sunflower

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Doyoung segurou a pétala apenas para soltá-la novamente, porque era como se ela queimasse não só seus dedos ou sua mão, mas ele inteiro. 

Os girassóis não haviam crescido o suficiente para que fossem replantados no jardim, mas também não haviam sido regados o suficiente para que não morressem de sede. Que seja, Dongyoung não se importava com eles, não mais.

Cada canto de sua casa possuía o cheiro de Jungwoo. Cada vez que fechava seus olhos conseguia sentir a presença dele, ver o contorno de seu corpo e seu rosto perfeitamente desenhado. O Kim mais velho passara a odiar todos os cômodos.

Ele precisava se embriagar, precisava esquecer que tentava esquecer o de fios claros. O tempo não lhe estava curando, e ele não podia mais esperar pela boa vontade do mesmo.

Abriu a geladeira e buscou por uma garrafa de vinho. Quando o primeiro gole desceu por sua garganta, o garoto seguiu até sua costumeira sala de criação. As telas estavam espalhadas numa bagunça organizada, algumas pintadas, outras rabiscadas e as que ainda esperavam por se tornarem algo bonito. Sabia que suas pinturas não seriam de grande aclamação naquele momento, provavelmente um emaranhado feio de cores escuras e sombreados, além de desenhos assustadores. Mas apesar de ela não estar mais ali, ainda se lembrava da inspiração de se estar apaixonado.

🌻🐚🌻

07 de março de 2017.

Já faziam dois meses e alguns dias desde que Doyoung oferecera moradia para o garoto desconhecido da praia.

Jungwoo já sabia que Doyoung vivia de seus quadros e da pequena galeria que tinha no centro da cidade. E adorava passar horas em silêncio, sentado próximo da porta, observando as obras do mais velho tomarem vida.

O talento do mais baixo era inquestionável, e por isso o mais novo vivia incentivando Doyoung a continuar pintando.

- Sinceramente? Se eu já não gostasse de arte, passaria a gostar depois de ver seus trabalhos - comentava ele ao observar a parede coberta de quadros e folhas de papel pintadas.

Doyoung riu baixinho com o elogio e deixou a tela que pintava de lado. -  Sinceramente? Nenhuma delas é mais bonita do que você. Se você me deixasse te desenhar...

Jungwoo mordeu o lábio inferior para abafar um risinho e olhou para baixo. Há semanas que o de cabelos pretos vinha pedindo aquilo para o Kim mais novo. Jungwoo negava, não queria ser eternizado em nada, nem mesmo em uma pintura. Mas naquele dia havia algo diferente no ar, na conexão entre os dois. E por isso, bagunçando o cabelo, se aproximou de Doyoung e puxou o outro banquinho, ficando de frente pro mais velho.

- Vamos lá. Você me convenceu.

- Mesmo? - arregalou os olhos. - Okay, não se mexa, você está perfeito assim!

Jungwoo respirou fundo, soltando todo o ar em um suspiro pesado. Tentava controlar seu rosto de corar. Sempre que tinha uma oportunidade o mais velho o elogiava, e aquelas palavras vinham mexendo com o Kim mais novo de uma forma nova para ele. Sabia que era bonito, muitas pessoas já lhe tinham dito isso, mas ouvir de Doyoung era diferente... Ouvir de Doyoung o fazia se sentir bonito por completo, como se o outro não visse somente seu exterior, mas o interior em conjunto.

- Sabe com o que o seu cabelo se parece? - Doyoung perguntou após longos minutos de silêncio e concentração. Ouviu um "hm?" vindo de Jungwoo. - Com girassóis.

- Você acha?

- Desde a primeira vez em que nos vimos, lá na praia. O pôr do sol estava refletindo nele. - Doyoung largou o lápis que usava e então esticou seu corpo para se alongar e espreguiçar. - São minhas flores favoritas.

- Por quê? - perguntou com curiosidade. Era verdade que Doyoung vinha despertando a curiosidade do garoto, mais do que ele considerava seguro para si mesmo.

- Porque elas me lembram você - sorriu na direção do Woo. - Amanhã continuamos, já está ficando tarde.

Mas Jungwoo não ouvia mais nada. Seu coração batia tão rápido que parecia ter ensurdecido seus tímpanos. Não aguentava mais ouvir aquelas palavras de Doyoung, não aguentava mais saber se o garoto falava apenas da boca para fora ou se tinha alguma intenção real por trás. Jungwoo nunca planejou se apaixonar. Na verdade, essa era uma das coisas em sua lista de "proibições", mas ele simplesmente não conseguia evitar, não quando quem tomava espaço no seu coração era Kim Doyoung.

- Você gosta de mim? - perguntou sem hesitação. Doyoung congelou no lugar em que estava, a boca entreaberta e os olhos arregalados. - Eu acho que gosto de você.

🌻🐚🌻


Girassóis. Girassóis secos, mortos e feios. Uma paisagem nojenta, triste e melancólica. Doyoung odiava o que havia se tornado desde que o outro partira. Odiava ter perdido toda a inspiração.

Quando estava na companhia do outro, não conseguia parar de pintar. Qualquer coisa, por menor e mais simples que fosse, o inspirava a algo explendido.

Jogou a tela para longe e derramou todas as tintas no chão. Não ligava. Não ligava para mais nada.

Havia perdido tudo. Inclusive ele mesmo.


Sunflower | Dowoo (NCT)Onde histórias criam vida. Descubra agora