Peguei cuidadosamente no envelope e levei o malmequer ao nariz inalando o seu perfume. Provavelmente era uma carta da minha mãe.
“4º Piso, quarto nº5. Espero-a às 23.00.
Mrs. H.”
Várias perguntas me vieram à mente. Muitas, para ser mais precisa. Fiquei um pouco confusa ao ler aquele bilhete. Pensei que Mrs. Hemmings estivesse chateado comigo depois da simples pergunta que lhe tivera feito na noite anterior. Guardei o bilhete cuidadosamente no bolso interior do casaco do Uniforme e depois de colocar o material que não iria precisar à tarde no cacifo, desci até ao refeitório.
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Envergava um vestido branco de manga comprida e uns sapatos bordô que combinavam exactamente com o meu batom. Os nós dos meus dedos encontraram-se nervosamente com a porta de madeira já antiga e recuei um passo esperando que o meu professor de Literatura me abrisse a porta. Enquanto esperava, brincava com os meus finos e esguios dedos mas, rapidamente entro em pânico ao ouvir a voz da Dª Maire.
“O que faz aqui a estas horas menina Emmaline?” Ela pergunta num tom autoritário esperando impacientemente uma resposta.
Mordisquei o interior da minha bochecha e ia para retirar o bloco e a caneta do bolso do vestido mas, sou interrompida pelo Mrs. Hemmings.
“A menina Emmaline apenas tinha umas dúvidas e eu disse lhe para ela vir ter comigo a esta hora visto que hoje, estive bastante ocupado.” Todo o meu corpo relaxou ao ouvir a sua voz.
“Com certeza Mrs. Hemmings. Deixo-vos então a sós.”
E então, a senhora já de idade voltou a descer as escadas. Mrs. Hemmings olhou para mim quase a rir-se da situação pela qual acabáramos de passar e eu acabo por sorrir também embora timidamente. Apresso-me a entrar no quarto dele e escrevi no pequeno pedaço de papel.
“Obrigada por me ter salvado.”
Após ler a mensagem, ouvi uma pequena gargalhada ecoar pelo quarto e formei um pequeno sorriso sem mostrar os dentes. Vejo a figura masculina ir sentar-se numa cadeira em frente à sua secretária e a palma da sua mão bater na outra cadeira, posicionada mesmo ao seu lado. Encaminhei me então, até à cadeira e sentei-me na mesma observando um livro sobre a mesa. Aproximo-me de modo a ter uma melhor visão para o título e rapidamente, um sorriso floresceu nos meus lábios ao reconhecer o típico e belo romance de “Romeu e Julieta.”
“Acho que lhe ler este romance é uma forma de pedir desculpa pelo que aconteceu ontem”
“Então, é bom que leia bem.” Observei mais tarde o seu rosto a ganhar uma expressão descontraída. Divertida. Algo que me agradava bastante.
Ele assentiu e passou então a abrir o livro e a ler a tão famosa e fascinante obra de arte. Todas aquelas palavras eram música para os meus ouvidos. Já li e reli mil e uma vezes este romance e sou capaz de o voltar a fazer. Mrs. Hemmings tem o dote de conseguir tornar a história ainda mais cativante.
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Já passava das 3 pm e por incrível que pareça, ainda ouvia atentamente todas as palavras de Mrs. Hemmings embora o meu olhar se mantivesse focado na sua feição.
“Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora que num beijo se consomem.”
“Que num beijo se consome.”
Escrevi de seguida no papel e entreguei-o a Mrs. Hemmings. Ele sorriu. E foi de uma maneira diferente. Genuína.
“Já beijou alguém Emmaline?”
Senti as minhas bochechas arderem por completo em segundos. Na verdade, não. Eu nunca tinha beijado ninguém verdadeiramente.
“Não.”
Entreguei a mensagem ao meu professor de Literatura e ele apenas sorriu colocando o papel na página onde acabara de ler, fechando assim o livro.
“Já esteve apaixonado Mrs. Hemmings?”
Eu escrevi noutro papel e entreguei-lhe. Ele limitou-se a suspirar mas, acabou por responder.
“Já.”
“Como é que estar apaixonado?” Entreguei lhe mais tarde a pergunta e reparei que o docente se preparava para falar. Esta ia ser, uma noite de descobertas, diferente de todas as outras…
