epílogo: für jimin

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algumas pessoas nos cravam marcas permanentes

como tinta impregnada na alma

à prova d'água e de tentativas de esquecer

elas passam a nos pertencer


como as ondas ao oceano

o pincel ao pintor

as teclas ao piano

e a tristeza à silente dor


com o tempo viram arte

de nós se tornam parte

com vermelho, param de machucar

como tudo, só fazem lembrar

- yeallow

🎹🎨

Não é estranho como as pessoas conhecem as obras de arte, mas não os rostos os artistas?

Um artista coloca cada detalhe da alma que lhe pertence em algo exterior a ela, em uma obra de arte, e as pessoas que olham para o quadro sequer sabem como é o seu rosto.

Por isso, a arte é a mais pura forma de intimidade, porque é cega e faz ver, silenciosa e pronuncia o sentir.

E, naquele exato instante, Park Jimin colocava uma música em seu toca-discos e então deixava o pincel mover-se junto a ela, dançando em cores combinadas no intuito de traduzir o sentimento que elas causavam em si.

Cantarolando a melodia sem voz, ele fluía seus tons na tela do ateliê repleto de quadros múltiplos de sentimentos diversos. As janelas permitiam que os raios de sol traçassem um caminho cor de laranja pelo piso de madeira até onde ele estava, trajando um macacão jeans e vivenciando seu amor profissional.

Talvez a ideia da música em quadros tenha sido boa, porque embora suas coleções passadas tivessem ido parar em exibições, a coleção ''as cores da música'', para a qual Jimin pintava a parte dois naquele momento, esteve presente no triplo de lugares e era a mais elogiada pela crítica.

Ironicamente, a mais conturbada também, sua ideia propulsora tendo início uma década antes daquela, e sendo executada somente muito depois, entre intervalos que fizeram Jimin compreender que, embora precisasse colocar amor no que fazia, por ser privilegiado por amar seu ofício, tornar seu trabalho mera obrigação era um desserviço à sua criatividade.

Quando se coloca amor no que faz, não se fica à mercê da inspiração, porque dá-se o máximo de si, amando a jornada que trilha ao resultado, e mesmo que este não seja o esperado ou imaginado, você sabe que aquele é o melhor que pôde fazer naquele instante, ficando bem distante do nada vítima da expectativa, e é exatamente isso que significa dar o seu melhor.

Houve um tempo em que a arte fora seu refúgio e também sua destruição, agora o simples gesto de deslizar o pincel sobre uma mera folha branca e eternizar nela ideias coloridas era o que ele mais amava. O ato de transbordar arte pela ponta dos dedos era o traço presente em sua personalidade do qual ele estava mais seguro.

Contudo, o artista interrompeu a sessão música-pintura e os devaneios fortuitos quando o telefone pronunciou seu alerta no ateliê, e confirmou o retrato que faria dali a alguns instantes.

Normalmente, como sua agenda repleta de pedidos garantia confirmação, ele não pintava a realidade tal como ela se mostrava; gostava de deixar sua imaginação viajar por vales desconhecidos e inexplorados, mas quando viu o nome da pessoa que o requisitava, não acreditou e quis ver com os próprios olhos.

Cinco Segredos de Beethoven | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora