Capítulo 36

1.4K 100 54
                                    

Anna

"Gettin' my mind right, I wait 'til the time's right. I'm meanin' to tell you why it's hard to sleep at night..." - Talk Is Overrated, Jeremy Zucker ft. Blackbear.

Alan Walker: 
Ei, Anna. Tudo bem? Espero que sim!
Consegui agendar o estúdio, está tudo confirmado, te encontro mais tarde para começarmos a conversar sobre o single. Obrigado!

E exatamente assim que acordei depois de umas boas horas de sono; uma mensagem sobre um novo emprego.
Decidi responder apenas com um "Ok. Nos vemos por lá ;)". Eu não tinha nada além disso para dizer.
Se eu estava bem? Bom, eu tinha acabado de descobrir uma gravidez. Eu, no mínimo, estava surtando.

Sair da cama não seria uma opção no momento. Olhar para o teto e me questionar sobre as coisas da vida era bem mais interessante que qualquer outra coisa.
Sehn percebeu minha solidão e subiu na cama sem ao menos latir em pedido, como ele sempre fazia. Deitou ao meu lado e apoiou a cabeça em minha barriga, a descansando ali.

- Ei. Parece que você já sentiu a presença de uma nova pessoa, não? - disse para o cachorro, enquanto acariciava seus pelos. Suspirei. - Sabe quando acontece algo e você não tem noção de como reagir à isso? - Sehn me olhava com uma carinha inocente. - É óbvio que você não sabe, é apenas um cãozinho. - sorri fraco. - Eu estou com dúvidas, Sehn. - me ajeitei na cama, subindo meu corpo e ficando sentada. - Ter um filho agora seria um atraso para minha vida, eu tenho tantos projetos, tantos objetivos. - coloquei a mão em minha testa. - Não sei se deveria contar à Harry. Talvez eu tire o feto antes de contar à ele. - eu sentia uma enorme vontade de gritar. - Me ajuda, Sehn. Eu não sei mais o que fazer.

O cachorro percebeu que algumas lágrimas caíam sobre meu rosto e começou uma série de lambidas em minha bochecha, como se não quisesse me ver chorar. E deu certo, pois isso acabou me arrancando vários sorrisos.

- Bom, meu amor. Eu preciso me arrumar para encontrar Alan e depois tenho que ir para a Republic encontrar Marcus. - coloquei os pés para fora da cama. - Ficará bem sem mim, garotão? - perguntei e ele latiu, enquanto abanava o rabo. - Levarei isso como um sim. - sorri.

A água fria corria pelo meu corpo, me fazendo ter um choque de realidade.
Algumas gotas se misturavam com lágrimas. Eu não sabia o que fazer.
Fernanda e Mathias vão ter um filho, mas os dois já tem um relacionamento há anos, os dois são casados, eles possuem uma vida estável.
Eu e Harry não podemos ter um filho. Nós dois namoramos a pouco tempo, ambos temos nossos compromissos e vivemos em estados diferentes. Como seria possível algo do tipo acontecer?

Desliguei o registro e peguei a toalha que estava pendurada perto do box de vidro. Comecei a secar meu cabelo e caminhei até a frente do espelho com a toalha enrolada na cabeça.
Virei de lado, da maneira que conseguiria ver a lateral do meu corpo no reflexo.
Minha barriga ainda estava ali, intacta e sem nenhuma mudança. Será que ela cresceria muito? Será que eu realmente conseguiria esconder isso por muito tempo?
Suspirei ao me lembrar que não tinha todo tempo do mundo para perder.
Saí do banheiro e coloquei uma roupa qualquer para ir trabalhar, não estava tão animada para me arrumar hoje.

--

O primeiro encontro com Walker foi incrível. As ideias do DJ e produtor eram bem parecidas com as minhas e me fizeram ficar muito confortável em estar trabalhando com ele, já que é algo muito diferente do que costumava fazer.
Marcamos o próximo encontro para a outra semana, onde já gravaremos a primeira faixa da voz.

Estava dentro do carro, estacionada em frente à Republic Records e tinha Harry  ao telefone, por vídeo.

- Você está bem? - ele perguntou, me presenteando com o sorriso mais lindo que eu já tinha visto. Por um segundo pensei em como seria se a criança puxasse seu sorriso, e herdasse suas covinhas.

- Estou me sentindo melhor agora. - sorri verdadeiramente. - Realmente passei um pouco mal nos últimos dias, principalmente no ano novo.

