Capítulo 3

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Depois de ajudar no preparo do almoço e lavar toda a louça do convento, me permito descansar e almoçar, outras funcionárias do convento já estão almoçando, não tenho amizades com ninguém, minha beleza parece incomodar a todas ou talvez minha presença seja ofensiva demais para as pessoas, depois de alguns tropeços na vida e servi de tanta chacota entre as alunas que eram colegas minha, aprendi que eu devo me amar e depender só de mim, nunca, nunca ninguém me amou, isso dói de uma certa forma, mas eu não me importo, não mais.

Cresci neste convento, na verdade no colégio católico ao qual faz parte do convento, onde abriga meninas, até o fim do colegial, logo, nunca tive afeto de ninguém, cresci sozinha, tinha ajuda das freiras é claro, mas elas sempre foram muito imparciais a mim, a madre não permitia que criassem vínculos e todas acatavam por medo, segundo ela vínculos tiram autoridade e o medo, por isso não era permitido qualquer tipo de manifestação de afetos.

Ela sempre tentou me influenciar justificando que sempre foi muito zelosa comigo, mas sua frieza só me fazia ser reticente, no fundo desconfio muito da Madri, segundo a sua versão da história fui deixada aqui por um homem que foi mandado por meu pai, pois não poderia cuidar de mim, o porque não sabemos, o que sei é que ela ficou com pena e permitiu que eu vivesse aqui até hoje.

As minhas colegas do colégio nunca se misturavam comigo por eu ser pobre, todas elas veem de família rica que ao fim do ano letivo retornavam para as suas casas, para as suas famílias, a única que permanecia aqui era eu. Meus natais e viradas de ano, assim como aniversário e outras datas comemorativas era sempre eu e eu mesma, é nessas horas que me questionava onde estariam meus pais e familiares.

Ao terminar os estudo, a Madri não quis que eu fosse embora, acho que no fundo se apegou a mim, talvez! Me propôs um trabalho com abrigo e comida incluso, acabei aceitando pois me daria a oportunidade e juntar um dinheiro para sair daqui e construir minha vida e quem sabe um dia ser feliz.

Sou muito grata a ela que me cedeu um pequeno quarto, com uma cama e um abajur que fica em cima da cômoda de quatro gavetas, o quarto não tem janelas, é um pouco abafado, mas pelo menos não estou largada as traças, por aí, fica no fundo dos aposentos e segundo ela, como nunca paguei por viver aqui não poderia me oferecer um dos quartos apropriados nos andares de cima, isso seria muito injusto com quem paga fortunas por eles para abrigar suas filhas.

Estava perdida com meus pensamentos até que a conversa me chama atenção, falam sobre a chegada de um carro muito luxuoso que está estacionado na porta do convento cujo dono conversa com a madre, deve ser para matricular alguma filha rebelde que lhe trás aborrecimentos, são todos assim, para se livrarem das filhas, as matriculam no colégio interno do convento ao qual passei a minha vida inteira e pelo visto passarei o resto dela também.

Continuo o meu almoço, quando uma das freiras vem, muito nervosa, me chamar dizendo que a Madre exige minha presença, vem até a mim tirando o meu avental, touca, ajeitando o meu vestido cinza de malha, soltando o meu cabelo, aperta as minhas bochechas para corá-las e sai me puxando segurando minha mão.

Fico desesperada achando que irei ser repreendida por algum erro que tenha cometido, apesar de não recordar, ando tão cansada das pessoas desfazerem de mim, me desprestigiarem, me desvalorizarem, o seu discurso repetitivo continua em minha mente gravado, sempre jogando na minha cara " Amanda, você deve muito a mim por todos esses anos de cuidados, se não fosse por mim que futuro teria, seria entregue em um desses orfanatos, quantas pessoas não abusam de crianças por aí, as escravizam, ainda mais você assim bonita, por tanto deve respeito e obediência a mim, pois nem seus pais a quiseram".

Quando a porta da sala da Madre é aberta, vejo ao fundo um senhor muito elegante de costas com as duas mãos para trás, usa um terno muito alinhado e pela primeira vez, vejo a Madre sorri para mim, carinhosamente me puxa para seus braços, gente isso não é normal, está encenando por causa do senhor.

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