Capítulo 3 - Victoria

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     Caminho apressadamente para a saída do salão, pedindo perdão a um e outro em que esbarro sem querer. Preciso deixar de ser tão estabanada.

     Ao sair, vejo Hugo, meu irmão mais velho e Ben seu melhor amigo conversando em um canto. Recomponho-me antes de me aproximar.

     - Hugo! Olá Ben. - Cumprimento-os. - O que estão fazendo aqui isolados? O salão está cheio de moças querendo uma oportunidade para dançar. Não sejam egoístas. Eu mesma gostaria de ter um convite para uma dança, mas parece que os rapazes não estão muito interessados em mim. - falo, sentindo uma pontada de tristeza, relembrando da cena que acabou de acontecer. - Parece que TODOS só têm olhos para Margareth. - digo dando ênfase ao "todos" e em seguida revirando os olhos.

     Meu irmão olha para mim parecendo estar divertindo-se com meu drama e diz:

     - Seria uma honra dançar com a senhorita. - Fazendo uma mensura e minha vontade é de bater o leque nele, ali mesmo.

     Hugo é meu irmão mais velho, sou a mais próxima a ele em idade, e em seguida vem Violet, nossa irmã caçula. Ele é um solteiro convicto e ainda não pensa em se casar, aproveitando sua fama de libertino.

     Com minha proximidade com Hugo, sempre brincávamos muito juntos, me deixando, talvez um pouco moleca demais e desajeitada. Quando não estava brincando com meu irmão, estava lendo. Sempre amei muito ler, hoje leio mais romances. Talvez, estes, que tenha me deixado uma boba encantada por Julien.

     - Eu só tenho interesse em uma Dama esta noite. - Ouço Ben falar, olhando além de mim, com um sorriso cafajeste. Sou forçada a olhar sobre os ombros e vejo que Emilly está vindo em nossa direção.

     - Esta é a sua oportunidade de chamá-la para dançar, Ben. Tenho certeza que ela não irá recusar. Conheço minha amiga. - falo dando-lhe uma piscadinha cúmplice.

     - Victoria, aí está você! Tem que parar de sair correndo dos lugares. Está cada vez mais frequente. Não sei o que está acontecendo com você, ultimamente. - Só depois ela parece perceber a presença dos rapazes. - Cavalheiros. - fala, fazendo uma mensura.

     Ben é o primeiro a responder:

     - Senhorita Willams, é um prazer encontrá-la. - fala encantado. - Sua beleza, hoje, está ofuscando até a lua.

     Ela agradece ruborizada, dando-me a certeza de que minha amiga também está interessada nos galanteios dele.

     Emilly e eu somos amigas desde que tenho cinco anos e ela seis. Nossas mães são muito próximas e sempre que ia à minha casa levava-a para brincar comigo. Desde então, nossa amizade só fortaleceu. Ela é uma amiga divertida e não posso deixar de ressaltar, linda: ruiva, de pele alva, levemente rosada, com algumas sardas. Filha do Visconde Weymouth, já falecido. Ela é a filha mais velha, com mais três irmãs, indo o título para um primo que não mora na cidade. Mas por sorte, ele não deixou-as desamparadas.

     Ben, um galante loiro de olhos verdes, estudou com Hugo em Oxford e está em Londres a pedido do meu irmão, para acompanhá-lo ou ajudá-lo a fugir das casamenteiras, nesta temporada. Conheceu Emilly há pouco tempo, em uma de suas visitas, mas desde que a viu não fala em outro assunto.

     Minha amiga logo volta sua atenção a mim, como se lembrasse o que tinha vindo fazer.

     - Victoria vim lhe chamar para tomarmos um refresco. - diz puxando meu braço. Sustento meus pés no chão dizendo a ela que estou bem, que não preciso de um refresco, mas ela não me dá ouvidos e sai me puxando de volta para o salão, em direção à mesa onde estão as bebidas.

     - Emilly, você poderia me falar ao menos para quê esta pressa? - digo já ofegante, tentando passar desviando das pessoas, sem derrubar nenhuma. O baile hoje está incrivelmente lotado.

     Próximo à mesa, esbarro na Sra Lambert que estava parada tomando o seu refresco junto a Sra Turner, e ao desculpar-me vejo que deixei cair meu leque, que estava em minhas mãos. Abaixo-me para pegar e vejo que as senhoras estão saindo da minha frente. Pego o leque e ao me levantar dou de cara com olhos castanhos e um sorriso tímido, o mesmo dos meus pensamentos e sonhos. Julien D'Avignon. Olho para ele ruborizada, em seguida percebo que Emilly nos deixou a sós. Avisto minha amiga contendo uma risada levando uma taça de refresco aos lábios. Tento pedir "socorro" com o olhar, mas desta vez ela não compreende minha expressão ou finge não notar. Você me paga Emilly, por armar esta emboscada, penso chateada.

     Julien limpa a garganta como se para chamar a minha atenção ou quem sabe encorajá-lo a falar, e diz:

     - É um prazer tornar a vê-la senhorita... - E faz uma pausa especulativa, como quem espera que eu complete a frase.

     Engulo a minha vergonha e digo:

     - Rathbone, Victoria Rathbone. - digo baixando o olhar.

     - Julien... D'Avignon. No outro baile, não deu tempo de me apresentar antes que a senhorita fugisse. - Fala rindo, como se estivesse se divertindo às minhas custas.

     - Mais uma vez peço-lhe desculpas. - digo olhando para ele atrevidamente, desta vez, não gostando nada de estar divertindo-o com a minha falta de jeito.

     - Não foi nada. Esbarrar com a senhorita foi, de longe, a única coisa agradável de todo aquele baile. Não sou muito de ir aos bailes na minha cidade, na França. 

     - Creio que deva ser tão assediado quanto está sendo nos bailes em Londres. - falo sentindo-me nervosa e tola ao mesmo tempo, por estar curiosa para saber sobre Margareth. Espero que ele me responda.

     - Não tanto quanto estou aqui. - fala rindo. Dando-me aquele belo sorriso tímido. Aquele que faz meu coração dar um pulo, galopar no meu peito.

     Sinto-me inquieta. Tentei controlar as reações do meu corpo, mas sinto que estou fracassando. Estar aqui, falando com ele era tudo que ansiei durante essas semanas, mas ao mesmo tempo me sinto uma boba apaixonada ao lado dele. "Apaixonada? Está louca?" Por que eu pensei isso? Não posso estar apaixonada. Nem o conheço direito. Podemos não ter nada em comum... Preciso parar de ler tantos romances, estão me tornando naquelas mocinhas que se apaixonam no primeiro olhar. Não! Não sou assim. O que está acontecendo comigo?

     Julien me olha como se estivesse esperando alguma resposta. Não o ouvi, estava distraída demais me repreendendo.

     - Perdão; o que o senhor falou? - digo tentando me concentrar nas palavras do belo rapaz à
minha frente.

     - Perguntei se a senhorita já tem par para a próxima dança e se...

     - Não! - respondo rapidamente, interrompendo-o e me repreendo por parecer ansiosa demais. - Me desculpe.

     - Não tem par, ou não deseja dançar comigo? - perguntou confuso.

     - Não tenho par e sim, desejo dançar. - falo ruborizando e olho para minhas mãos, que ainda seguram o leque.

     Ele, definitivamente, não é como os solteiros de Londres. Talvez por morar no campo e conviver com pessoas mais simples. Ele não tem toda aquela pompa, nem formalidade dos londrinos. Ele não me parece se importar muito com convenções e etiquetas.

     A música recomeça e ele me conduz elegantemente ao salão, sob o olhar de todos.

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