Richard
Eu ainda custava a acreditar que minutos atrás estava à beira da morte e agora não só estava bem vivo como tinha o amor da mulher a quem eu amava. A vida – ou a quase morte – podia trazer surpresas impensáveis.
— Esse sorriso pateta já está me enjoando. — Henrique me olhava de soslaio enquanto eu o ajudava a andar.
— Vai se acostumando... ou pode olhar para o outro lado, se quiser — devolvi em meu português com muito sotaque, fazendo-o rir e contorcer o rosto em uma careta ao mesmo tempo.
Evangeline seguia na frente e de repente, a ouvimos gritar. Armando e eu nos entreolhamos. O que poderia ter acontecido para fazê-la gritar daquela forma? Seria algum outro vampiro? Meu sangue praticamente gelou nas veias.
— Vá! Vou ficar bem.
Henrique não precisou falar duas vezes pois eu já o havia deixado e corria como se minha vida dependesse daquilo. Pouco mais à frente, vi Evangeline acuada contra a parede da igreja, a mão no peito, olhos tão grandes quanto pires. O que estivesse escondido na vegetação, a aterrorizava como eu nunca havia visto antes.
Avancei na mesma intensidade de meu desespero, pegando um pedaço de pau no meio do caminho e parei a seu lado, preparado para dar minha vida, se fosse o caso. Olhei para a vegetação e...nada! Não havia nenhuma criatura das trevas ali, mas Evangeline continuava petrificada. Então ela apontou com o dedo indicador para um lugar logo à frente, mais especificamente, no chão.
— Uma barata? — indaguei, incrédulo e olhando entre ela e o inseto.
— Mate esse monstro! Mate agora mesmo! — e fechou os olhos, gritando de pavor.
Enquanto eu sentia o "creck" abaixo da sola do meu sapato, Evangeline se pendurava em mim, beijando-me por todo o rosto.
— Obrigada. Obrigada — dizia, entre um beijo e outro, enquanto eu ria com vontade. — O que foi? Por que está rindo?
— Evangeline Van Helsing, caçadora de vampiros, com medo de...baratas? — Eu a enlacei pela cintura, admirando seus grandes olhos cintilantes.
— Antes de tudo, sou uma mulher, oras!
Acariciei seu rosto querido antes de tomar-lhe os lábios uma vez mais. Eu a amava, por sua coragem e agora, por seus medos. Por inteiro.
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De Amor & Sombras
Storie breviRio de Janeiro, 1889. Toda a nata da elite carioca se reunia em um dos bailes mais disputados da corte imperial. Entre vasos franceses raros e muita fartura, enquanto os convidados admiravam a mais nova tecnologia - lanternas venezianas alimentadas...