Capítulo 3 - A ameaça

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O seguinte dia letivo seria decisivo. Dulce tinha pensado em tudo, nas palavras do namorado, nas palavras dos amigos, em suas próprias razões para continuar ou descontinuar o projeto. A decisão, de sua parte, seria positiva. No entanto, nesse dia teria que comunicar à diretora, com maiores detalhes, todo o planejamento e todos os recursos que precisaria para seguir adiante com os meninos.

Dulce dava aula de coral para as crianças inscritas nessa modalidade extracurricular apenas duas vezes na semana, nas terças-feiras e nas sextas-feiras. No restante da semana, ela planejava suas aulas, ajudava na organização de projetos da escola e, quando necessário, estava livre para cumprir com compromissos relacionados à sua saúde, os quais eram bastante frequentes no cenário atual, mas tenderiam a diminuir à medida em que ela fosse se recuperando.

A sala de professores estava cheia de docentes, com livros e pastas a postos, em volta de uma mesa grande e larga, como se fosse um grande culto ao item que se colocava no centro da mesa: a garrafa térmica de café. Dulce se uniu a eles, agarrando uma caneca com seu nome e completando-a com o líquido preto, a fim de se preparar para a conversa com a diretora.

— Ouviram o que aconteceu na clínica? — um dos professores de matemática perguntou, puxando assunto com outros que estavam à sua volta. — O prefeito comentou que essa pessoa pode ser perigosa.

— Talvez — a professora de artes considerou. — Não podemos saber ao certo, nem sabemos direito o que aconteceu. O que será que ele procurava?

— Na clínica? — A professora assentiu em resposta. — Provavelmente o protocolo médico de alguém. Mas por que alguém quer pegar registros médicos de outra pessoa?

— Mas ainda houve os outros dois eventos, na casa dos padeiros e no depósito da cidade. Não é possível que tenha sido a mesma pessoa... Ou seja, com que intuito destruiria coisas da cidade e invadiria uma casa e mataria um gato e reviraria uma clínica?

— Não saberemos enquanto não descobrirmos quem foi — concluiu o professor de matemática logo depois de escutar o sinal que acusava o início das aulas. — Bom dia, pessoal!

Dulce escutou a conversa em silêncio. Não queria ter mais um tema martelando em sua cabeça logo de manhã e logo no começo da semana. Já era sofrimento demais passar por toda a confusão que tinha passado durante o final de semana com tantas inseguranças em relação à filha, ao trabalho, a ela mesma. Caminhou até a diretora, que se sentava em um dos lados da mesa mexendo em alguns papéis.

— Margaret, bom dia. Precisamos conversar — ela anunciou, puxando uma cadeira para também se sentar. — Você pode falar agora?

— Dulce, querida, precisamos, eu estava pensando exatamente nisso. Como foram os exames na sexta?

A professora de canto desviou o olhar para suas próprias anotações, deixando visível o incômodo sobre o assunto. Esperava que Margaret puxasse o assunto do coral, e não de seus exames de saúde. Mesmo assim comentou rapidamente, apenas para não deixar a diretora sem respostas.

— Tudo bem, como sempre. É um processo meio chato e os resultados demoram um pouco para sair, então não estou pensando muito nisso. — Esperou um sinal de compreensão por parte da colega de trabalho e então prosseguiu, entrando no tema que realmente queria conversar. — Margaret, estive pensando na proposta do concurso que os meninos fizeram na sexta. Podemos falar sobre isso?

Margaret abaixou os papéis em sinal de atenção.

— Claro! E então, o que você esteve pensando?

— Acho que as crianças não podem perder a oportunidade de colocar em prática aquilo que estão aprendendo e eles são realmente bons no que fazem, mesmo que eu não esteja confortável com isso. — Dulce fez uma pausa, buscando entre suas anotações o cronograma que havia preparado. — Olhe, no final de semana pensei em algumas formas de cumprir com o que pede o edital do concurso e algumas músicas possíveis. Organizei tudo o que era necessário, desde coisas como tempo para ensaiar, alguns passos para as coreografias e o que vamos precisar que a escola ajude.

Uma chance para recomeçarWhere stories live. Discover now