Capítulo 6 - Os desafios

4 0 0
                                    


Poucas coisas faziam com que Dulce desistisse de algum projeto que tinha em mente. Uma delas era a falta de apoio de quem estivesse a seu lado, isso a desanimava e a fazia rever o planejamento do projeto em questão. Outra era o risco que era colocado a partir do momento em que decidia colocar em ação. Por último, Dulce decidia desistir quando havia uma barreira muito grande que não a deixava seguir. No caso do concurso, Dulce tinha três problemas.

Com o atentado na escola, Dulce tinha conseguido o apoio do estúdio de dança da cidade, que não era assim tão aberto mas tinha concordado em ceder o espaço para os ensaios. No entanto, ao comunicar a Margaret a solução pra o problema, esta tinha sido contra e tinha dado uma bronca enorme por Dulce não ter comentado antes de ter feito.

— Você não está autorizada em negociar em nome da escola — a diretora proferiu. — Nós temos regras em relação a isso, contratos, tudo tem que ser muito bem conversado e acordado antes de colocar as crianças lá dentro.

— Margaret, você tinha alguma melhor opção que essa? — Dulce perguntou, em tom de desafio.

— Não. E nem você poderia ter feito — Margaret estava irredutível.

— Está feito, conversado, eles estão de acordo com o que combinamos. É tudo questão de publicidade — argumentou.

— Não podemos usar nossos meninos como moeda de troca, isso não é ético.

— Os meninos não são moedas de troca. São o resultado de um treino árduo — Dulce, que antes estava dando voltas na mesa de reuniões da escola, sentou-se de frente para a diretora, segurando as mãos dela. — Veja, eles não vão conseguir competir se não ensaiarem. Eles não vão conseguir ensaiar se não tivermos um lugar para isso. E não podemos deixar que as crianças paguem pelo erro de outra pessoa. Eles irão ensaiar num espaço adequado e competir. É para isso que estou aqui, para defender esse direito deles.

— Dul, isso é ótimo. Mas não podemos fazer as coisas assim, de sopetão. Temos que ter uma estratégia, um papel assinado, tudo certinho. O que diremos aos pais?

— Já tenho pronto o texto explicando sobre a mudança de local e a frequência dos ensaios também, com a data e o horário certinho. — Dulce tirou de dentro de uma pasta um papel com um texto explicativo e entregou a Margaret. — Também explico aqui que a escola de dança cedeu gentilmente o espaço de graça e que, em gratidão, vamos colocar o estúdio como patrocinador.

— Certo. Eu vou colocar no modelo timbrado. — Margaret tirou o papel da mão de Dulce, lendo-o rapidamente e indo até o computador da sala. — Mas eu preciso que você faça algo para que eu fique tranquila com essa situação.

Dulce assentiu, em concordância. Faria qualquer coisa para não perder esse aliado importante.

— Vou fazer um contratinho em duas vias, explicando os termos. Que eles nos ajudam com o espaço e a dança durante esse período e nos horários que você colocou aqui e, em troca, a gente promove o nome deles na capital. Sem menção a dinheiro. — A diretora olhou séria para Dulce antes de sentar-se à frente da tela para digitalizar o documento. — E você se encarrega de que tenhamos tudo assinado e arquivado aqui na escola. Vamos assinar nós duas e Daisy.

— Considere feito, chefe.

Dulce concordou, sem maiores questionamentos. Se esses eram os termos da escola, então ela seguiria. Ela sabia que seguir com os ensaios era uma forma de continuar e mostrar ao autor dos atentados que ele não mudaria a vida dela fácilmente, ela lutaria contra isso. Por outro lado, ela sabia que seria um risco. Ele tinha pedido a ela que o encontrasse, e ela estava evitando por enquanto, porém chegaria o dia que o encontro aconteceria. Até lá ela teria que estar atenta, não queria que ele inventasse boatos sobre ela e divulgasse por aí. Isso acarretaria consequências não apenas a ela, como também à escola e às crianças.

Uma chance para recomeçarWhere stories live. Discover now