Sentinela

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    Do outro lado da cidade, Ana Lúcia tinha acordado cedo e já estava tomando seu café, estava com as mãos frias, juntas uma a outra sobre a toalha bege da mesa, carregava um ar triste na face, o café na xícara de porcelana azul e branca estava frio, fazia algum tempo que ela estava ali, anestesiada e imersa em pensamentos retrógados e estéreis, pensava muito na sua infância jovial, pensava muito no gato que ela e sua irmã Maria tinham quando eram moças, como era o nome dele mesmo? Ela se lembra como num salto, era Felin; o nome ela não se lembrava muito de onde vinha, talvez de felino ou de outro canto da memória vaga e agora com a idade uma memória não com muito sabor.
   Ali a sua frente um açucareiro de vidro, um vaso de rosas de plástico e uma folha de jornal, Ana não tinha coragem de pegar o jornal pois já sabia o que encontraria. Se levantou e foi em direção ao quarto, ali no mesmo piso junto a sala, entrou e sobre a cama havia um vestido mui belo em um tom preto azulado e um par de sapatilhas com um pequeno saltinho aos pés da cama, ela passa a mão sobre o vestido e sussurra:
_pai, achei que nunca mais iria usar esse vestido.
Ela da um suspiro forte e úmido onde seus olhos marejam, se senta ao lado da cama e espera o relógio bater as 9:00 da manhã.
   Pacientemente sentada ali ela assiste com lastima os minutos passando e quando o relógio aponta 8:45 ela se levanta humilhada e esquecida da tal razão de viver que tanto procurou, se veste e coloca sua sapatilha, as costas doem mas com um certo esforço ela se apronta e se levanta em direção ao espelho sujo.
_estou pronta irmã
Diz ela com lagrimas mornas e salgadas como as aguas das praias de Porto do Sal, uma lagrima cai, escorre pesada e amarga, em súbita angustia Ana Lúcia cai no choro e lentamente sem violência brusca e e nem beleza ela se ajoelha e chora.
    Já são 9:24 ela pensa olhando para o relógio de pulso, gira a chave de seu carro e vai então em direção ao lugar onde a sentinela será realizada, Ana pensa em chegar antes e poder preparar tudo para sua irmã ser bem recebida. Com pouca delicadeza ela estaciona sua caminhonete, ouve um som desagradável e olha pelo retrovisor, suspira e apoia sua cabeça sobre o volante e cria coragem, mas penso eu mesmo sendo só um narrador, que mulher ou homem tem tamanha força? Uma mulher em luto pela irmã tem.
   O lugar é um salão mediano com cadeiras e algumas poucas mesas não mais de três ou quatro, as flores estavam no chão perto da entrada recostadas sobre uma cadeira de madeira e uma mesa de mármore com lugar para duas pessoas, Ana caminha pelo lugar e com esmero e amor arruma o cômodo para a chegada de sua irmã.

Querida Maria Onde histórias criam vida. Descubra agora