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   — Quantas mulheres loiras de olhos azuis e com escamas pretas existem em Estera? — Brian sentou no sofá, ainda com a carta em mãos.

   — Eu não sei... Você parece mal.

   — Ele sabia que as chances dele morrer se fosse atrás dos Storaks eram enormes... Droga. — Brian suspirou. — A gente tem que pegar essa Ma Aruy.

   — Ele especificou o tipo da concha no colar dela não é? — Roger se aproximou do marido, o abraçando para tentar deixá-lo um pouco melhor.

    — Essa pode ser uma boa pista. — O tritão suspirou. — Vou colocar todos os soldados de Estera atrás dessa megera, não tem como não acharmos ela, vou varrer o oceano inteiro se for necessário.

   A porta do banheiro se abriu, Paul evitou mostrar o rosto e respirou fundo, indo até o casal no sofá.

   — Preciso ir. — Ele disse com a voz embriagada.

   — Antes disso, mais uma coisa. — Brian tirou o cristal do bolso, mostrando a mesma faixa de luz, que ia longe. — Enquanto essa luz estiver acessa, ele está vivo.

   O tritão tentou sorrir amigável, entregando a carta para o homem. Certo, eles não se davam muito bem, mas ele não era insensível.

    — Eu vou trancar a porta. — Roger se levantou, deixando o esposo no sofá.

   Enquanto Roger levava o visitante até a saída, Brian teve um tempo minúsculo para pensar no que fazer. Já haviam enviado alguém até Estera Maris para hipnotizá-lo, queriam invadir sua mente para que ele usasse seu poder de forma errada, e estavam usando Roger para ameaçá-lo, era a alternativa que mais fazia sentido para o líder.

   Mesmo que ele estivesse errado.

   Assim que o loiro voltou, Brian deixou uma coisa bem clara ali, para a segurança do esposo.

   — Querido, lembra que eu disse que tentaram me hipnotizar lá em Estera? Eles vão atacar lá, então a partir de hoje até essa situação estar controlada, eu te proíbo de pisar em Estera Maris. — Brian se levantou.

   — Está proibindo isso como marido ou como líder? — Roger arqueou uma sombrancelha.

   — Como seu marido não posso te proibir de nada, então como líder. — O tritão passou a mão por seus cachos. — Amanhã vou para Estera Maris bem cedo, é provável que a Lury vai estar aqui quando você acordar...

   — Amor...

   — O que é?

   — Seus olhos...

   Brian nem percebeu que estava começando a se estressar, assim que olhou para o reflexo da televisão, viu seus olhos brilhando em um azul vivo.

   Imediatamente, soltou as lágrimas, tão azuis e brilhantes quanto seus olhos estavam.

   — Eu não consigo! — Ele sentou no sofá, cobrindo o rosto. — Eu vou machucar todo mundo de novo!

   — Não vai não. — Roger sentou ao lado dele, o abraçando. — Você vai conseguir.

   — É a humanidade em risco amor, um exército muitas vezes maior que o de Estera Maris e um líder descontrolado no comando, como acha que eu vou reagir à batalha?! Eu achei que o Lawrence era um traidor, e ele pode ser morto a qualquer momento, ele confiou em mim para impedir o grande plano Storak, todos os que eu conheço estão dependendo disso... Eu não posso! — Ele afundou a cabeça no ombro do esposo.

   Roger respirou bem fundo, pensando no que poderia fazer naquela situação. Até ter uma ideia.

   Ele se levantou, foi até a cozinha, deixando que o esposo chorasse um pouco, depois voltou com um pote de sorvete de menta com chocolate e uma colher. Pegou uma colherada de sorvete e deu na boca do marido, vendo ele ficar surpreso com aquilo.

   — Eu não sei se isso vai ajudar, mas eu acho que você fica muito fofo com a boca suja de sorvete. — Roger pegou outra colherada, fazendo a mesma coisa. — E esse é o seu sabor favorito não é?

   Brian assentiu com a cabeça, secando as lágrimas e tentando se acalmar, diante daquela atitude adorável do esposo.

   — Você vai pra água amanhã resolver isso, eu vou ficar com a Lury aqui em casa e tudo vai dar certo. — Dessa vez, o loiro foi quem tomou um pouco do sorvete.

   — Certo, eu não posso deixar meu medo dos meus próprios poderes me impedir... Quem eu tô querendo enganar! Eu sou uma bomba relógio!

   Brian derramou mais algumas lágrimas, recebendo outra colherada de sorvete na boca.

   — Você não é nada disso! Você é o líder mais perfeito e humilde que aquele cardume já teve, você vai dar um jeito nas coisas. — Roger secou as lágrimas dele, vendo o tritão esboçar um sorrisinho. — Quer colocar um filme e acabar esse pote de sorvete comigo?

   — Claro. — Brian riu, deixando um beijo na testa do esposo.

   Ele não podia perdê-lo, de maneira alguma.

•••

   Uma certa mulher estava caminhando na rua, atenta à uma casa específica, e ela sorriu ao ver que aquele loiro que ela procurava estava na varanda, juntamente com um homem de bigode que ela também viu na foto.

   — Achei você... — Ela deu um sorrisinho.

   Ma Aruy ficou observando, até o loiro entrar em casa e o outro homem sair andando, era realmente ele, a chave para que o grande plano de seu pai funcionasse estava ali. Mas ela não poderia simplesmente aparecer lá, o líder de Estera Maris deveria estar por perto, seria muito arriscado.

   Mas tudo bem, desde que fosse para colocar as mãos no loiro, ela poderia esperar. Ela se afastou da casa, ficando atrás de uma casa e segurando seu colar com força e fechando os olhos.

   Quando abriu os olhos, estava em sua casa, no mar mediterrâneo, Ma Aruy não manipulava água, porém era boa em controle da mente e conseguia se teleportar para qualquer lugar do oceano, desde que estivesse com o colar.

   Já que ela tinha achado o marido do líder, ela resolveu conversar um pouquinho com um prisioneiro, que quase fora seu noivo.

   Assim que entrou na cela, viu Lawrence, preso ao teto com os pulsos, o seu corpo magro e ferido estava pendurado, a pele extremamente branca deixava os ferimentos ainda mais visíveis, e também havia um peso em sua cauda, impedindo que ele a movimentasse com mais liberdade.

   O loiro abriu os olhos quando sentiu a presença dela.

   — O que você quer de mim?

   — Só vim te agradecer, eu achei o humano que precisava graças às suas memórias. — Lawrence tentou se soltar ouvindo aquilo. — E pensar que poderíamos ter nos casado, isso antes de eu descobrir que seu sangue é sujo...

   — Não gosto de sereias mais velhas, nem de sereias mais novas, acho que não gosto de sereias. — Mesmo fraco, ele tentou rir um pouquinho. — E ninguém da nobreza Storak casa por amor, são trocas de poder, você queria minha dominação de gelo para dominar o Ártico...

   — E talvez para prender todos os humanos embaixo do gelo, quando todo o mar avançasse contra a terra... Tem que admitir, é uma maneira interessante de matar os humanos. — Ela deu um risinho. — Você deveria ficar feliz, vai ganhar um companheiro de cela em breve.

   — O Brian não deixaria isso acontecer...

   — Deixaria, ele acha que eu vou atacá-lo na água, mas eu sei usar minhas pernas muito bem.

    Ela foi até a porta da cela, dando uma última olhada para trás.

   — A execução de vocês dois será em dois dias, em algumas pedras perto daqui, estou curiosa para saber quem se machuca mais com o fogo; um tritão naturalizado no gelo ou um humano?

Beyond The Sea 2 • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora