Richie sempre ouvia histórias de como a última coisa que se via antes de morrer era a luz do fim do túnel, a famosa luz do paraíso. Richie viu a luz do conversível fodido de Bowers.
Estava escuro, mas Richie não sabia dizer ao certo se as luzes estavam apagadas, ou se seus olhos estavam fechados. As vozes de fundo pareciam tão distantes, como se milhares de travesseiros fossem colocados por cima de sua cabeça no intuito de que ele não participasse da conversa. Isso o deixava um pouco agoniado, desconfortável. Tentou se mexer, mas a dor que sentiu no local onde deveria estar sua — até pouco tempo, inteira — costela esquerda o fez soltar um grunhido pouco entendível. Finalmente conseguiu enxergar um feixe de luz, era forte e ardia os olhos, sentiu uma pontada leve ao lado da cabeça e mal podia enxergar os objetos naquela sala da forma que realmente eram. Fechou os olhos novamente.
"Eu tenho medo, quando será que ele vai acordar?"
Ele queria abrir. Parecia a voz de sua mãe, mas Richie não tinha certeza. Sentiu cheiro de álcool, de café preto. Sentiu também um cheiro cinza, um cheiro triste. Tentou abrir os olhos mais uma vez, dessa vez teve mais perseverança em lutar contra a claridade que parecia queimar suas córneas. Um zumbido no ouvido direito se fez presente, e de forma apática, tentou checar o local. A mulher morena sentada na cadeira ao seu lado sussurrou "Richie?", e em seguida correu até a porta para gritar por médicos. Depois de alguns segundos, notou ser sua mãe. Maggie Tozier voltou a poltrona, pegando na mão pálida e fria de Richie.
— Está tudo bem, querido. Eu prometo.
Richie não entendeu porque não estaria bem, mas também não questionou. Sua voz não sairia. Ele sentia como se estivesse aprendendo tudo de novo, enxergar, se movimentar, falar parecia impossível. Richie achou que era um sonho. O quarto branco e cinza, triste e frio o fez franzir a testa. Onde estava? Não se lembrava de ter ido parar ali, e aquele não parecia muito com seu quarto.
Memorava de seus passos no cinema, de como descia a rua Main quase no cruzamento com a Palmer. De carregarem as bicicletas enquanto gritavam palavras sujas e torciam para que ninguém saísse de casa e desse uma boa olhada nos rostos dos jovens problemáticos que causavam tanto barulho. Lembrou de observar Bill e Eddie juntos. Lembrou de ter ciúmes. Mas ele não lembrou com essa palavra, em sua cabeça, estava apenas irritado. Nunca enciumado. De qualquer forma, não lembrou de ter ido aquele lugar.
— Richie!
Beverly Marsh adentrou o quarto.
— O que...?
— Eu 'tô tão feliz que você 'tá bem. — A garota apertou o corpo pequeno e magricelo de Richie contra si, quase de forma sufocante.
— Com calma, Bev, ele fraturou a costela. — Maggie Tozier alertou docilmente a menina.
— Desculpa, Sra. Tozier.
— Que merda 'tá acontecendo?
Uma mulher uniformizada bateu na porta duas vezes antes de abri-la. Pediu licença e se dirigiu até um armário que se posicionava em um canto do quarto. Enquanto fazia alguns exames simples em Richie, Beverly contava sobre a noite anterior. Sobre Henry Bowers, sobre como ele jogou o carro não só nele, mas em Bill e em Eddie. Ambos estavam no hospital, mas Bill seria liberado. Richie estava com raiva, era acostumado com a falta de noção de Bowers, mas nunca imaginou um atropelamento. Conversavam sobre o que seria feito, sobre como Henry seria ileso já que seu pai é chefe do departamento de polícia. Richie queria mata-lo, mas se Henry o assoprasse, ele com certeza voaria. Seus pensamentos apenas se dissiparam quando Tozier viu a enfermeira, que agora segurava uma agulha grossa e pontuda se aproximar. Richie podia jurar que era do tamanho da porra de uma espada. Ela chegou mais perto do garoto, ele recuou na cama.
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Noites de verão - Reddie
FanficPorque para Richie, estar apaixonado por Eddie era como um coma. [a fanart na capa não me pertence, os créditos são completamente do artista] [também postada no spirit]