Janelas

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Eu realmente não esperava que a chuva estivesse tão fria naquela manhã. Pequenas gotas de chuva se acumulavam nos vidrais do meu quarto enquanto que algumas ainda entravam pela janela semi aberta e molhavam minha face que contemplava para cima em direção as nuvens cinzentas. 

É tão poético pensar que chuva pudesse ser comparado ao choro humano, como se fosse possível criar alguma empatia entre nós simples mortais e alguma entidade muito superior. E talvez esse seja o segredo, pensar que algo tão belo e singelo como a chuva fria de uma manhã de outono pudesse ser comparada as minhas lágrimas. Se algo tão grandioso como os Céus podem se dar ao direito de chorar, então por quê eu também não poderia?

As lágrimas celestes, expressas por algum ser muito superior a mim e minhas próprias lágrimas se misturaram conforme me lembro de coisas que talvez jamais existiram de fato, contemplando o movimento das nuvens, as memórias vem e vão como fantasmas em breves e dolorosos. Momentos onde sou capaz de experimentar sensações como raiva, solidão, tristeza, euforia, revolta, ódio.  Talvez os únicos momentos nos quais eu seja realmente capaz de sentir algo.

Tudo começa com a respiração ficando lentamente mais pesada como se houvesse um peso sobre os pulmões e eles fossem pressionados contra grandes blocos de concreto, seguidos pela incomoda sensação da falta de algo, como se estivesse faltando a centelha definitiva, o algoritmo final, o último passo da dança, a despedida final, incompleto, inconcluído, nada poderia ser pior do que essa sensação.  Por fim a dor na garganta, feridas abertas por palavras jamais pronunciadas que se calaram para toda a eternidade. E desta dor invisível as inevitáveis lágrimas por algo que jamais saberei ao certo. 

Abandonei as frias lágrimas na janela, deixei-as juntas com minhas memórias. Novamente em minha clausura torno-me novamente cego e insensível as nuances do tempo, até finalmente decidir abrir as janelas novamente.






O Livro das Memórias RubrasWhere stories live. Discover now