CAPÍTULO 9

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À medida que o fotógrafo pede, meu corpo muda de pose de maneira automática, enquanto o meu rosto – exatamente como ele havia pedido no início do ensaio – se mantém sério, uma mistura de tristeza e sensualidade. O macacão preto de designer elegante e confortável me ajudara muito na hora de dobrar as pernas sobre o sofá de veludo verde antigo, que é apenas um dos inúmeros móveis incríveis da antiga propriedade. Fiquei surpreendida por ter recebido tanto carinho de toda a equipe desde o início da sessão, apesar de saberem o quanto resisti ao conceder a entrevista para a revista que estão representando. Nem mesmo quiseram saber quais foram os motivos da minha resistência, que nada tem relação ao dinheiro ou outras exigências fúteis. Todos receberam-me de braços abertos e tornaram a experiência em uma das melhores.

Quando o talentoso Lorenzo Hernandéz me instruiu a ajoelhar de lado no sofá, empinar um pouco o bumbum e olhar por cima do ombro na sua direção, deixando que o meu cabelo cobrisse um lado do rosto, sorri ao ouvi-lo finalizar o pedido:

- Me seduza, Alexia. Seduza a câmera! – o som dos "cliques" não parava – Olhe para a câmera como se estivesse encarando o seu homem, como se quisesse seduzi-lo.

Imediatamente a imagem de Preston veio à mente e imaginei-o ali, assistindo ao ensaio usando preto dos pés à cabeça, as mãos no bolso e a expressão fechada, fazendo com que o meu próprio semblante mudasse sem perceber. Encarei a câmera da mesma maneira que o observo se aproximar de mim, alguns segundos antes de me prender entre os seus braços e me roubar um beijo duro, ao ponto de quase machucar meus lábios.

- Devo dizer que o homem em quem você está pensando é um sortudo, pois o seu olhar é tão intenso, mais tão intenso que está quase me convencendo a virar heterossexual!

Foi impossível reprimir o riso após esse comentário do bem-humorado fotógrafo.

Seria hipocrisia da minha parte dizer que pensei no Hawkins só agora – muito pelo contrário, as lembranças das três últimas semanas serpenteiam pelo pensamento a cada instante. Depois de voltarmos do paraíso particular da Fay, o nosso "relacionamento" passou a evoluir a cada encontro e comecei a notar pequenas mudanças acontecendo, na verdade foram mudanças muito sutis. Preston começou a mostrar interesse em relação a minha vida, perguntando sobre o meu dia e os objetivos que ainda não alcancei, deixando de lado o hábito de pensar e falar em apenas sexo. Um hábito que havia adquirido nos últimos 10 anos. Também passou a ser mais carinhoso comigo, entrelaçava suas mãos nas minhas, acariciava, beijava o meu rosto e até chegara a me abraçar, ao mesmo tempo em que afagava as minhas costas. Seu desempenho sexual estava ainda mais extraordinário, ora de maneira delicada – como se o meu corpo fosse uma entidade que precisava ser venerado, ora completamente selvagem.

Para a minha total infelicidade, as drogas não foram incluídas nessa mudança sutil, muito menos o seu mau humor e o ódio que sentia pelos pais.

Com o ensaio fotográfico finalizado, tirei o suéter bordô e a saia plissada branca da última troca de roupa, voltando a pôr a minha combinação perfeita para aproveitar o restante do dia. Jeans, camisa branca e um par de moccasim amarelos. Antes que saísse do banheiro da suíte para ir me juntar à equipe – que me aguardava para dar a carona que tanto insistiram – o celular vibrou e tocou dentro da bolsa, sinalizando que acabara de receber uma mensagem. Remexi no conteúdo da bolsa por alguns instantes até encontrar o telefone, por fim digitei a senha e fui direto para as mensagens.

Já terminou o ensaio? O Max está em prontidão para buscá-la e vir direto para o meu prédio. Já estou em casa.

Hawk

Não perdi tempo, fui logo enviando uma curta mensagem dizendo que já estou pronta e a espera do seu motorista, ao mesmo tempo em que saio do banheiro.

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