Ato 1 - cena 2

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"Cada encontro de duas criaturas no mundo é uma dilaceração."

- O Visconde Partido ao Meio, página 53.

"Todos nos sentimos incompletos, todos realizamos uma parte de nós mesmos e não a outra."

- O Visconde Partido ao Meio, página 5.

***

Charlotte quase derruba Louis na escada do hotel, seu abraço sufocando-o. Ele tenta estabilizá-los antes que passe a vergonha do século caindo na frente de tantas pessoas. Eles riem e demoram a se soltar.

"Você é apenas um merdinha." Lottie está corada, o vento forte de Nova York batendo na cara dos dois. "Faz muito, muito tempo que não vem me visitar."

"Eu estive ocupado." Louis puxa ela de novo para si. "Mas faz bastante tempo mesmo."

Eles caminham pelas ruas lotadas de gente e conversam sobre suas novas vidas longe um do outro. É estranho porque, crescendo juntos, não havia essa necessidade. Tudo, ou quase tudo, que acontecia com eles, os dois sabiam. Mas desde que Charlotte decidiu se mandar da Inglaterra, onde Louis e o resto da sua família moravam, e vir para tão longe quanto os Estados Unidos, eram precisas horas de chamadas de vídeo para não perder o contato.

"Você continua o mesmo escroto de sempre," Lottie afirma depois que Louis zomba da roupa de seu namorado, quando ela lhe mostra uma foto dos dois.

"Velhos hábitos nunca mudam." Louis sorri. "Inclusive, quando é a-"

"Daqui meia hora." Louis arregala os olhos. Lottie ri dele. "Calma, já estamos quase lá. Você pode até ser um bocó, mas eu sei o que faço e pra onde estou indo."

Louis gargalha. "É bom mesmo. Não iria querer perder essa peça, o único motivo pelo qual vim até aqui, afinal."

Lottie bate em seu ombro. Suas passadas são largas, em uma tentativa de chegar rápido no teatro para evitar o frio.

"Quase terminando o curso, então?"

"Tipo isso," Louis responde, "falta só mais um semestre. Depois, só rezar pra achar um emprego."

Eles passam por uma família de turistas tirando foto com o Batman. Lottie aponta para eles. "Qualquer coisa você vira artista de rua."

Rindo, Louis diz, "Enorme respeito pela profissão, mas nem fudendo. Com o frio de Londres? Não, obrigada."

"Você não tinha recebido um e-mail daquela companhia de teatro lá? Odeon, ou algo assim."

"É só que não sei ainda o que quero fazer... roteiro, produção, dar aula, atuar de fato. Prefiro dar tiro pra todo lado pra ter bastante opção e escolher na hora."

Eles chegam na porta do teatro.

"Faz sentido," Lottie diz, "ou você pode fazer tudo isso ao mesmo tempo e fodasse."

Os dois entram gargalhando alto, Louis afirmando que é muita coisa para apenas um merdinha tentar fazer ao mesmo tempo, e Lottie respondendo que até um merdinha como ele conseguiria.

Em cima da hora, os irmãos entregam o ingresso que Lottie havia comprado duas semanas antes (precaução, Louis, essa é a palavra chave faltando em sua vida) e vão para um dos vários auditórios do edifício. Cinco minutos depois de se sentaram, o início de Mostre, Não Fale é anunciado, e as luzes começam a se apagar.

A comédia é esperta, o ritmo rápido e as piadas uma atrás da outra não dando tempo para a plateia tirar os olhos do palco. Lottie e Louis riem o tempo todo, Louis sentindo aquele mesmo fio de eletricidade que corre seu corpo quando está perto de qualquer coisa que envolva o mínimo que seja de artes cênicas.

Two creatures (l.s) - shortficOnde histórias criam vida. Descubra agora