1 - Um dia encantado

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Aquele nem parecia um dia tão especial. É que olhando assim, com olhos humanamente distraídos, parece apenas mais um dia em que as crianças brincam de manhã sob a sombra da densa mata que envolve o clube do Alphaville de Salvador, onde elas moram. 

Se bem que olhando de outra forma, todos os dias podem ser únicos e especiais. Nenhum, no entanto, será tão mágico e especial para aquelas crianças e os guardiões. Tão especial que este foi o dia em que alguém percebeu que este pequeno pedaço de Mata Atlântica foi batizada e se tornou:

O VALE ENCANTADO DE SALVADOR.

Figura 1 – Imagem aberta do Vale Encantado de Salvador

- Pegue a bola, Nina. – Gritou Luma para a irmãzinha.

- Eu não! Foi você que jogou. – Disse Nina, demonstrando ficar aborrecida julgando que aquela é mais uma das muitas vezes que a irmã pede para ela fazer o que ela mesma, Luma, deveria fazer.

- Joguei e você não pegou. Essa é a regra. – disse Luma que adorava a irmã que para ela sempre foi a coisa mais fofa do mundo. Beijar as bochechas macias e doces de Nina era algo que ela fazia tanto quanto pedir para a irmã pegar as coisas para ela.

- Jogou fora do meu alcance. – disse Nina que aprendera a falar não fazia tanto tempo assim. E que só agora começava a dizer não para alguns chamados e pedidos da irmã. Dizer não é algo que toda menina precisa aprender para não cair nas armadilhas da vida ou para simplesmente não ser feita de trouxa.

- Você nem tentou pegar. – disse Luma.

João, que sempre queria ser gentil com as duas irmãs que eram como irmãs para ele também, já que foi ali, há poucos anos, que começaram a dar os primeiros passos e a poder caminhar com as próprias pernas, chegou a sair da piscina para ir buscar a bola - Ele sempre queria proteger Nina, a mais nova da turma. – Ele, no entanto, parou para beber água na garrafinha, e nesta fração de tempo, Nina fez o que sempre fazia: atendeu o pedido da irmã mais velha. Saiu da piscina para pegar a bola. Só que ao ver a bola, Nina disse, retraindo-se:

- A bola caiu na mata e rolou lá para baixo.

- É só ir lá e pegar. – Falou Luma como se fosse simples assim.

- E quem vai lá? – perguntou Fernandinho, - Ontem saiu uma cobra gigante aí de dentro. Meu pai disse para a gente nunca entrar aí.

Bia, a irmã de Fernandinho, acenou com a cabeça concordando. Bia e Fernandinho tinham mudado há pouco tempo para ali. Para eles aquela mata era uma floresta misteriosa e assustadora. E na semana passada uma sucuri enorme havia entrado na área da piscina da casa deles.

Marina aproveitou a parada para pegar o celular e tirar uma selfie e registrar seus traços fortes de menina morena. Ela era a única, até aquele dia, que já tinha um celular só seu.

- Vamos chamar um adulto. – disse a esguia Bia, que sempre tentava usar sua sabedoria de menina.

- Está muito cedo. Os funcionários não chegaram ainda. – Disse Marina, para quem o clube era uma extensão da casa em que vive desde que se conhece por gente.

- Sei não, viu! A bola está logo ali. Vocês têm medo de tudo. Nina têm medo até da sombra. – Disse Luma pegando a garrafinha da mão de João e tomando um longo gole. E leve, livre e destemida como é, desceu com a garrafa na mão por entre as árvores para buscar a bola.

Aquele era um pedaço um pouco mais descampado da mata, e Luma, que cresceu vendo aquela mata todos os dias, se sentiu protegida pela luz do dia. E caminhou sem medo de perigo, iluminada pela luz verde e macia do sol que atravessa por entre as árvores.

SALVADOR DO VALE ENCANTADO (Nome apenas para esta versão do whatpad)Where stories live. Discover now