starfish

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O reflexo da lua parecia mergulhar no mar agitado. As ondas ricocheteavam nos grandes muros de pedra que formavam os penhascos da costa, e o vento forte parecia apostar corrida com o imaginário, uivando por entre as árvores. 

O corpo alto e esguio estava em pé observando a areia branca, esta por sua vez lhe retribuía revelando as pegadas de todos que por ali haviam passado naquele dia. E talvez os passos dele estivessem ali, entre tantos outros, seguindo pelo infinito até que sumissem por inteiro da vida e do pensamento.

Ele sempre deixou claro que não iria ficar. Que aquela era a última parada antes do fim de sua incansável e difícil jornada. E talvez Doyoung só não quisesse acreditar que o que ele dizia era verdade. Talvez Doyoung não quisesse acreditar que mesmo depois de dois anos, seu amor e seus cuidados não bastaram para mudar a decisão de Jungwoo.

Não poderia de forma alguma culpar o Kim mais novo, embora já o tivesse feito durante as recorrentes discussões que a proximidade de sua partida desencadeara. O de fios loiros sempre lhe fora sincero, e Doyoung aceitou aquele amor e aquela forma de vida por conta e risco. Então tudo o que lhe restava agora era observar o mar revolto, em pé no mesmo lugar em que vira aquela criatura fascinante e única pela primeira vez, e permanecer ali até que sucumbisse ao cansaço e ao esgotamento, emocional e físico. 

Não queria voltar para casa e cruzar aquelas ruas sozinho, não quando havia se acostumado com a presença do outro garoto. E em casa, lhe doía a imagem dos girassóis na janela porque eles o remetiam aos cabelos claros do mais novo, e lhe apertava o peito num sufoco insuportável ver que eles estavam morrendo e caindo ao chão. Doyoung até mesmo se comparava de forma mórbida a eles, afinal, as flores procuravam pelo sol e sem ele morriam. Jungwoo era o seu sol, e agora que não tinha ele...

Sentado a beira-mar o de cabelos pretos deixou que sua mente vagasse em lembranças de outrora, onde ainda era carregado pela excitação de uma nova paixão e pelo conforto de ter Kim Jungwoo ao seu lado. 

🌻🐚🌻

15 de dezembro de 2016.

Doyoung pulou da pequena elevação que era a calçada e enterrou seus pés na areia macia da praia. O dia fora ensolarado, mas o vento frio espantava a todos e ele sabia que não teria uma única alma viva naquele lugar além de si mesmo. Havia escolhido morar na praia por ser um lugar mais silencioso e recluso, não tendo de interagir com milhares de pessoas e enfrentar ruas e lugares cheios. Trabalhava numa pequena galeria de arte, expondo suas telas e outros trabalhos. Não era um lucro certeiro, mas conseguia sobreviver. 

Fez seu caminho até a beira do mar, não deixando de se espantar ao ver mais ao longe uma silhueta maior do que a sua. Era a primeira vez que via outra pessoa frequentar a praia no tardar do dia. E coberto de curiosidade e um leve fascínio, passou a observar o corpo ainda sem rosto e identidade. Apenas a carcaça de um ser humano que a princípio, aparentava ser um homem.

Uma onda se quebrou próxima a beira e a água chegou em seus pés descalços. Um cobertor gélido que deixou de lembrança uma fina espuma branca e o arrepio em seus pelos, causado pelo choque de temperatura. Ah... Como Kim Doyoung adorava aquela sensação, aquele carinho natural e aquela troca com a natureza e que só a natureza poderia lhe proporcionar. E a partir desse momento o homem mais ao longe perdeu toda a magia do mistério e se tornou uma peça obsoleta naquele cenário imenso. Seus pensamentos se ocuparam com o mar, e com a indagação do que poderia viver naquelas profundezas ainda não exploradas. 

- Ei! - um grito ecoou pela praia e trouxe Doyoung de volta de seus devaneios. O Kim de cabelos escuros virou o corpo na direção de onde viera o som e se deparou com aquele garoto outra vez, agora ele tinha os braços levantados para chamar a atenção de Doyoung.

Sunflower | Dowoo (NCT)Onde histórias criam vida. Descubra agora