a Sofia, não é? – ele questionou em um sussurro só pro caso de a garota conseguir escutar alguma coisa do lado de dentro da casa – Que ela tá m... m... morta...

- Ah, sim – ela sorriu – Eu era amiga da mãe dela – olhou tranquilamente para a rua como se tudo aquilo fosse natural – Quando o filho do meio-irmão dela vendeu a casa eu tive que comprar, sabe? Era o mínimo que eu podia fazer por essa família, como ela tá minha Sofiazinha?

- A senhora não consegue ver ela? – perguntou surpreso ao que a mulher respondeu negando com a cabeça.

- Eu sei que ela está aqui, posso sentir e vejo coisas pela casa que só podem ser dela, mas não consigo ver a minha menina, acho que ninguém consegue ver ela, mas conseguem ouvir e sentir quando está presente – respondeu – Eu digo pros assustados que são os ratos.

- Ela continua linda – respondeu ele simplesmente – Parece meio perdida, acho que triste também.

- Obrigada, meu bem – a senhora deu tapinhas delicados em seu rosto – Amanhã é o aniversário dela, acho que estaria completando 50 anos se não tivesse morrido tão novinha, você pode fazer um favor pra mim, meu amor?

Rodrigo engoliu em seco ao saber que a garota que amava não só estava morta como também que teria 50 anos se estivesse viva, mas assentiu lentamente.

- O menino que morava aqui, Felipinho, vai ver ele, pode ser? – questionou a mulher – Ele levou um monte de coisa da casa, diz que a tia Lourdes pediu o caderninho vermelho, eu anoto o endereço pra você.

Mais uma vez, sem entender nada, Rodrigo assentiu e esperou enquanto ela anotava em seu caderninho um endereço e colocava o papel em suas mãos com carinho. Não querendo esperar nem mais um minuto, o rapaz chamou um Uber e passou pro motorista o endereço que o levara a um prédio bonito e espelhado de onde Rodrigo quase fora posto pra fora antes de conhecer o tal do Felipinho. Era quase uma cópia de Sofia, alto e magro de olhos cinzentos e cabelos loiros cacheados que o deixavam parecendo com um anjo pintado nas paredes de uma igreja velha.

- Tia Lourdes pediu o caderninho vermelho – ele lhe disse assim que o viu na entrada do prédio, poderia não ser Felipe e só um estranho, mas os traços eram inconfundíveis.

- Pra que ela quer aquilo? – questionou incomodado – Vou pegar pra você e desço em cinco minutos, tá bom parceiro?


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