sunwind

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Não havia mais lágrimas para se chorar. Deitado na cama, como um leito de morte, Doyoung estava seco. Completamente seco, desidratado, com ausência do que lhe seria composto 70% do corpo. Não havia mais esperanças para uma alma estraçalhada e comida por decompositores como um corpo em putrefação.

Ele sentia-se morto.

E Jungwoo estava em cada maldito canto daquela casa. Seu perfume, seu olhar, seu riso... Nada poderia tirar o garoto da cabeça de Doyoung. Então talvez fosse preciso arrancar a própria cabeça, jogar fora aquela mente apaixonada e melancólica. Se parecia mais uma vez com o fim.

Jungwoo, de fato, voltou após sua primeira partida. O mais velho continuava morando na mesma rua, e recebeu ao amante com portas abertas. Mas a primeira ida do loiro não levara apenas o corpo dele, ou as roupas dentro da grande mochila. Levara também uma grande parte da confiança que Doyoung possuía nele.

Inseguro, tinha medo de que o mais novo partisse a qualquer segundo. Com a dúvida que corria em suas veias, desconfiava das palavras e gestos de amor de Jungwoo. Receava se deixar levar mais uma vez, e entregar-se de novo aos encantos do outro. Não queria continuar aquilo se fosse por um tempo determinado, sem nem ao menos saber o ponto final.

E a partir daí uma sequência de brigas e desentendimentos começaram. Doyoung duvidava do amor de Jungwoo, duvidava da sua capacidade para fazê-lo feliz, e o mais novo sentia-se completamente ultrajado com tais acusações.

- Você foi o único que me fez ficar, Doyoung. E também o único que um dia me fez voltar. Dói-me saber que duvida do amor que sinto por ti.

Em certas ocasiões, Doyoung chorava e se lamentava por saber que não poderiam ser como antes. Mas ele não queria desistir tão cedo do menino com cabelo de girassóis, e o outro tampouco parecia querer deixar tudo para trás mais uma vez.

Quando as coisas voltaram finalmente aos eixos, fechavam-se dois anos desde o alinhamento de seus universos. Com uma taça de vinho, brindaram o tempo. E o de fios escuros presenteou ao mais alto com uma pintura.

Uma pequena tela com uma estrela-do-mar desenhada no centro. Ela era linda, retratada de uma forma que parecia até mesmo viva. E naquela noite amaram-se como o céu ama o mar.

O quadro não estava mais na parede branca. Mas o pintor ainda podia enxergar o corpo alto e magro de Jungwoo, parado em frente a tela, admirando os traços enquanto sua mente pairava num lugar muito longe dali. Um mundo inteiro, conturbado e miserável, dentro da cabeça de Kim Jungwoo. Doyoung nunca poderia entrar ali, e nem mesmo pinta-lo com cores vivas.

- Você é tão egoísta. Não acredito que irá me deixar mais uma vez.

- Eu não quero ser eterno...

- Isso não é a eternidade, Jungwoo! Você não será eterno, e eu não entendo as suas poesias mórbidas.

- Eu sou a pior obra que você poderia adorar, Doyoung. Me perdoe por estar fazendo isso novamente.

- Você nunca deveria ter voltado.

A casa parecia pequena demais, as paredes se fechavam ao seu redor. Doyoung precisava de ar.

Então ele lembrou do calor do sol, tão parecido com o quentinho dos braços de Jungwoo. E lembrou de como adorava a luz que irradiava daqueles olhos.

E por fim entendeu que Jungwoo não era um girassol, mesmo que seus cabelos assumissem a coloração das pétalas. Não. Jungwoo era maior do que isso.

Ele era uma explosão de calor e de luz, algo misterioso que marcara sua presença no mundo por milhares de anos. Ele não queria ser eternizado em nada, mas em cada lugar que visitara, ele deixou um pedaço de sua alma. Ele estava fragmentado, sem band-aids para colar os pedaços. Por meses, Kim Dongyoung conseguira preencher todas essas rachaduras, mas não era o suficiente. Nada poderia consertar o que Jungwoo uma vez fora.

Mas ainda assim, ele era maior do que um simples girassol. Mais poderoso do que uma delicada planta e mais intenso do que qualquer outra pessoa jamais fora.

Kim Jungwoo era sol.

E Doyoung seguia para ele como uma flor, como um girassol.

Era o vento solar que naquele momento guiava os passos do homem de coração partido. Enquanto as chamas consumiam o que chamava de lar, apagando todos os vestígios daquele desconhecido que lhe mostrara uma estrela-do-mar. O calor do fogo era como o sopro do sol.

Em cima daquele penhasco, que circundava a praia, ele encontrou a mochila e o quadro que dera de presente para Jungwoo. E puxado pela necessidade da luz do sol, jogou-se lá de cima, rumo ao oceano sem fim. De encontro ao corpo mergulhado de quem uma vez fora seu grande amor.

Girassol e sol, flor e estrela, se encontrando outra vez no espaço.

O que uma vez começara naquela praia, havia terminado no mesmo lugar. E a casa que sucumbia em labaredas, apagava toda a existência daqueles dois amantes, impedindo-os de se tornarem eternos.

🌻🐚🌻

E chegamos agora ao final da história.

Me sinto extremamente feliz e realizada por isso. Tenho essa como uma das minhas criações favoritas, e eu torço para que quem leia ela, independente de quando, goste assim como eu.

Sintam-se a vontade para entrar no meu perfil e ler as outras histórias já postadas. Serão todos bem vindos. Espero que tenham um ótimo tempo lendo elas. 💕.

Até a próxima.

Sunflower | Dowoo (NCT)Onde histórias criam vida. Descubra agora