Blues de Cheongdam (Simon Dominic)

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No 34° andar de um dos prédios mais caros de Cheongdam dá para ver a bela vista do rio han, por certo tempo para que fiz certo só gastar toda aquela grana vindo para cá, acreditando em falsas promessas de paz e tranquilidade. Apenas por um tempo.
Depois de bater na mesma tecla de ir ou não acabo por decidir mais uma vez ficar apenas comigo e minha solidão. Pareço desprezível até mesmo em pensamentos.
No ápice da madrugada a lua encontra-se perdida entre as escuras nuvens do céu de Seul e não à uma estrela sequer para iluminar alguma coisa no céu e isso é uma grande merda.
Fecho meus olhos por algum tempo, jogado no tapete da varanda desejando parar de respirar ou ser atingido por um raio... Meu celular vibra e preguiçosamente o retiro do bolso frontal de meu jeans.
Era Jaebeom, como sempre sendo insistente e inconveniente quando não deveria. Apenas ignorei a chamada e larguei o celular em qualquer canto no chão. Estava inerte em meus próprios pensamentos quando ouço aquela voz.

Umpah umpah
Umpah umpah
Você está se sentindo sufocado e asfixiado.
É verdade que está se apaixonando por mim?

Procuro rapidamente o maldito controle e ele simplesmente some, eu não poderia olha-la, não poderia, não... Continuava linda, cada vez mais linda e.... O controle estava o tempo todo em minha mão.
Eu vou enlouquecer ou já estou louco.
O fantasma daquele amor voltava com tudo para me assombrar, todas as noites em Cheongdam.
Maldito corretor, maldita imobiliária.


- Então você quer se tornar rapper? - Pergunto observando a garota a minha frente. Ela parecia está na defensiva e ser bastante tímida, até abrir a boca.

- Eu sou rapper, apenas me sugeriram que tivesse aulas com alguém como você. - Seu tom de voz era firme e seus olhos pareciam penetrar em minha alma.

- Muito prazer, é.... Qual é mesmo o seu nome?

Maldita seja ela e todo o seu encanto.
Foram três longos anos e ela continuava a mesma, alheia a tudo e todos, com sua típica máscara de felicidade em sua face, dançando e cantando como toda boa e dedicada ídol faz.
A garrafa de vodka encontrasse quase seca e isso me faz lembrar que já bebi demais.
Ouço o irritante toque de meu celular em alguma parte da sala e tento ao máximo ignorar, não irei encontrar com ninguém essa noite.
Caminho sem pressa até meu quarto com a garrafa em mãos, um gole vez ou outra e a amargura cada vez mais explícita em minha cara, o espelho mostra todas as cicatrizes que a vida me deixou.

- Jung Ki-seok você está acabado. -Digo a mim mesmo.

- Jung Ki-seok não seja um velho rabugento, vamos lá eu só disse que admiro o trabalho de sei colega não é como se fosse te largar pra ficar com ele!!  - Recebi um tapa nas costas e essa era sua maneira de dizer eu te amo.

- Você poderia ser um pouco mais fofa? - Ela revira os olhos e chuta minha perna.

- Você sabe o quanto eu sou fofa Jung Ki-seok oppa. - Ela sorriu e eu me senti o filho da puta mais sortudo desse mundo.


Minha sorte não durou muito e eu com meus idiotas pensamentos quebrei e afastei a garota que amava, a única que chegou a conhecer todo o meu ser, que me viu do melhor ao pior.
Mas que droga.
Eu poderia telefonar.
Uma mensagem.
Ela ainda usa o mesmo número?
Com esse pensamento bebi até o único gole de vodka da garrafa e voltei a sala, busquei meu celular no chão e com dificuldade o desboqueie-o abrindo o aplicativo do Instagram, ela era a pesquisa mais recente e a mais visitada. Passava meu tempo vendo coisas sobre ela e visitando suas redes sociais, de certa forma aquecia meu coração ver o rosto dela, mesmo que negasse, mesmo que repudiasse vê-la na tv, ainda era e sempre por ela que meu coração batia.
Queria apresentá-la para minha mãe, mas infelizmente nunca aconteceria, pois eu fui o único culpado por ter criado um muro tão alto entre mim e a garota que era boa comigo.

- Você não pode estar falando sério, Ki-seok! - Gritou atravessando a sala da minha casa.

- Eu não posso mais viver assim, não quero namorar alguém que não pode se mostrar ao mundo ao meu lado. - Era a maior mentira que eu já havia contado. Estava pouco me importando sobre mostrar ela ao mundo ou não.
Eu a amava tanto.

- Está me pedindo para escolher entre você e a minha cara como ídol? Ki-seok por Deus! - Ela recolhia as peças de suas roupas esplanadas pelo sofá.

- Não. - Ela para e me olha, continuo sentindo uma amargura interna me corroer.- Estou te dizendo para ir e esquecer meu endereço e meu nome.

Seus olhos, seus belos olhos castanhos quase negros me olharam com dor e algo a mais, algo que eu jamais saberia do que se tratava e tinha até medo de saber.
E foi então que ela partiu sem dizer mais nada.

Eu nunca tive muita sorte e naquele dia perdia a que me sobrava.
E agora, em Cheongdam, olhar a vista do rio é tudo o que tenho.

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