O quarto ainda estava bagunçado. Os mesmo edredons embolados, as latinhas de refrigerante, os pacotes de biscoitos. Richie estava em casa. Talvez preparado para fazer uma faxina no cômodo, claramente algo havia morrido ali dentro. O cheiro era terrível. Tozier caminhou até seu toca fitas, colocando uma das que gravou no dia chuvoso de 1988 em que Georgie saiu para brincar com seu barquinho de papel e não voltou mais para casa. Lembrou de Bill. Richie se sentiu culpado por não ter feito uma ligação sequer ao amigo, e mais culpado ainda de ter ficado com raiva quando Eddie se preocupou. Sacudiu a cabeça tentando afastar esses pensamentos, odiava se sentir culpado. Então, apenas apertou o botão do play, "I Want to Break Free" do Queens tocou. Richie sorriu enquanto jogava a cabeça de um lado para o outro. No ano de 1985, Richie a ouviu pela primeira vez, lembra como se fosse ontem da surra que tomou de Henry Bowers.
Ele andava pela rua Kansas com sua bicicleta ao lado, enquanto em seu tocador de fita cassete estava quardado no bolso esquerdo da calça. Estava indo encontrar com Stanley no Parque Memorial. Havia acabado de comprar o novo lançamento do Queens com a mesada que juntou. Naquela época todos sabiam que Freddie Mercury era "marica", como eles costumavam dizer, e a cidade de Derry não era bem evoluída, odiavam os homossexuais e faziam questão de deixar explícito com seus comentários homofóbicos. Richie não se importava, gostava da música. Mas Henry Bowers era um homofóbico do caralho. Sua gangue estava parada na esquina, cada um com um cigarro nas mãos e uma garrafa de algo alcoólico que Richie não sabia pronunciar o nome. Assim que Tozier passou, Patrick correu até ele o puxando pela gola da camisa, Richie foi de encontro ao chão e seus cotovelos — Agora ralados — o equilibraram.
— E aí, quatro olhos
Henry pulou da pedra onde estava sentado e olhou com malícia para Richie.
— O que tem aí, bichinha? — Bowers pegou do chão o toca fitas e posicionou os fones no ouvido.
— Me devolve, Bowers!
Richie gritou.
— Então o marica gosta de Freddie Mercury? Sabia que você torcia 'pro outro lado. — Henry disse, com deboche, mas Richie sabia que ele estava com raiva. Com nojo.
— Me devolve! — Richie gritou mais uma vez.
— Cala a boca!
Um soco. Depois outro. Depois mais um.
— Sua bichinha de merda!
Bowers não parou, junto com seus amigos deram uma bela surra em Tozier, que mal sabia da onde saia o sangue em sua cara, se era dos lábios cortados, do nariz, do rasgo na bochecha ou na testa. Richie juntou os pedaços do toca fitas que Henry fez questão de pisotear antes de ir embora. Ele estava puto. Mas estava feliz em saber que a fita não havia se quebrado.
🎈
Com o quarto, agora no mínimo decente, Richie não sabia muito bem o que fazer. Estava entediado para caralho não tinha certeza de que alguém sairia de casa depois do que aconteceu. Passou um longo tempo brincando com os fios que se soltavam de seus edredons, depois passou a batucar com as mãos na madeira da beliche. Richie tinha uma beliche no quarto, mas não tinha irmãos, na verdade tinha quase certeza de que ninguém nunca havia dormido na beliche além dele. Então, arrumou algo para fazer.Desceu as escadas correndo em direção a cozinha, onde Maggie Tozier cortava alguns legumes em cima da pia. Os cabelos morenos amarrados em um coque e o vestido arredondado florido estavam radiantes naquela tarde. Richie achava sua mãe a mulher mais bonita do mundo — Que perderia esse posto para a primeira personagem feminina do Street Fighter, Chung-Li. Richie era a porra de um nerd. —, a abraçou de forma rápida e envergonhada já que não era um costume da casa. A mulher deu um pulinho com o susto, mas sorriu de lado ao ver que se tratava de seu filho.
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Noites de verão - Reddie
Hayran KurguPorque para Richie, estar apaixonado por Eddie era como um coma. [a fanart na capa não me pertence, os créditos são completamente do artista] [também postada no spirit]