CAPÍTULO 2

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DEPOIS DE UMA TARDE organizando a casa do príncipe Constantin Glawstess-Copperburn, Camelia Lancaster retornou a Kensington, pensando em como ajudaria Annabel. Questionou-se como uma garota tão bonita e querida como ela, acordou em uma viela escura e fria como aquela. Talvez ela teria sido vítima de um assalto. Quando abriu a porta da entrada, deu de cara com ela chorando agarrada à poltrona na frente da lareira, que aquecia o ambiente.

- Por que está chorando, Annabel? - Perguntou a ela.

- Eu queria saber de onde vim, sobre a minha família. Não sei nem como fui parar naquela viela! - Ela soluçava entre as lágrimas.

- Paciência, querida. Paciência. Nós vamos descobrir, acredite. Agora, acalme-se e escute o que eu tenho a dizer. – Annabel se acalmou e se sentou na poltrona. Assim, Camelia voltou a falar. – Você sabe cozinhar, Annabel? Ao menos se lembra de algo?

- Bem, eu posso tentar cozinhar. Eu fiz um sanduíche à tarde. Eu sei que não conta muito, mas pode ser que na hora de preparar os ingredientes, eu consiga fazer alguma coisa.

- Eu trabalho na casa de um príncipe. - Annabel a olhou com atenção. - Sim, de um príncipe. Já ouviu de Beverdorn, uma ilha que fica no Mar do Norte?

Annabel negou com a cabeça. Onde ficava aquele lugar?

- Esse país é muito frio e o príncipe vem a essa casa apenas quando tem negócios ou assuntos de Estado para resolver.

- Entendi. Ele vem para cá de tempos em tempos. Isso?

- Exatamente. Ele está na casa e eu conversei com o chef de cozinha Bertrand e como eu sou governanta, ele me relatou que precisa de um assistente de cozinha, para preparar alguns alimento e às vezes, para servir também. Não é um serviço pesado, mas pelo menos você manterá sua cabeça ocupada até começar a se lembrar de sua família.

- Dona Camelia, eu agradeço, de verdade. Eu estava pensando de tarde que deveria arrumar um emprego, pois sinto que já estou abusando da sua boa vontade. Não quero atrapalhar em nada.

- Já disse que não está atrapalhando, Annabel. Mas o que me diz, aceita o trabalho? Assim, você se manterá ocupada e quando quiser sair de lá, avise-me.

- Obrigada. Camelia. Sempre serei muito grata a você.

Depois que ela conversou com Camelia, Annabel leu outro romance e viajou entre as páginas dos livros. Enquanto isso, Camelia preparava um delicioso jantar para as duas. Annabel se levantou e ajudou a pôr a mesa. Os pratos de porcelana eram delicadamente decorados com flores e os talheres de prata acompanhavam as louças. Camelia contou a ela que foram presentes de casamento e estavam com ela há muitos anos.

Elas colocaram as comidas na mesa. Um prato atrativo de batatas assadas, com rosbife gratinado e uma salada de folhas verdes. As duas saborearam a refeição, ao mesmo tempo que Camelia contava algumas histórias que viveu durante a sua vida. Também contou, mais detalhadamente, como era o seu trabalho na casa do Príncipe Constantin. Relatou que ele gostava das coisas perfeitamente arrumadas, e também de uma boa taça de vinho durante à noite. Annabel anotava mentalmente esses lembretes, para ajudá-la no seu novo emprego. Embora não lembrasse de quem era, Annabel era otimista de que se daria bem no novo trabalho. Terminaram a refeição e ela se ofereceu para lavar a louça.

Camelia foi descansar e Annabel pensava com curiosidade como era trabalhar para um príncipe. Perdeu-se nas suas reflexões e nem notou quando terminou de limpar as baixelas. Seguiu para o quarto de hóspedes e pegou no sono assim que deitou no travesseiro.

NO OUTRO DIA, ambas acordaram cedo para ir ao trabalho. A neve se tornou mais espessa nas ruas, causando um verdadeiro caos no trânsito e nas escolas de Londres. Camelia havia emprestado alguns de seus casacos quentes à Annabel para esquentá-la. O frio estava tão intenso, que o vidro dos carros estacionados na rua estavam congelados. Elas apressaram o passo, e alcançaram a casa de Constantin, que não ficava longe dali. Abriram o portão de ferro que rangia, como o da casa de Camelia.

Quatro seguranças engravatados estavam na entrada da frente, mas como eles já conhecia Camelia há anos, liberaram a passagem. No entanto, perguntaram quem era a jovem que a acompanhava. Annabel permaneceu quieta, enquanto Camelia explicava que ela estava conhecendo o novo ambiente de trabalho. Elas adentraram o recinto, ao mesmo tempo que um luxuoso carro também entrava na propriedade. A frente da residência era espetacular. As paredes feitas de tijolos davam um ar de rústico ao local, junto ao jardim muito bem cuidado.

Janelas altas e brancas permitiam uma grande entrada de luz solar. Acercaram a entrada em forma de arco, e a porta em estilo antigo. Camelia deu uma leve batida e uma das empregadas abriu a porta. Annabel observou com atenção o interior da sala, que era o primeiro cômodo. Duas grandes escadas de jatobá, uma madeira nobre e nativa da Amazônia, que se juntavam para dar acesso ao segundo andar do ambiente. Um belo e longo tapete persa descia pela escadaria. O chão feito de pisos reluzentes, também de madeira, completava a sofisticação da sala de estar. Elas seguiram direto à cozinha, que ficava ali perto.

Bertrand as esperava, já preparando o café da manhã. O cheiro delicioso de ovos e bacon se sentia de longe. Era o típico café dos britânicos. Ovos, bacon, e pão frito, acompanhado de um forte café. A cozinha, não muito diferente das outras alas da casa, era muito bonita. Uma ilha de mármore e madeira escura, bancadas tão brilhantes que pareciam ter sido recentemente limpas. Fornos enorme embutidos nas paredes e um grande fogão prateado acresciam ao âmbito.

- Então, você é Annabel. Que garota adorável, Camelia! - Annabel sorriu. Bertrand era rechonchudo e baixinho, e beirava aos cinquenta anos.

- Ela é muito querida também E aprende rápido também. Não é, Annabel?

- Eu espero que sim. - Ela sorriu novamente. - Eu gosto de cozinhar e sei que será muito bom trabalhar aqui com vocês.

- Viu só, Bertrand? Ela é perfeita para o cargo! - Camelia disse, entusiasmada. - Bom, já chega de papo. Eu preciso liderar isso aqui, antes que Vossa Alteza fique zangado comigo. Ele deve chegar a qualquer momento. - Camelia se retirou e pediu que Bertrand ensinasse tudo que fosse preciso a Annabel.

Enquanto isso, quatro ou cinco pessoas passavam pano pelo chão, naquele ambiente, com um ar masculino. Annabel prestava muito atenção ao que Bertrand dizia, onde colocar os temperos, os embutidos e até vinhos. Aquele homem era muito rico, Annabel pensou. Quando o café estava pronto, o chef pediu que o levasse para mesa para servir o Príncipe Constantin. No entanto, Annabel quase derrubou a bandeja quando um par de olhos azuis capturou os seus, os olhos mais bonitos que ela já havia visto. Parecia que o tempo havia parado, e ela não conseguia se mexer.

Memórias de Um Amor (Conto Único) (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora