Prólogo

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Em todo ciclo há um fim.

É somente preciso escolher um ponto em que ruir o elo.

Uma ponta e a outra, porém, podem voltar a se unir eventualmente,

e as correntes aprisionarem outra vez um povo no circular infinito.

A cada romper, um baque capaz de abalar o mundo e destruir tradições.

O tempo de ruptura está por vir.

Haverá sangue e lágrimas.

Haverá heróis e vilões.

Haverá vidas mudadas para sempre.

Profecia de Kao Len

—Primeira Ordem de Delrok

Data desconhecida.

(Encontrada na ocasião de seu falecimento, no Cofre Secreto)


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PARTE I

"Haverá amor e ilusão, alegria e dor.

Os últimos resquícios de algo que jamais foi o que parecia ser."



PRÓLOGO


Aquele não era um fim de tarde muito agitado no Palácio de Vidro. Não havia reuniões às quais o rei precisasse comparecer, ou locais em Tórnnis que necessitassem de sua presença, nem mesmo cartas ou documentos que assinar. Quando tinha esses raros momentos de sossego, ele ia para a Sala do Trono refletir, tornando-se assim disponível para quem precisasse falar com ele.

Nunca completamente ao dispor, no entanto, pois ordenava aos guardas e criados que não deixassem qualquer pessoa entrar, sobretudo se tivesse vindo da cidade. O povo não podia achar que tinha o direito de falar com seu rei quando bem desejasse. Às vezes era necessário ser duro de modo a evitar que outros se aproveitassem de ocasiões como essa. Um rei recluso era mais respeitável que um rei acessível, e mantendo essa atitude ele podia evitar atentados à sua vida, os quais não era improváveis nesses tempos difíceis.

O rei estava sentado em seu trono de diamante, uma enorme pedra única esculpida para se adequar à forma de uma cadeira. O espaldar, constituído de várias pontas naturais, era tão elevado que serviria a um ocupante vinte cabeças mais alto.

Ele estava ali há aproximadamente duas horas, desde pouco antes do pôr-do-sol. Mais cedo havia cuidado de atividades pessoais e feito estratégias com seus soldados mais próximos. Já sabia como emboscaria o grupo impertinente que considerava-se esperto demais se escondendo ao norte das montanhas. Logo eles pagariam o preço por ignorar suas leis — e ele talvez ganhasse informações valiosas de algum desertor como recompensa...

Seus olhos percorreram o salão circular. Diamantes cobriam as paredes e estavam em cada ornamento e estátua. Grandes janelas de vidro expunham a luz do lado de fora, e o teto era alto e transparente, de modo que à noite as estrelas refletiam na água — um pequeno lago artificial que substituía o chão.

O rei nunca admitia a ninguém, mas aquele era seu lugar preferido a essa hora do dia — e em todas as outras também, para ser sincero.

A solidão não o incomodava. Estava sempre tão cercado de barulho e caos que a quietude do local costumava ser um alívio. Isso, claro, quando as pessoas não apareciam para perturbá-lo. A Sala do Trono também era palco de muitos problemas.

A Garota da TorreOnde histórias criam vida. Descubra agora