No futuro nunca faz sol e o ar é difícil de respirar. As grandes corporações substituíram os governos e o planeta foi destruído. Metade das pessoas são androides e os poucos humanos não conseguem encontrar a felicidade. Mesmo em um ambiente assim, é...
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— Desculpe, mas... isso aqui não vale porcaria nenhuma.
O comprador de peças do meu bairro analisa as fotos e vídeos que fiz da Sofia. Dá risada e chama o sócio que também faz pouco caso do que vê.
— Bom, alguma coisa deve valer, certo? Qualquer valor me deixa no lucro.
— Claro que te deixa no lucro, você deve ter encontrado essa velharia no lixo — ele diz ainda analisando as fotos. — Você vai se livrar dela e eu vou ficar com um peso de papel gigante ocupando espaço na minha oficina.
— Cara, me ajuda. Leve por dois créditos, que seja!
— Sério, Erick. Essa coisa é tão velha que eu não sei nem para que serve. É uma androide artista? Você disse que ela fala muito, né?
— Não para de falar...
— Então pode ser uma daquelas acompanhantes de idosos. Sabe, as que servem só para fazer companhia? Isso vale menos ainda.
Resolvo insistir, mesmo sabendo que ele parecia decidido.
— Tem certeza de que você não consegue aproveitar nem os parafusos?
Ele ri.
— Erick, estamos em 2077. Falta batata e água no mundo, mas temos parafusos de sobra!
***
Abro a porta do apartamento, Sofia olha para mim e sorri. Ela passou o dia inteiro sozinha olhando para a parede e não se importou.
— Você parece irritado — observa.
— Dia difícil no trabalho — minto.
Puxo uma cadeira, fico de frente para ela. O que vou fazer com esse pedaço de lixo?
— Você quer uma massagem? — Ela pergunta. — Eu sei fazer!
Faz massagem, claramente só pode ser uma acompanhante de idosos. Penso em perguntar, mas lembro que pessoas sintéticas não sabem dizer necessariamente o seu propósito. Um algoritmo não pode falar sobre o próprio algoritmo, até onde sei.
A primeira vez que vi um robô pessoalmente foi com onze anos. Tem gente que já nasceu dormindo nos braços de um modelo T-620 e cresce criando vínculos com eles. Muitos deles viraram radicais, militantes pelos direitos dos sintéticos, como se eles não fossem só produtos.
— Não quero. Obrigado.
— Deixa de ser bobo, eu faço só um pouquinho.
Ela estende a mão e pressiona os dedos no meu pescoço. É impressionante.
— Uau! — Exclamo.
— O que foi?
— A sua pele — passo os dedos pelas costas da sua mão e deslizo no braço até a altura dos cotovelos. — Parece real. Eu não saberia diferenciar de uma pele humana!