Vermelho - Saga De Karon

XIV

   Quando voltei os olhos para ele, estava estampando no rosto o maior sorriso que meus lábios poderiam reproduzir e ele como o esperado havia recuado alguns passos de mim mantendo seu olhos tempestuosos colados nos meus.

-Você é uma Duquesa? - sussurrou com a mão sobre a boca.

-Tecnicamente era para eu ser já que era a mais velha, mas acredito que depois de duzentos anos meu tempo de ducado já tenha chegado ao fim. - apenas dou de ombros antes de olhar em seus olhos confusos e ronronar -Não se preocupe com formalidades Príncipe, eu neguei meu nome a séculos e bem... minha geração já não vive mais o que me leva a ser apenas eu.

   Digo levemente ao passar por ele e caminhar seguindo a pequena estrada que levava até a entrada da cidade mas tenho a caminhada interrompida quando a mão de Lucian se prende em meu braço me fazendo parar, me viro pronta para manda-lo soltar mas o  mesmo pressiona os dedos nos lábios em sinal de silencio e me puxa para a direção contraria. Andamos alguns metros até a parte de trás de algumas construções , me mantenho calada mesmo querendo do fundo do meu ser fazer ele me soltar. Passamos por algumas ruas escuras assim que adentramos a cidade, evitando as pessoas e desse meio os soldados que patrulhavam as ruas tomadas pelos comerciantes e bardos que se preparavam para mais uma noite de trabalho.

   Sigo Lucian até que o mesmo para no fundo de uma simples e pequena construção de cor bege, as luzes apagadas deixava claro que a loja estava fechada, me inclinei para sua lateral o bastante para ver uma pequena placa de madeira com o desenho de um belo terno acompanhado de um vestido rodado talhados em riscas negras, o nome ATELIER formando um arco sobre ambas as imagens. Volto minha atenção para Lucian assim que ouço o barulho da tranca abrir, Lucian permanece imóvel até a porta ser aberta revelando para minha surpresa um homem alto e sonolento que nos recebe, seus olhos verdes passam de mim para Lucian se arregalando, quase não vejo quando suas mãos voam como cobras agarrando tanto a mim quanto a Lucian e nos puxa para dentro trancando a porta em seguida. Arrumo a postura e encaro quando as luzes são acesas revelando o agitado homem de cabelos dourados e expressões belicimas. O estranho encara Lucian como se o mesmo fosse uma aparição e quando eu penso que nada pode ficar mais estranho, o louro acerta o peito de Lucian com um soco muito bem dado que faz o moreno cair sobre uma pequena mesa.

-SEU GRANDE IDIOTA ONDE SE METEU? PENSEI QUE TIVESSE MORRIDO SEU MISERÁVEL - grita, a voz não passava de um rugido furioso - Eu poderia matar você com minhas próprias mãos seu bastardo irresponsável.

   Lucian  força o corpo para frente soltando um gemido dolorido ao se sentar sobre a mobília, não parece incomodado com os insultos muito menos com o estranho prestes a voar sobre sua garganta, quando fala seu tom arrastado sai mais contemplativo do que irritado.

-Se acalme Christian - murmura o maior - Vai alertar a vizinhança toda seu escandaloso.

   O outro parece se recompor passando as mãos pelos cabelos, estranhamente não consigo tirar meus olhos dele, existe um ditado nos livros que falam que dragões gostam de coisas que brilham, eu claro nunca acreditei por ser óbvio que é somente suposição, porém sou atraída pelos fios cor de ouro que brilham a ponto de só reparar que tinha os tocado quando o dono surpreso se vira para mim.

-Belo. - solto em um sussurro sem perceber. 

   Ele abre um sorriso corado diante minhas palavras o que me faz tapar a boca com ambas as mãos ainda sim ele segura minha mão direita a puxando para ele onde o deposita um beijo calvo e suave. 

-Christian ao seu dispor jovem dama - ronrona de forma arrastada e que me faz sorrir levemente.

   Nesse momento sinto um frio subir por minha espinha no momento em que a mão de Lucian surge agarrando o pulso do loiro que solta minha mão. O moreno sustenta os olhos verdes de Christian de maneira assustadoramente sugestiva o que arranca um riso do menor, um riso debochado ao mesmo tempo em que mostra suas mãos para Lucian em sinal de rendição.