- Catherine e as garotas comentaram comigo. - ele disse. - Mas, fico feliz que esteja se sentindo melhor.

Apenas sorri.

- Ann, daqui alguns dias começo a divulgar o album e viajarei para Nova Iorque. - soltou o ar lentamente. - Estou...

- Com saudades. - falei. - Também estou. - balancei a cabeça. - Você não faz ideia.

Vi que seus olhos me encaravam como curiosidade. O verde profundo desconfiava de algo, talvez da forma que eu estava agindo.

- Todo dia que passa eu tenho mais vontade de te dizer. - ele declarou. - Você sabe.

- Não sei se consigo me enxergar em uma vida na qual eu não tenha você. - sorri e ele também.

- Isso é bom. Porque você não vai se assustar quando eu te disser que quero viver e ter uma família contigo. - logo que ele disse pude sentir minha respiração falhando por uns instantes e me fazendo engolir seco.

- Não, não vou me assustar. - forcei um sorriso, que eu creio ter sido o suficiente para Harry.

- Preciso ir, vou escolher a foto da capa hoje. - ele disse.

- Mande-a para mim, por favor. - disse.

- Com certeza, sim. - ele sorriu. - Beijos.

- Até mais. - e a vontade de dizer as três palavras mais uma vez me consumiu. Mas Harry finalizou a ligação antes que eu pudesse criar a coragem para dizer.

Encostei a testa no volante e dei um grito abafado.
Uma batida no vidro me fez voltar à realidade.
Do outro lado da janela estava Marcus. Sua barba estava por fazer e seu cabelo estava um pouco bagunçado. Ele tinha um sorriso fraco no rosto, e acenava para mim.
Destravei a porta e a abri, para sair do carro.

- Bom dia, Mark. - sorri fraco.

- Para mim, está sendo um bom dia. - ele disse. - Não sei para você. - ele me encarou com dúvida. - O que está acontecendo?

Suspirei, talvez essa fosse a coisa que mais fiz durante meu dia; suspirar.

- Vamos, Ann. - cruzou os braços. - Não me venha com essa mania de se fechar para os outros e querer recusar ajuda. Você sabe que isso não é o ideal em qualquer situação. - falou. - Você sabe que pode confiar em mim. Eu vi suas músicas antes de qualquer pessoa, até mesmo antes de Harry. - ele mexia as mãos, gesticulando. - Eu acreditei em você quando chegou aqui. Apenas eu,  Layla e Shawn acreditamos. Quase ninguém te achava capaz de fazer o bom trabalho que está fazendo hoje. - bufou. - Eu só quero que saiba que eu sou mais do que seu colega de trabalho. Eu sou seu melhor amigo. - uma lágrima queria fugir, mas a impedi. - Eu vou convidar Grazi para viajar comigo essa semana. Vou levá-la à Australia. Ela uma vez comentou comigo que era um sonho para ela. - levou uma das mãos à cintura. - E eu não quero ir para o outro lado do mundo sabendo que minha irmãzinha está mal por algo.

- Mark. - eu disse baixo. - Eu só quero que você não comente com ninguém sobre o que eu vou falar com você. - cocei a cabeça. - Principalmente Shawn e Harry. - ele concordou. - Vamos entrar, você sabe que na rua os arbustos tem ouvidos, e câmeras.

Subimos rapidamente até o estúdio que costumávamos usar para gravar as músicas do álbum de Mendes.
Marcus se acomodou em uma das cadeiras acolchoadas e eu me sentei no sofá.

- Desembucha. - ele disse.

- Marcus, eu estou grávida. - soltei e o queixo do garoto foi para baixo, fazendo sua boca tomar o formato perfeito de um "O". - Eu ainda não sei se quero essa criança, Mark. Eu não sei o que fazer.

- Mas eu sei. - ele disse. - Eu estou indo viajar logo, mas Lay continuará aqui. E você vai junto à ela fazer uma ultrassonografia e um exame de sangue, para saber se essa criança está bem, antes de tudo. - continuou. - Você vai decidir logo se quer ou não. Daqui a pouco seu corpo começará a ter mudanças e você não vai conseguir esconder. - suspirou. - E quando decidir, irá contar à Harry. Ele não pode ficar sem saber disso, Anna. Você querendo esta criança ou não. Ele precisa saber.

Marcus estava, de certa forma, certo. Eu não havia feito essa essa criança sozinha. Eu faria os exames e logo depois, decidiria minha vida e conversaria com Harry.

The Last Song I'll Write For You | { Harry Styles }Onde histórias criam vida. Descubra agora