𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟷𝟶

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𝚂𝚎𝚞𝙽𝚘𝚖𝚎

Engoli a seco sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto, sentindo o gosto amargo da traição invadir o fundo da minha garganta, oh Noah, você já partiu o meu coração.

"Hey." falou estacionando o carro e se virando para mim "Não chore baby."
"Não estou chorando." murmurei tentando me recompor.

Noah arqueou as sobrancelhas se inclinando em minha direção e unindo os nossos lábios em um toque suave, fazendo uma corrente elétrica passar por todo o meu corpo, ainda estava apaixonada por ele, ainda sentia necessidade pelo beijo dele, meu corpo ainda sentia o corpo de Noah.

"Eu não quero que você parta o meu coração." sussurrei sentindo um nó se instalar na minha garganta.
"Eu não irei." falou passando a mão de leve pelo meu rosto.
"Mais se você já tiver partido?"

Senti que a minha voz havia saído de forma esganiçada, quase em um tom quase deplorável de desespero, talvez eu realmente estivesse desesperada.
Observei Noah engolir a seco, seus dedos batiam de forma frenética em sua coxa, no ritmo da música que saía das caixas de som, a ficha dele havia caído, ele havia percebido.

"Faz quanto tempo?" perguntou baixo.
"Soube ontem de tarde, na lavanderia, escutei você conversando com os meninos."

Um nó se instalou na minha garganta, dificultando a minha respiração, algo em mim parecia pronto para explodir a qualquer instante, ou talvez fosse a sensação de perceber que eu nunca havia tido Noah para mim.

"Isso não importa, oque importa é eu e você, e nós nos amamos."

Senti Noah tocar o meu rosto, oque me fez encolher quase como um animal ferido contra a porta do carro, o toque dele parecia mil facas afiadas contra a minha pele.

"Isso não é amor." murmurei "Amor não machuca, não mente, não te destrói Noah."
"Eu fui um idiota, eu sei disso, só que eu também sei que eu te amo." falou segurando a minha mão "Eu amo você, todos os detalhes, a forma que você canta todas as músicas de Rocky Horror ou como você odeia pessoas que não colocam ketchup na pizza, eu amo a sua inteligência, seu mau humor, seu rosto, eu amo você, então eu tô te pedindo..."

Noah fez uma pequena pausa me encarando de forma profunda, algumas lágrimas desciam pela sua bochecha e o seu lábio superior tremia, mostrando o quão ele estava se segurando para não cair no choro naquele momento.

"Por favor, não me deixe, não vá embora."

Minha visão ficou embaçada, me obrigando a passar as mangas do vestido de forma rápida antes de criar coragem de olhar para ele.
Sentia que em qualquer momento poderia cair no choro, que pediria para ele dirigir para o mais longe dali, sentia que poderia ignorar o fato dele estar sendo pago para sair comigo, de que haviam me monopolizado como se fosse um produto.

"(SeuApelido)... baby..." murmurou com a voz embargada.
"Nunca mais quero te ver na minha frente Noah." falei firme "Você nunca foi nada, para ninguém, e nunca vai ser, não foi para a sua mãe e nunca foi para mim."

Abri a porta do carro sentindo as gotas de chuva grossas caírem sobre a minha pele enquanto eu caminhava pela calçada, me sentia um lixo, meu coração gritava para que eu voltasse e pedisse desculpas, para que eu falasse para Noah o quão importante ele era para mim, e que eu o amava, que ele era sim alguém, e que um dia ele seria uma grande pessoa, que ele poderia mover montanhas, quase que literalmente, porém não o fiz, apenas continuei o meu caminho deixando a chuva se misturar com as lágrimas que caíam livremente pelo meu rosto.
Havia cumprido a promessa, havia partido o coração dele, e me sentia horrível por causa disso.

[...]

Coloquei os pés dentro de casa sentindo o cheiro de lavanda revirar o meu estômago, o carro de Noah tinha o mesmo cheiro, quase o de uma Senhora de cinquenta anos.

"Voltou cedo." escutei Patrícia falar da sala "Está tudo bem?"

Fechei os olhos puxando o ar e o soltando lentamente, sentindo todos os meus neurônios pararem de trabalhar instantaneamente, eles estavam pouco se fodendo.

"Porque estaria tudo bem?" perguntei ríspida "Nada está bem, essa casa não tá bem, vocês não estão bem, a Any não está bem, ninguém está bem."

Robert se levantou da poltrona vindo em passos rápidos em minha direção, fazendo o cheiro de whisky invadir os meus pulmões.

"Oque aconteceu querida?" perguntou rapidamente "Aquele garoto fez alguma coisa com você?"
"Ele só abriu os meus olhos, não está nada bem, essa casa não tá nada bem, ninguém está bem."

O silêncio se instalou entre nós três, era quase incômodo se não fosse pelos soluços que escapavam do fundo da minha garganta.

"Eu posso fazer alguma coisa?"
"Consegue trazer a minha mãe de volta, por que eu só queria a minha mãe agora."

Senti as palavras rasgarem a minha garganta enquanto em descia as escadas para o meu quarto, eu não estava me importando com nada no momento.

Use SomebodyOnde histórias criam vida. Descubra agora