divenire

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A mistura de cores primárias origina as secundárias, mas o corredor continuou escuro quando Jimin, cheio de cores dentro de si, passou por ele e encontrou o silêncio monocromático e taciturno.

Desde quando havia deixado o dinheiro sobre a mesa da cozinha escura, estava com a cognição voltada à ânsia de ouvir teclas de piano e compreensão no formato de música, de modo que teve que parar de girar a chave na fechadura e entrar novamente.

Juntou todos os papéis sujos de tinta do chão do quarto, amassou um jornal respingado de tinta amarela bem onde se dizia ''vagas para...'' e o arremessou na lixeira, colocou os esboços dentro do armário e, assim, respirando fundo, saiu de novo.

Quando alcançou aquele relevo no tapete do prédio da escola com seus passos, tropeçou novamente. Desta vez, no entanto, sem derrubar nada, exceto, talvez, a expectativa, que murchara como um girassol no inverno ao que seus olhos se depararam com a sala vazia outra vez.

Se Jimin não o visse, como aquele quadro, inteiramente inspirado nele, iria ser concluído?

Por vezes, Jimin sentia que a arte era seu refúgio e também sua ruína.

Quando as cores ameaçavam transbordar por entre seus olhos, produzia suas obras favoritas. Mas quando elas sumiam, como naquele ponto de sua vida, deixando apenas o vácuo incolor, o vestígio amargo, ele se sentia miserável; medíocre diante de tantos gênios naquele ofício. Na maior parte do tempo, Jimin sentia que precisava se esforçar dez vezes mais para chegar à posição mediana de alguma coisa. E, mesmo quando chegava, sentia que poderia ser melhor, mais.

Embora o talento fosse uma mentira, apenas uma parcela do todo complexo, ele não podia deixar de se afogar nesses infelizes devaneios de vez em quando.

Guiado por tamanho vazio e sem medo das consequências, o pintor entrou na sala de música, encontrando um ambiente triste e solitário sem aquele que tinha os pincéis e os meios para colori-lo.

Sobressalente na atmosfera, havia um piano preto perto de uma parede descascada repleta de quadros de músicos famosos como Beethoven, Chopin, Tchaikovski e outros nem tanto, como mulheres músicas; sobre o instrumento estavam diversas partituras espalhadas e somente o final de uma vela. No apoio de partituras, uma se balançava ao vento — anotações em uma caligrafia desajeitada se destacando.

Jimin caminhou até ele pelo tapete velho, e os dedos, então, vacilaram nas teclas pretas do piano, escorregando para as brancas, mas a janela extensa cheia de rachaduras não permitia que os raios de sol acompanhassem seus dedos. Talvez eles só tivessem interesse nas mãos do pianista.

Ele se sentou sobre o assento com uma postura derrotada. Ao lado do instrumento, reparou no piso de madeira preenchido com papéis amassados. Estreitando os olhos, notou notas musicais escritas a lápis neles.

E foi necessário apenas um piscar de olhos para que ele se desse conta de que aquele garoto tinha, sim, talento, mas quanto suor, quanta dor ele já tivera de suportar para se tornar tão excepcionalmente bom naquilo?

O foco é sempre voltado para o resultado final, nunca para o processo.

A sorte, ou o destino pintado de alegria nas circunstâncias — na concepção artística de Jimin — era que ele parecia apaixonado pelo que fazia, assim como o pintor era pela arte.

Mas amar demais uma coisa é tão perigoso quanto ser completamente indiferente a ela; o perfeccionismo contamina o amor com sua malícia, e, então, a paixão se torna obsessão, crueldade para consigo mesmo quando o mundo já o é intensamente.

Imerso no frenesi que o deixava à beira da inspiração, Jimin foi vítima de um susto ao ouvir um estalo na madeira da escada, e esgueirou-se rapidamente para a sala de pintura, bem a tempo de ouvir algo que revirou seu estômago e fez todas aquelas cores ameaçarem desaparecer antes que ele pudesse capturá-las com a mente e colocá-las na tela.

Cinco Segredos de Beethoven | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora