beethoven's 5 secrets

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pra entender uma coisa desse capítulo: *für jimin é uma referência a uma música do beethoven, für elise, que ele escreveu para a pessoa que ele amava que ninguém sabe ao certo quem foi, se foi uma mulher que o ajudou em sua surdez, uma amiga alegre, sua irmã, entre outras. a intenção da música era ser uma lembrança.

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O azul foi a última cor a ser descoberta.

Azul-egípcio, o primeiro. Azul ultramarino, que assolou Johannes Vermeer, o pintor d'a Moça com o Brinco de Pérola, em dívidas de tanto usar a cor rara. Azul anil, índigo. Azul da Prússia, um acidente.

Todas as outras cores podiam ser extraídas das folhas, do solo, mas não a pigmentação azul. O azul precisou de um processo complexo de formação pelos egípcios, que a tornaram a cor mais rara de todas. A mais diferente. A cor que era um evento singular no universo, e não fruto de um padrão.

Dentre todas as cores, Jungkook era azul. Dentre tantas pessoas coloridas e fáceis de encontrar, ele tinha a pigmentação mais rara na alma, mesmo que isso significasse que ele teria conflitos até alcançar seu tom ideal.

Jimin gostava de fazer essas comparações quando estava estudando as cores e tudo que envolvesse arte; associar a algo cativante mantinha tudo vivo em sua memória, e, caso um potencial olheiro o chamasse para conversar, ele não teria um branco.

Se alguém pedisse para falar sobre uma cor, era só lembrar de Jungkook e o azul lhe viria à mente.

E aguardar o resultado da escolha dos quadros era quase tortura, Jimin tentava se livrar da ansiedade justamente estudando e preenchendo telas e mais telas com ideias não mais inteiramente dependentes de inspirações fortuitas e externas. Em algum momento em meio a ideias que escapavam entre seus dedos, Jimin decidiu que passaria a enxergar a arte não só como um refúgio, mas como sua obrigação. Para tanto, ele tinha que começar; e era justamente isso sobre o que ele estava dispensando suas tentativas.

Sua pretensão se voltava a fazer da arte um meio de vida, em todos os sentidos, de tal forma que não poderia ficar à mercê de algo que poderia ou não aparecer.

Mesmo assim, a sala dos cavaletes estava imersa no silêncio ansioso de quem espera por uma resposta. As telas permaneciam intocadas, as tintas fechadas, os pincéis mergulhados em águas transparentes, outros em líquidos de coloração diversa, indício de tentativas de exteriorizar sentimentos inexprimíveis senão por tais meios.

— Vocês só vão saber no dia da apresentação — Disse a professora, exausta de presenciar tanta improdutividade agonizante. — Podem ir embora, se quiserem.

Mas Jimin não queria ir para casa. Não para o lugar onde seu sonho era incompatível com o dos outros. Então apenas esperou o ambiente esvaziar, e, ignorando o olhar de Misa sobre si, sentou-se sobre a janela.

Jimin suspirou, não sabendo identificar se estava mais ansioso pelo resultado ou para saber qual seria a escolha dele.

O sim para um sonho que não pertencia a ele significava que eles não se veriam nunca mais. Que ele não teria a chance de ver aquele quadro, de ver a inspiração que causava nos outros. Em Jimin.

Mesmo que tivessem vivido as Quatro Estações de Vivaldi, tempo algum seria suficiente para que quando Jungkook fosse afastado de Jimin novamente, este deixasse de sentir como se uma parte sua estivesse com ele.

Depois daquela noite em que ambos enxergaram arte e tocaram notas no corpo um do outro na sala do piano, esta deixou de presenciar seus olhares às terças-feiras e nos outros dias também. Isso porque Jungkook havia desaparecido. De novo.

Cinco Segredos de Beethoven | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora