Jimin nutria um fascínio por cores que beirava uma doce estupefação.
A paixão não se esgotava tão somente na ideia das cores exteriorizada em tubos de tinta nos quais ele mergulhava as cerdas de seus pincéis, mas originava, dentre tantas outras, a perspectiva de que ele mesmo era uma tela branca feita exclusivamente para ser colorida pelas nuances da vida.
Talvez aquela fosse a razão pela qual ele gostava tanto de todo tipo de arte. Um quadro, por exemplo, era foco de seu fascínio, porque nada o maravilhava na mesma proporção que a fusão de cores; a combustão de tons frios e quentes eternizada pelos dedos de alguém, saída diretamente da mente de tal, cores gravadas em uma tela que nada mais era que mero espaço branco antes de servir de apoio para o deslize suave de um pincel.
Fossem pinturas a óleo ou não, Jimin amava a arte com a força de seu âmago, a guardava nos contornos profundos de seu coração.
E, exatamente por conta daquilo, deslizou as fitas do avental amarelo pelo corpo e o arremessou no fundo do armário de metal cinza, que foi fechado em um baque na sequência.
Em uma corrida desajeitada e após despedidas padronizadas, alcançou a rua, a estação, o vagão de trem cinza-metálico, a multidão de casacos escuros e destino contrário ao dele nas escadas. Os dedos passearam por parte dos cabelos quando ele estava adentrando a loja de tintas, tropeçando, a lentos rodopios, entre os corredores meticulosamente organizados que prendiam seu olhar cintilante em cada ângulo retangular colorido.
Ele colocou o tubo de tinta sobre o balcão e enfiou a mão no bolso da calça larga que formava uma cascata até os tornozelos.
— Deseja mais alguma coisa? — Disse a funcionária do recinto enquanto os olhos de Jimin moviam-se na contagem mental de moedas que ele realizava com os dedos no bolso, sussurrando sem som por entre os lábios a desajeitada matemática.
O garoto depositou a quantia exata no balcão e soltou o ar em um sorriso. A atendente estreitou os olhos para a excêntrica empolgação.
— Obrigado, So Min! — Ele disse, ainda sorrindo, lendo a identificação estampada na camiseta dela.
Agarrando o tubo de tinta azul durante o flash de entusiasmo, Jimin apressou o passo para a rua, onde tornou a correr novamente. Quando avistou o prédio acinzentado de aparência abandonada no final de uma das muitas ruas vazias, diminuiu o passo e abriu o tubinho, levando-o às narinas.
Fechou os olhos e inspirou por um milissegundo. A sensação fê-lo sorrir durante um instante, sorriso que persistiu até ele erguer a mão e, de relance, enquanto fechava o pote de tinta, resvalar-se no fato de que estava atrasado, escancarado pelo relógio apressado em seu pulso.
As ruas repletas de ausência, então, presenciaram sua corrida frequente outra vez.
Os passos apressados na velha escada de madeira escura e empoeirada produziram um barulho quase monótono no ambiente deserto do interior da construção antiga, como o faziam tantas outras vezes no silêncio habitual e característico dela.
A escuridão pela falta de cores nas paredes e corredores de madeira e carpete antigo só não alcançava a totalidade em razão das frestas dos vidros rachados das grandes janelas, que se permitiam fazer a luz solar vacilar para o interior do prédio soturno, fazendo com que as partículas de poeira pairassem no ar em uma dança suave, para então agitarem-se e sumirem com o corpo de Jimin cortando a toda velocidade por elas.
Ele, inclusive, costumava imaginar cores no local, com o intento de tornar a atmosfera incolor menos insossa aos seus olhos de artista.
E quando o garoto imerso na própria distração finalmente alcançou o topo das escadas, respirou fundo, podendo, enfim, diminuir o passo, deixando a respiração ofegante se acalmar enquanto elaborava as desculpas que ofereceria dali a poucos instantes. A mentira teria de ser doce e sutil, ou o olhar de sua professora de pintura denunciaria o conhecimento de que ele sabia do próprio atraso.
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Cinco Segredos de Beethoven | jikook
FanfictionEm notas musicais e partituras de caligrafia apressada, Jungkook transborda seus sentimentos mais profundos. E, conforme a ponta de seus dedos trêmulos pronuncia a suavidade musical para além das teclas do piano, os sonhos azuis do pianista se disso...