Capítulo 5 - Julien

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     Após nossa dança, eu não poderia deixá-la ir. Precisava de mais tempo com Victoria. Sua mão trêmula ao encostar na minha, me deu a certeza de que ela estava tão afetada com a minha proximidade quanto eu.

     Das poucas vezes em que realmente aproveitei um baile, na minha cidade, eu dancei com uma donzela ou outra, mas nunca quis repeti-las. Sempre uma dança, sempre por cortesia ou formalidade. Minha mãe sempre me convidando a dançar com as filhas de suas conhecidas. “É... também tenho uma mãe casamenteira”. Penso achando graça. Mas só que nunca senti tanto prazer em estar com uma dama, quanto estou sentindo com a senhorita Rathbone. E sentir que ela estava totalmente entregue a mim, na dança, me deu encorajamento para convidá-la a tomarmos um ar no jardim da mansão e poder ficar um pouco mais a sós, sem aquelas pessoas todas nos olhando.

     Estou certo de que há um grupo de senhoras que só vão para este tipo de festa para reparar na vida das pessoas. Parece que sabem a fortuna de todos presentes. Analisam suas roupas, a forma como você se porta e com quem você dança. São de senhoras assim que eu fujo de me comprometer com suas filhas.

     Victoria caminha ao meu lado em silêncio, deve estar mergulhada em seus pensamentos tanto quanto eu.

     Ao avistar um banco vazio, convido-a a sentar-se comigo. Ela prontamente aceita. O jardim da mansão Woodhouse é imponente com suas sebes rodeando o espaço. Várias árvores frutíferas e flores de todas as cores e espécies. Victoria admira-as de onde estamos, até que diz:

     — Adoro as lavandas, são de aroma suave, sem ser forte demais, sem falar na sua cor lilás que deixa qualquer jardim delicado. — fala apontando para um canteiro que está repleto de flores de lavanda exalando com o vento seu perfume.

     Nós moramos no campo, minha família e eu. Meu pai herdou o vinhedo do meu avô e futuramente será meu. Com isso tenho uma ligação muito grande com a natureza. Cresci brincando por entre as videiras com Jean, meu amigo. Comíamos escondidos as uvas diretamente do pé. Riamos muito. Às vezes, tenho saudade dessa época. — digo com ar nostálgico, mas logo me endireitando, sem entender porquê comecei a falar isso tudo. — Me desculpe, falei demais sobre mim, sem lhe dar a chance de falar. — É tão fácil conversar com a senhorita Rathbone, a sua calma e seu jeito nada afetado, me tranquiliza e me encoraja até, penso.
  
     — Não se desculpe, eu estava gostando. Fico feliz que sinta confiança em mim para se abrir e contar recordações. Gostaria de ter lhe conhecido nessa época, deveria ser divertido brincar em meio às árvores, sem se preocupar com etiqueta, ou em sujar a roupa. Nós sempre tivemos governanta, preceptoras, pessoas que gostavam de nos regular. Eu sempre que podia me escondia delas. Sentia medo, às vezes. — Confessa. — Eu e Hugo, meu irmão, mais velho, apenas três anos, sempre aprontávamos muito.

     Vejo-a sorrir e não posso me conter, acompanho o seu sorriso. Ela fica linda quando sorri, seus olhos fecham levemente, mas ainda assim dá para ver um brilho travesso. Talvez esteja envergonhada com lembrança. Me pego pensando como seria agradável guiá-la num passeio pelo vinhedo. “Tenha calma, D'Avignon.”, me repreendo pelo pensamento. Será difícil esquecê-la quando voltar para a França. Abaixo a cabeça para mirar meus pés, com a idéia de que em breve voltarei para casa e talvez nunca torne a vê-la.

     De repente ela sobressalta e solta um leve grito de susto ou de medo, não sei. Olho-a confuso, não sei o que houve, o que a fez se sobressaltar, talvez algum inseto. Mas, a verdade é que, neste momento não consigo mais formular frase alguma, na minha mente, só consigo olhar para aqueles olhos que me encaram falando mais no seu silêncio do que qualquer frase bem feita. Ao sobressaltar, ela se aproximou de mim no banco. Agora estamos cara a cara, olho no olho e posso sentir o magnetismo que há entre nós.

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