O Caminhante dos Sonhos

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Visto o uniforme que Rose me deu, ao me olhar no espelho, sinto-me um verdadeiro doutor, exceto por minha barba por fazer, que se destaca com todas estas roupas brancas.

— Pronto? — Rose questiona.

— Sim, vamos.

— Antes de irmos, me diga, quem é você?

— Sou Brad, supervisor enviado para averiguar o Projeto Bola de Gude.

— Muito bem, "Brad", fique bem atrás de mim e não diga nada desnecessário, entendeu?

Assinto com a cabeça e entramos no laboratório. É um prédio pequeno, e mesmo assim, consegue se mostrar um verdadeiro labirinto de corredores, chegando a parecer uma ilusão de óptica com a maneira que quase tudo é branco.

Sigo-a em silêncio total, passamos por infinitos corredores e entramos em uma sala familiar para mim. A sala onde tudo começou.

— Tem certeza de que não há ninguém aqui agora? — Indago.

— Sim, ninguém está trabalhando hoje, todos estão em alguma palestra importante. Eu também deveria estar lá, todavia, acho que me demiti, não concorda? — Finaliza com um sorriso sarcástico.

Rose vasculha as inúmeras pastas e documentos no armário. Queremos todas as informações registradas do projeto, tudo será queimado, inclusive este laboratório. Porém, ainda há alguns detalhes no processo que ainda precisam ser resolvidos.

— Encontrei! Está tudo aqui, Tom! — Me mostra a pasta com um breve sorriso. — Lembra-se de como liberar o gás, certo? De como abrir as válvulas?

Agora vem a parte difícil.

— Rose, há algo que não compreendo. Como exatamente você sai ganhando nisso? Já havia me dito que é contra o projeto por ser desumano e também sobre seus investimentos. Mesmo assim, sinto que há algumas peças faltando nessa história...

No fundo, eu já sei onde tudo isso vai dar, mas preciso interpretar meu papel apenas mais um pouco.

— Você me pegou. Eu havia dito que iria lucrar muito com a bolsa de valores, não disse? Bem, isso é apenas um bônus. Sabe, eu vim trabalhar no Projeto Bola de Gude em nome de outra organização. Eu sou uma espiã, Tom, eu quero queimar este lugar tanto quanto você, acredite, eles me fizeram torturar as pessoas, você incluso! E isso acabará hoje, entretanto, o dossiê vem comigo.

— Então, será assim que vai jogar? Permitirá que essas pessoas morram em vão para apenas continuar com este projeto? Rose, você não faz menor ideia do que as fendas carregam, será a condenação da humanidade!

— Tem razão, elas não morrerão em vão. Levarei o projeto para quem irá cuidar bem dele, sem mais cobaias, sem mais mortes. As fendas são algo magnífico para nós, não percebe? Pense nas infinitas coisas que podemos fazer com nossos próprios sonhos!

Rose acaba de me revelar o último detalhe que me faltava saber sobre ela. Sua falta de conhecimento sobre as fendas, está mexendo com fogo pensando ser água. Realmente gostaria de trazê-la para meu lado, mas parece que não há escolha.

— Rose... As fendas, não são sonhos...

— Eu sabia que viria para cá. — Um homem aparece de repente, é o mesmo que estava no dia de meu experimento, está carregando uma pistola. — Agora, que tal devolverem meus documentos antes que eu mate os dois?

— Lonan. Como sabia que eu estaria aqui? — Questiona Rose, alerta a tudo.

— Eu já estava ciente de seu "negócio externo". — Diz, sinalizando aspas com uma das mãos. — No entanto, devo admitir que estou surpreso de ver este homem vivo. — Aponta a arma para mim. — Pensei que seu corpo tivesse sido obliterado da existência ou algo parecido. Mas enfim, ossos do ofício, não concorda?

Eu me mantenho congelado, não conseguiria me mover mesmo se quisesse. Minha hora chegou. Toda minha concentração está direcionada nas fendas.

Os dois voltam a discutir, me fazendo ganhar tempo, meus olhos começam a sangrar, sinto que está funcionando. Sou capaz de sentir as fendas se abrindo.

Lembro-me da lula de meus pesadelos, uma grande fenda se abre atrás dos dois. Seus tentáculos começam a sair da fenda.

— Que merda você fez!? — Questiona o homem.

— As fendas, eu posso abri-las, seus pontos de vista sobre elas são distorcidos, não as temem apenas por saberem do quão vantajoso é as ter em mãos.

— Desgraçado!

O Doutor atira em mim, me acerta bem no ombro. Apenas sorrio e faço um sinal negativo com a cabeça.

Os tentáculos começam a agarrá-los e a lentamente puxá-los para dentro da fenda.

— Tom, o que você fez! — O desespero e surpresa de Rose é claro.

— Me desculpe, Rose. Há alguns detalhes sobre mim que não foram ditos. Eu sabia desde o início que tentaria continuar o projeto. Eu não trabalhei com você para ser curado, não há cura, isso é óbvio. Estou aqui apenas para impedir algo maior do que todos nós.

— De que merda você está falando!? — Ela continua a não compreender.

Os dois são sugados para dentro da fenda, rapidamente a fecho. Continuo com o plano, o dossiê se foi junto para outra dimensão, só preciso queimar este lugar.

Sigo os passos que Rose havia me dito, misturo diversos químicos, crio um grande rastro por toda a instalação e libero as válvulas de gás em uma sala de testes. Tenho certa dificuldade por conta de meu braço. Dentro de poucos minutos, acendo o rastro, que queima até o gás altamente inflamável, todo aquele pequeno prédio é envolvido por chamas. 

— Agora, Exitium os julgará de acordo com vossos pecados. Boa sorte. — Penso alto.

Apenas concluo aquela cena me retirando, ainda há muito o que fazer.

Anna, sei que este não é o caminho que imaginou para mim, mas espero de coração que entenda o que estou prestes a fazer. Exitium é maior do que nossa limitada compreensão consegue imaginar, e sou o único que sabe como impedir a total obliteração deste recém-nascido planeta.

Continuo a acreditar em uma coisa. Tom morreu junto à Anna, agora, renasço em nome de meu novo fardo.

Eu sou o Caminhante dos Sonhos, o guardião de uma raça sem futuro.

Caminhante dos Sonhos - TomOnde histórias criam vida. Descubra agora