Era a terceira vez que Chanyeol se levantava da cama desde que se deitara, há pouco mais de uma hora. Primeiro, fora o calor infernal que daquele verão em Nice, que o obrigaram a escancarar as enormes janelas da casa de campo em que se hospedava pelo fim de semana. Depois, um gato miando insistentemente debaixo de sua janela o fez espantá-lo aos sussurros. Agora, no entanto, ele não tinha uma desculpa para andar da cama para o banheiro, que não encarar a imagem completamente destruída do homem no espelho, inquieto demais para adormecer. Hana estaria casada em menos de vinte e quatro horas, e ele não conseguia passar um segundo sem revirar entre os lençois amaldiçoando cada uma das oportunidades perdidas em que pudera e quisera dizer a ela o que sentia, antes que fosse tarde demais.
E agora era tarde demais.
Deitando-se novamente, o rapaz escondeu o rosto nos antebraços, convencendo-se de que passado aquele evento, todos os dias que viessem seriam, inevitavelmente, melhores. Nada poderia ser pior do que ver Hana escorrer por seus dedos, definitivamente, sem nem mesmo ter tido a alegria de tê-la. Um toque leve na porta fez com que Chanyeol se levantasse pela quarta vez, sem se dar ao trabalho de amaldiçoar Baekhyun, já que ele pelo menos mantinha sua mente ocupada ao bater àquela hora. Assim que seus olhos encontraram a figura de pé do outro lado da porta, teve certeza de que finalmente caíra no sono. Caso contrário, isso significaria que Hana estava de fato ali, dentro de um pijama ridiculamente descombinado e meias, mesmo no calor infernal, carregando uma garrafa de Grey Goose.
– Ai, graças a Deus você está acordado! - ela suspirou e, antes que Chanyeol pudesse processar aquela visita inesperada, Hana já fechara a porta e se sentara na cama, encarando a escuridão do lado de fora.
– Hmm, você não devia estar dormindo? - Chanyeol coçou a nuca, e o gesto fez com que Hana sorrisse de canto enquanto o observava se aproximar, desviando os olhos apenas quando percebeu que encarava seu tronco exposto por tempo demais.
– Eu acho que sim. - ela murmurou, brincando com o adesivo da garrafa, e o modo como suas bochechas estavam coradas e a voz um tom mais aguda que o normal eram o suficiente para que Chanyeol soubesse que ela já bebera antes mesmo de ter companhia.
– E por que não está? - ele respirou fundo, sentando-se de frente para a mulher, encarando-a com curiosidade. O destino era mesmo um filho da puta por colocá-la ali, torturando com uma crueldade sem precedentes.
– Eu não consigo dormir. - Hana suspirou, abrindo a garrafa e virando um gole com uma careta - Eles dizem que é comum isso, sabe? - ela riu, limpando os cantos dos lábios, enquanto Chanyeol estudava cada um de seus movimentos buscando encontrar algum sentido para aquele encontro - Essa... insegurança. - a palavra fez o estômago de Chanyeol revirar, e ele se amaldiçoou por isso: o que estava pensando?
– Eu acho que deve ser normal... - respondeu, em um fio de voz, mas aceitou a garrafa que ele lhe estendia para enfim sentir o álcool se ocupando de sua garganta como as palavras não pareciam conseguir fazer. O que diabos ela fazia ali? Por que parecia tão estupidamente bonita? E o que diabos aquilo queria dizer? - É um grande passo.– O maior, Channy... - ela suspirou, encarando os lençois, parecendo perdida em seus próprios pensamentos - Te faz pensar se um passo na direção errada não pode estragar tudo. - os olhos de Hana se demoraram nos seus por tempo suficiente para que Chanyeol se perguntasse se havia algo ali. Se aqueles olhos tão enormes e expressivos, que desde o primeiro instante o capturaram com tanta facilidade, naquele instante queriam lhe dizer algo. Ou, no mínimo, se estavam se mostrando abertos a receber as verdades que ele guardara por tanto tempo. Sentia-se um filho da puta por sequer pensar em usar aquela pequena rachadura a seu favor, mas a verdade é que as pessoas subestimam o poder que existe no cenário da última chance. Quando se trata disso, do fim da linha, de não ter mais o que perder, ninguém pode garantir absolutamente nada.
YOU ARE READING
TU ME MANQUES - Park Chanyeol
RomanceÉ curioso pensar no poder que tem o conceito da 'última chance'. Quando confrontadas em uma situação extrema, em que não há absolutamente mais nada a perder, as pessoas podem ter atitudes absolutamente inesperadas. Chanyeol certamente não teria feit...