E é nesse mesmo sussurro que Dorothea começa a traduzir as palavras de Xaver:
"Querido Emil,
Seus pais não nos permitem ver um ao outro.
Recorro a esta carta para escrever o que eu nunca fui capaz de lhe dizer.
Eu quero que você saiba que eu te amo.
Sim, Emil, eu te amo.
Eles nos ensinaram que isso não era amor, mas percebi que era sim.
O que você e eu tivemos é o amor mais verdadeiro que já senti.
É por isso que não quero perder você sem lhe contar.
Eu te amo desde o primeiro dia em que entramos no instituto e escapamos para o cemitério para fumar um cigarro.
Eu te amo desde o dia em que você aqueceu minhas mãos com a sua respiração porque eu perdi minhas luvas.
Eu te amo desse nosso beijo no estábulo dos Sander.
Eu te amo tanto que a ideia de te ver de novo foi a única coisa que me manteve vivo nas trincheiras sérvias.
Seria o suficiente você me olhar nos olhos para entender.
Não precisaria palavras. Nos olharíamos e seríamos novamente crianças nos corredores do instituto, antes da morte, antes das bombas, diante dos velhos que transformaram tudo isso em ódio.
É por isso que estou debaixo da sua janela há meses, para ver você de novo, mesmo que apenas por um momento. Para o seu sorriso volta a me fazer acreditar que o nosso amor significou tudo e lançou alguma luz neste século que já nasceu morto.
Eu te amo e aconteça o que acontecer, eu sempre estarei com você.
Seu, Xaver."Quando Hermann terminou de ler a carta, os dois estavam chorando. Emil, quase sem voz, pediu que o amigo o ajudasse a se levantar.
Emil estava tão fraco que parecia que nem sequer conseguiria chegar à janela, mas conseguiu. Ele recuou as cortinas, olhou para fora e, pela primeira vez em anos de horror, seu rosto se abriu em um sorriso.
Porque lá embaixo, na rua, Xaver estava o olhando de volta. Porque o homem que ele amava tinha dito que te amo pela primeira vez e ele estava respondendo, mesmo muito fraco, com sua respiração embaçando o vidro da janela.
Xaver nunca pôde ouvir o "ich liebe dich" de Emil, mas ele sentiu nas profundezas de sua alma uma bênção. Naquele momento Emil levantou o braço em saudação... E foi assim que Xaver o pintou em sua última tela.
Naquela mesma noite, em 12 de dezembro de 1916, Emil Muler morreu.
Ele tinha 22 anos.
O silêncio cai no quarto de Alina Balan como uma sentença. A velha o rompe com sua voz quebrada
- Pelo menos eles tiveram aquele momento. Outros nem sequer isso.No dia seguinte à sua morte, Emil foi enterrado no panteão da família e Xaver parou de pintar. Sabemos que ele morreu meses depois, mas o que aconteceu com ele naquela época? E o mais importante... como eles acabaram enterrados juntos?
Alina vasculha o álbum e me mostra uma foto do túmulo de Emil em 1916. Ele foi efetivamente enterrado sozinho.É estranho ver esse espaço vazio ao lado de seu nome. É como se Xaver estivesse destinado a ocupá-lo em outro túmulo do futuro. Pergunto onde posso encontrar essa lápide, mas a velha me diz que ela não existe mais e retoma sua história.
Metade da cidade foi ao funeral de Emil. O pequeno Muler morreu como um herói e seria enterrado com honras. O velório aconteceu na Igreja da Colina, ao lado do instituto das crianças e do cemitério.
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Emil e Xaver
Teen FictionUma história sobre o mistério que está por trás de uma lápide onde jazem dois soldados do Império Austro-Húngaro que lutaram e morreram na Primeira Guerra Mundial... E que foram enterrados juntos. Essa história é do Guillem Clua, traduzida no twitt...