2. Decalcomania.

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Aprendi em uma aula de artes que decalcomania é a arte de produzir quadros, calcando com a mão, contra um papel, desenhos já estampados em outro papel.

Acho que eu não tenho um outro lado. Um lado desconhecido pelas pessoas que só me vêem pela metade. Eu sou exatamente igual para todos, não tenho aquele “lado legal” ainda não descoberto pelas pessoas. Eu sou uma moeda de duas caras, sem uma coroa. Não tenho um talento que ninguém sabe que eu tenho, como um desenhista brilhante, ou um cantor excelente. Quer dizer, ninguém sabe que eu faço poemas, mas eu não enxergo meu hobbie como uma grande coisa, algo importante o bastante para fazer as pessoas ficarem embasbacadas. Então se alguém de fora me conhecer e tentar se aproximar de mim para descobrir alguma coisa minha, vai ficar decepcionado ao saber que eu não sou mais do que aparentei ser. Eu pareço uma pessoa super depressiva falando isso, mas eu não me importo realmente com o que as pessoas pensam de mim. Eu só não sou... extraordinário.

Passei os dedos delicadamente por cima da imagem decalcada do livro grosso que eu estava segurando, observando a borboleta colorida que tomava conta de toda a página. Suspirei, fechando o livro e o colocando sobre meu colo. Encarei os outros livros que estavam ao meu redor, no carpete do chão da biblioteca, pronto para serem organizados. Rolei os olhos por cada um, prestando atenção em cada detalhe da capa e lendo os títulos.

Uma nova caixa de livros chegou hoje, e dessa vez eu era o responsável por arrumá-los. Uns eram romance, como uma série de oito livros da Julia Quinn que estavam espalhados no chão ao meu lado direito, outros eram científicos, como o livro que descansava em meu colo, poucos de terror, estes que ainda estavam na caixa, e vários livros de mitologia grega, Rick Riordan.

Suspirei pesadamente, deixando minha cabeça cair para trás, ficando apoiada em uma das estantes. Eu estava em um dos corredores do meio, entre uma estante e outra, sozinho enquanto a maioria dos adolescentes estava no centro da biblioteca, na área de estudos. Cocei um dos olhos, pegando meu celular — que estava jogado entre os livros — e verificando as horas. Só restavam meia hora para eu sair, e eu ainda tinha que procurar o lugar de cada um desses livros. Murmurei baixinho qualquer coisa ininteligível, colocando o livro de volta na caixa. Segurei em uma das estantes e me levantei, sentindo minhas pernas falharem por ter ficado tempo demais sentado daquele jeito, mas logo voltando a sentí-las.

As moças da recepção devem acumular varizes com o tempo que ficam naquelas cadeiras desconfortáveis, além de contarem os minutos até o expediente acabar.

Tenho que me lembrar de não tentar ser um recepcionista quando precisar de um emprego.

Bocejei, passando uma mão no cabelo. Passar as tardes trabalhando aqui era legal até certo ponto, mas depois de um tempo cansava e dava sono. É muito quieto, como uma biblioteca deveria ser, então eu sempre fico alguns minutos mexendo no celular quando não tenho nada para fazer, só para não acabar dormindo em uma cadeira e acordar com uma dor nas costas terrível.

Me abaixei, colocando todos os livros na caixa e a carregando até as sessões designadas. Carregar uma caixa cheia de livros é bem pesado, e qualquer um que diga que não, está completamente enganado.
Entrei nos corredores e briguei para arranjar espaço nas prateleiras, indo e voltando para lá e para cá. Eu certamente conhecia esse lugar de cabo à rabo, sem exceção. Eu comecei a ajudar aqui no segundo semestre do ano passado, literalmente um ano atrás. Eu observava as pessoas estudarem, lia diversos livros todos os dias e ainda escrevia algumas coisas. Inclusive já aluguei vários, e tenho uma montanha para ler quando chegar em casa. A melhor parte é que eu aprendo cada dia mais, e muitas informações já me ajudaram muito a estudar.

Eu, na verdade, sou um ótimo aluno. Não tenho dificuldade em nenhuma matéria, e olha que eu 'tô praticamente na porta da faculdade. As coisas simplesmente vão, e eu só as entendo. Não sei que mágica eu faço para isso acontecer, só sei que dá certo e é sucesso.

Com Amor, Park • jikook!Onde histórias criam vida. Descubra agora