Capítulo 1 - Victoria

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     Estou sentada, minhas mãos estão suadas, meu coração palpita, ofegante na expectativa. Pego meu leque e digo para minha amiga, Emilly, sentada ao meu lado: 

     - Quente, aqui, não está?

     Minha amiga apenas me olha. Não diz uma palavra. Mas conheço o seu olhar, sei o que está pensando. 

     Somos amigas desde a infância e sempre fomos muito cúmplices. Quinze anos depois, ela conhece todos os meus gestos e eu conheço todos os seus olhares. 

     Não me contenho e começo a me abanar com o leque. Emilly, que agora está alheia a mim, observando a porta, nem percebe. Olho para o que está chamando a atenção dela e vejo que há uma comoção na entrada. Respiro fundo. "Será que é ele?" Não quero me levantar, não quero dar a entender que eu estava esperando-o. Mas com o tumulto na frente da porta não consigo saber o que se passa.

     Não sei quantos minutos ou segundos se passam, quando sinto um toque em minha mão. Sobressalto assustada. Minha amiga da um risinho cúmplice ao perceber que eu estava afundada em meus pensamentos, fingindo ajeitar algo em meu vestido. Emilly, que segura minha mão em sinal de apoio ou de aviso, pois quando olho para cima, caminhando em nossa direção, está ele. Aquele que me visita em sonhos, aquele que tem feito meu coração acelerar e minha boca ficar seca. Aquele a quem venho admirando silenciosamente, desde o último baile: Julien D'Avignon.

     Julien é o filho herdeiro do conde de Beaumont. Com pai francês e mãe inglesa, ele não vem a Londres desde a infância. A família mora em um vilarejo próximo à Paris, onde o pai é proprietário de terras, incluindo uma vinícola. Vieram à Inglaterra visitar parentes da sua mãe, e sendo de família influente foram convidados para diversos bailes desta temporada. É o assunto de fofocas em toda a cidade. Um futuro Conde bem afeiçoado e rico, ao mesmo tempo, não se vê com muita frequência. Ele se destaca dos demais com seu jeito descontraído. Não anda de maneira empoada e sisuda como os demais nobres solteiros, da temporada, como se tivessem a certeza de que são o maior prêmio. O melhor partido, que todas as moças solteiras, e até as viúvas em alguns casos, anseiam e fazem fila para ter ao menos um "oi", que dirá uma dança.

     Ele tem a pele alva e os cabelos pretos do pai, e os olhos castanho claro da mãe. Ele é alto, talvez tenha mais do que um metro e oitenta e cinco - que é a altura do meu irmão. Ombros largos e quadril estreito, e imagino alguns músculos, pela forma como o corpo abraça a casaca. "Será que ele se exercita? Anda a cavalo pela vinícola? Ou tem algum lago por perco onde possa nadar?" Me pego desejando saber, desejando fazer um passeio desses ao seu lado...

     Quando acordo dos meus devaneios, vejo que ele já está no meio do salão. As mães em pavorosa, querendo apresentá-lo à suas filhas solteiras, o rodeiam pelo salão, chamando sua atenção, impedindo seu trajeto. Não consigo parar de olhar. Ele me pareceu incomodado, dando uma desculpa aqui, outra ali, um sorrisinho sem graça a outras, mas talvez esteja fazendo pose. Talvez ele goste de todo esse assédio, penso com desconforto.

     Percebo que minha amiga se remexe na cadeira e quando olha para mim diz: 

     - Olha quem está aqui do lado, Margareth. - diz com ar de desdém.

     Margareth Dashwood, filha de um marquês riquíssimo, é a mais desejada desta temporada. Os solteiros fazem fila para chamá-la para dançar e ela escolhe a dedo a quem irá conceder a próxima dança. Ela é linda e sabe que é. Ninguém a deixa esquecer-se desta qualidade. Com seus longos cabelos loiros, que hoje estão em ondas, todo de um lado só, e olhos azuis como safiras. Qualquer família a desejaria como nora.

     Quando a olho, ela está radiante, sorrindo, olhando para Julien como uma sereia querendo atrair sua presa e no mesmo instante sinto gelar meu coração. Ele está vindo vê-la, constato. "Como pude ser burra ao ponto de achar que um dia ele olharia para mim? Que estaria vindo falar comigo?" Faço um barulho com a garganta e Emilly percebe minha frustração, entendendo o mesmo que eu.

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