Parecia um fim de semana bastante comum, fora que Dulce sentia mais dores do que de costume. Como indicado pelo médico, já havia tomado duas vezes o medicamento, mas não deixava de sentir que um caminhão tinha passado por cima dela, ao mesmo tempo em que se sentia anestesiada. Não podia se mexer tanto.
Tentou pensar que dia era, o que tinha feito ontem, o que faria amanhã, o que era aquilo no canto do quarto, que não conseguia reconhecer. Tudo estava embaçado devido ao remédio. Parou de se colocar pressão e deixou que os pensamentos viessem. Descobriu que era domingo, que Luisa estava dormindo ao seu lado, que estava em casa, que tinha um monte de roupa para lavar e que no dia anterior tinha viajado. De carro. Quem diria. Se era domingo, então era dia de cuidarem da casa. Todo domingo faziam isso: alguém varria, outro limpava e o terceiro cuidava das roupas e da organização, enquanto o papel de Luísa era desfazer tudo que estava feito, como boa criança que era.
Ficou ainda um bom tempo na cama imobilizada pelas dores, tentando adivinhar qual seria sua parte hoje, mesmo que estivesse sem condições de fazer qualquer coisa. Ela queria não sentir mais nenhuma dor, poder ser livre para escolher fazer as coisas por questão de vontade e disponibilidade, no lugar de ser impedida por algo que não tinha controle.
Ela ouviu batidas na porta seguidas de alguém que colocava a cabeça para dentro do quarto e sussurrava com delicadeza.
— Dul, está acordada?
Ela queria responder no mesmo tom, mas não sentia ter muito controle de si. Grunhiu alguma coisa, o que fez com que Paola entrasse e fechasse a porta atrás de si.
— Amiga, está bem? — continuou sussurrando. — Pablo disse que ontem foi algo incrível e que você precisou se esforçar bastante.
— Foi — Dulce respondeu, tentando sorrir ao mesmo tempo, sem muito sucesso.
— E como você está se sentindo? Eu vi que você tomou mais de um remédio.
— Eu vou ficar bem. — Ela não queria se alongar muito, porque suas palavras saíam cada vez mais emboladas.
— Certo. Você quer que a gente traga algo para café da manhã? Pablo está querendo ir buscar alguma coisa no Lucas.
— Vou com vocês.
— Que jeito? Você precisa se recuperar um pouco mais primeiro... — questionou Paola, bastante preocupada.
— Eu consigo.
Dito isso, Dulce se levantou com muito custo, se apoiando no que houvesse por perto, e foi se arrumar. Paola respirou fundo, achou que era melhor ficar por ali para ajudar, caso fosse necessário. Nesse meio tempo, Luísa também acordou e Paola ficou com a tarefa de trocar a menina e ajudá-la com a higiene.
Em pouco tempo, todos já estavam prontos para tomar café, e já se dirigiam lentamente, respeitando o ritmo da amiga, para a lanchonete.
***
O café-da-manhã animou Dulce e permitiu que ela tivesse um pouco mais de forças para seguir o dia, embora ainda sentisse bastante dor. A caminhada também rendeu a Luísa uma visita ao parque por alguns minutos, deixando o lugar pouco tempo depois. A volta para a casa foi divertida, como sempre era ao lado de Paola e Jorge. Paola ia à frente rindo dos comentários dos amigos, enquanto Jorge e Dulce caminhavam lado a lado compartilhando o fone de ouvido ligado ao celular de Jorge. Ele colocava músicas esquisitas para que Dulce ouvisse e dissesse o que achava. Luísa ia de mãos dadas com a mãe, segurando sua boneca favorita nos braços. Tudo andava como um final de semana comum.
Até que Paola chegou antes dos amigos em frente a casa. Um grupo grande de pessoas estava ali, sentado na varanda e parecia estar esperando por eles. Paola não os conhecia mas imaginava que eram familiares de Dulce pela semelhança.
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Uma chance para recomeçar
FanfictionApós graves acontecimentos, Dulce sentia que não era mais a mesma. Sentia diferença em seu corpo, em suas memórias e tudo a levou a estar em outro lugar. Lentamente, a readaptação acontecia e a sua nova vida conseguia caminhar a passos lentos, mas u...