Blood and Fire

CAPÍTULO 4

Acordei novamente com Jack me chamando. Dessa vez, porém, sua voz era alarmante. Enquanto eu lutava contra a inconsciência ela já estava abrindo as janelas e falando sem parar como se eu estivesse prestando atenção.

— Agora, May! — ela exclamou, enfim, me olhando com uma careta.

Me sentei na cama, instintivamente levando a mão até minha nuca, onde ontem havia uma ferida.

— Você está bem? — ela perguntou e eu rapidamente assenti com a cabeça. — Então levanta logo. O diretor quer falar com a gente.

— Que?! O que ele quer?

O diretor do Instituo Alpha não era conhecido por ser dos mais receptivos. Pelo contrário, era um homem sistemático e arrogante. Seu trabalho era exemplar, mas ele nos regia com mãos de ferro, talvez por isso éramos a academia mutante mais forte da atualidade. De qualquer forma, conversar com ele não era algo que me agradava e, se ele queria falar conosco, boa coisa não devia ser.

— É o que eu quero saber, então ande logo. Vou ir pegar café.

Jack logo saiu do quarto e me deixou a sós enquanto eu me trocava as pressas, colocando o uniforme comum. Saia xadrez preta, camisa branca, blazer preto por cima e meias que subiam até acima do joelho. Calcei meu all star amarelo e observei minha aparência no espelho enquanto penteava os cabelos.

Esse uniforme era um clichê completo, como se ainda fossemos crianças aprendendo geografia e história ao invés de lutando um com os outros até uma quase morte. Porém, eu gostava. Havia a versão de calça para as garotas, mas eu às vezes apreciava o ato de me sentir como uma garota normal indo para uma escola normal usando meias altas, tênis velhos e gloss nos lábios.

Sorri para meu reflexo.

Considerando que eu havia quase morrido no dia anterior, eu estava me sentindo bem. As madeixas louras de meu cabelo estavam sedosas e devidamente ajeitadas ao redor do rosto fino. Se havia algo que eu sempre havia gostado em mim era o meu cabelo, tão claro que muitas vezes era comparado com o próprio branco, em contraste com os olhos mais escuros de um tom castanho mel que podia ser facilmente comparado ao dourado. Minha pele sempre tão clara estava levemente ruborizada, marcas de sol que me deixavam com um aspecto mais saudável.

— Vamos logo, toma no caminho. — Jack entrou já dizendo.

Sequer me deixou chances de contestar antes de me entregar um copo com um líquido quente e me puxar pelos corredores.

Provei a bebida e sorri ao sentir o gosto doce do chocolate quente. Jack sabia que eu detestava café.

Permaneci em silêncio, aproveitando minha bebida doce e tentando não pensar no que estaria por vir, afinal eu tinha tendência a ficar nervosa com situações desse tipo. A ansiedade era sempre uma inimiga. Fingir que está tudo bem é um remédio temporário, mas em casos rápidos desse tipo, eficientes.

Quando me dei conta Jack já estava dando duas batidas na porta da sala do diretor, a qual foi aberta imediatamente.

Adentramos a sala e não pude evitar deixar meus olhos percorrerem o recinto com curiosidade.

Era grande. Provavelmente duas ou três  vezes o tamanho do quarto que eu dividia com minha amiga. As paredes continham estantes repletas de livros, quadros e medalhas. A mesa dele era enorme, com papéis por todos os lados. O sofá, branco. Assim como a maioria dos móveis em tons claros, passando uma impressão de pureza, em contraste direto com o homem que nos observava de expressão fechada atrás de sua mesa.

O diretor, Barry Lothr, era um homem grande e extremamente bonito no auge de seus quarenta anos. Cabelos castanhos, olhos cinzentos e um maxilar bem desenhado, o dava uma aparência dura, bastante atraente.