No futuro nunca faz sol e o ar é difícil de respirar. As grandes corporações substituíram os governos e o planeta foi destruído. Metade das pessoas são androides e os poucos humanos não conseguem encontrar a felicidade. Mesmo em um ambiente assim, é...
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— Erick, você é definitivamente um novo homem! — Gabriel dá tapinhas no meu ombro enquanto fala isso no horário de almoço, segurando um garfo com a outra mão. — Agora você sorri mais, está mais falante. Parece até mais saudável! Tenho certeza que isso é coisa daquela namorada que você me falou. Qual é o nome dela mesmo?
— Sofia — respondo.
— Sofia! Isso! — Ele exclama deixando a comida do garfo cair. — Nós devemos sair qualquer dia, sabe? Passa lá em casa, aproveita para conhecer a minha esposa. Que tal?
Gabriel pode me considerar um idiota, um esquisito. Posso ser julgado, mas não me importo.
— Sofia é um andróide.
— Bacana. Eu também sou, nunca te contei?
***
Estou fazendo o trajeto de sempre de volta para casa. Recentemente, instalaram uma propaganda holográfica. Uma moda publicitária em que, teoricamente, cada humano que passa por ela recebe uma propaganda personalizada. Até então, só recebi anúncio de pastas de dentes.
Tomo um susto ao cruzar o anúncio. O rosto de Sofia está lá. Exatamente os mesmos traços, os mesmos olhos, que me esperam em casa. Aproximo-me e ouço o que a propaganda tem a me dizer.
"Está de volta o modelo S2-555, a melhor andróide namorada do mercado. Programada para conquistar o seu coração. Enquanto humanos são traiçoeiros e podem te largar a qualquer momento, a S2-555 está pronta para te amar até o fim. Nunca mais fique sozinho.
Para que ter um amor normal se você pode ter um perfeito?
Encomende a sua S2-555 clicando no link abaixo."
Sinto uma pontada na altura do estômago. Tento recobrar o equilíbrio e, sem pensar, tento me apoiar na propaganda. Minha mão passa direto por ela, mas consigo evitar uma queda me escorando na parede de maneira desajeitada.
Merda.
Pego meu celular e copio o link da propaganda.
***
— Você está bem? — Sofia parece preocupada assim que cruzo a porta. — Está chorando? O que aconteceu?
Sento na primeira cadeira que encontro e respiro fundo. Tento me concentrar em vão. Sofia se aproxima e faz carinho nos meus cabelos enquanto pergunta, aflita, o que me deixou assim.
Olho para ela. É falso, é tudo falso. Não há nada especial aqui. Só um bando de uns e zeros escravizando Sofia para fazê-la acreditar que eu mereço alguma atenção.
Estendo o celular com a propaganda aberta. Ela pega e assiste tudo. A luz do aparelho ilumina o seu rosto enquanto as suas sobrancelhas arqueiam, sua mão cobre a boca e as primeiras lágrimas começam a brotar. Eles até choram!
