31 de Outubro

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O caderno era antigo e tinha as páginas amareladas, Rodrigo podia sentir o peso que aquilo tinha e não queria enfrentar o peso daquela situação, então fez a única coisa que pensou que não iria fazer: correu para a casa dos pais. O pai ficou surpreso, mas a mãe ficou contente em ter mais alguém para jantar e depois de um bombardeio de perguntas, Rodrigo foi se arrumar para dormir em seu quarto de adolescente, sempre com o caderno pesando em sua mochila, gritando para ser lido até que o rapaz enfim cedeu.

"Meu amor,

Eu nunca quis te magoar, existem ex-mulheres, mas não existem ex-filhas e eu nunca te machucaria de propósito, mas eu não sei o que te machuca. Celina tenta me ajudar, mas ela é tão horrível quanto eu em entender o que se passa pela sua cabeça. Fala o que te magoa.

Com amor,

Papai"

Não era só um caderno, eram bilhetes e cartas do pai de Sofia, iam da euforia por vê-la na faculdade ao desespero por vê-la se afastando lentamente dele. O relógio digital apontava que passava da meia noite, mas ele não podia mais esperar nem um minuto sequer. A corrida para casa parecia não passar, subiu as escadas ainda mais rápido e passou a saleta até estar encarando uma Sofia surpresa que levantou da cama com um salto para ficar cara a cara com ele.

- Amo você – ela disse simplesmente sua voz era muito mais bonita do que ele imaginara, suas mão suaves na barba de dois dias que ele deixara crescer e os lábios que encontraram os seus com melancolia e doçura.

- Como você...? – questionou tentando entender como ela conseguira tocá-lo.

- Então você descobriu? – Ela sorriu com tristeza – 31 de outubro, a noite em que eu me torno quase viva de novo.

- Feliz aniversário – ele respondeu abraçando-a e beijando o topo de sua cabeça antes de sussurrar em seu ouvido – Amo você também, sempre vou amar.

Ao afastar-se do abraço ele deixou o caderninho nas mãos da garota que o olhou com confusão antes de abrir. Seus olhos se arregalando ao ler a primeira capa e se enchendo de lágrimas na seguinte, até que ela estivesse aninhada nos braços de Rodrigo em um choro silencioso que deixava escapar pequenos soluços.

- Obrigada – ela disse entre as lágrimas quando os dois deitaram-se na cama.

Ele acariciou seus cabelos e ela repousou a cabeça em seu ombro como se aquela posição fosse a mais natural para os dois. Na manhã seguinte quando Rodrigo acordou não viu Sofia deitada ao seu lado e a realidade cruel o atingiu com força: ele nunca mais voltaria a vê-la, mas ao voltar para o seu quarto, encontrou o papel grudado na porta.

"Amo você daqui até a próxima vida, mas chegamos ao epílogo da nossa história de amor."

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