Blood and Fire

PRÓLOGO

Eu não sei em qual momento exato aconteceu.

Não foi a primeira vista, não foi de um dia para o outro, foi uma construção. Uma preciosa construção. Um sentimento que cresceu pouco a pouco sem que eu o notasse e então, simplesmente, eu o amava.

E então, simplesmente, eu precisava dele.

Não, eu não preciso dele para viver. Não, você não pode precisar de ninguém. Não, não atrele sua felicidade à necessidade de alguém. Não, não faça isso. Mas sim, com ele sou mais feliz. Sim, sem ele me sinto infeliz. Sim, não posso perdê-lo agora, não posso perdê-lo aqui.

Não posso. Não posso. Não posso.

Não posso deixá-lo morrer. Não posso me mexer. Estou presa, estou fraca. Minha visão está turva e está tudo girando, mas ainda assim não consigo desprender meus olhos do rosto dele.

Seus olhos estão fechados, talvez ele esteja sonhando. Talvez seus sonhos sejam bons, talvez seus sonhos sejam comigo. Sua expressão aparenta tranqüilidade, em nada combinando com o sangue que escorre de sua cabeça, com a sujeira no chão ao qual está deitado, caído.

Seu rosto, tão bonito, transmite calma. Em nada condizente com o estado a que nos encontramos agora. Em nítido contraste com a arma apontada para sua cabeça enquanto outra pessoa ri de maneira histérica e grita comigo.

Não consigo entender direito as palavras ditas, só consigo reconhecer a ameaça.

Vou matá-lo. Vou matá-lo. Sim, sim! Irei matá-lo, agora.

Uma voz femininatambém grita. Talvez seja a minha, talvez meus pensamentos estejam sendoexpostos, mas a droga está em todo o meu corpo, não consigo me mover, não seise consigo falar. Mas consigo pensar, consigo sentir o desespero em cada partede meu corpo e as palavras gritantes em minha mente.

Não. Não. Não. Não. Não. Não.

Não o mate.

Meu corpo parece queimar. É o meu poder tentando extravasar como resposta aosmeus sentimentos tempestivos, mas eles simplesmente não encontram liberdade.Estou presa dentro da minha própria mente, incapaz de me mover, com os olhosfixos no rosto do homem que amo, enquanto o vejo a beira da morte.

E eu sou incapaz de fazer qualquer coisa quando ouço o tiro.