Blood and Fire

CAPÍTULO 5

Saímos juntos da sala do diretor. O silêncio era quase palpável. Meus pensamentos estavam uma confusão, não conseguia formular uma opinião sólida sobre o assunto.

Por um lado, este era o meu país e, desde criança, o patriotismo nos foi imposto. A guerra iminente ameaça não apenas nosso território, mas todos aqueles que nele residem, o pouco da minha família que ainda me restou, meus amigos, eu própria.

Foi nos ensinado a odiar o inimigo, aquele que quer roubar tudo o que construímos com tanto esforço, aquele que trouxe fim a nossa paz, aquele que forçou um governo totalitário a assumir o poder, a fim de nos manter seguros, nos manter fortes e unidos.

Mas as linhas entre o bem e o mal sempre foram tangíveis, e agora mais do que nunca. De repente, me dizem que o inimigo é aquele que está morando ao meu lado. Aqueles com qual estudo, aqueles com qual cresci. De repente, me dizem que eles são piores do que os inimigos.

"Os traidores são os piores", Richard disse.

E, de repente, isso parece tão verídico. Eu sempre odiei mentiras, mas isso vai além, pois, se for realmente verdade, eles estão mais do que mentindo, estão mentindo e vendendo informações para pessoas que querem acabar com todos nós. Querem acabar com nossa nação. Com todo o esforço de séculos que nos tornou na potência que somos hoje. Acabar com nossas vidas

Isso é repudiável. Totalmente repudiável.

Mas, por outro lado...

São apenas jovens. Alice e Cassie têm a minha idade, apenas dezessete anos. Os outros não possuem muito mais. E, acima disso, são pessoas que conheço, pessoas que eu gosto. Pessoas com quem cresci... O nome de Gareth é o que mais me causa um turbilhão de sentimentos.

Gareth Walcott, seu sorriso está marcado em minhas memórias. O sorriso de animação quando nos encontrávamos, ainda crianças. O sorriso travesso quando me pregava alguma peça. O sorriso de orgulho quando me viu manifestar meus poderes. O sorriso melancólico quando disse que ainda seríamos amigos, um dia antes de eu me mudar para a capital e nunca mais ter contato com ele. Não até nos encontrarmos novamente no Instituto Alpha, mas dessa vez ele não sorriu.

Gareth era meu amigo. Foi uma surpresa encontrá-lo no Instituto, e eu tentei conversar com ele em diversas ocasiões. Mas o garoto que eu havia conhecido na infância já não era mais o mesmo. Ele se tornara arrogante e maldoso. Ainda era divertido, por isso atraía amizades com facilidade. Mas em relação a mim, ele não me deixou entrar novamente em sua vida e eu não entendi o por quê. Nunca perdia uma oportunidade de me provocar ou caçoar. Entretanto... Ele ainda havia sido meu amigo. Ainda é o filho da mulher que foi por toda a vida a melhor amiga de minha mãe. Ainda é Gareth.

E agora estão me dizendo que ele é um traidor. Estão me dizendo que devo espioná-lo e eu não estou ouvindo direito, não consigo manter o foco. A Décima Primeira Liga está conversando. Daemon está explicando alguma coisa, mas não consigo prestar a atenção. Meus pensamentos estão tomando meus ouvidos e minha visão apenas está fixa em minhas mãos enquanto eu repito sem parar em minha cabeça:

Não. Não. Não. Não.

— Maeve! — Daemon chamou, irritado.

Fui puxada de meus devaneios e rapidamente elevei os olhos até os do garoto que amo. Seus olhos azuis demonstrando mais intensidade do que o normal.

Se eu não estivesse tão apática teria me surpreendido por ele estar falando diretamente comigo. Mas apenas fitei seu rosto com confusão, esperando que alguém me explicasse o que estava acontecendo.

— Ela não estava ouvindo. — Loretta explicou, me lançando um olhar de preocupação.

Como sempre, ela sabia o que atormentava meus pensamentos.