𝑨𝒏𝒏𝒐𝒚𝒊𝒏𝒈

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Uma das coisas que eu odiava muito mais que as segundas-feiras, com certeza era ficar na minha própria casa. Não que eu gostasse de ficar no colégio, pelo contrário — eu também não me sentia bem lá, por mais que o período de tempo que eu passasse naquele lugar era o único em que eu tinha um pouco de “paz”, tirando alguns acontecimentos bobos que não tinham a mínima importância para mim, como o lance dos boatos.

Assim que adentrei minha casa, depois daquele longo dia estressante (como todos os outros), a primeira coisa que eu vi foi meu padastro, Noah, sentado no sofá. Ele comia um pacote de salgadinhos de cebola, e em consequência disso, seu bigode estilo mexicano estava repleto de migalhas.

Um arrepio frio correu por meu corpo, o que me fez abaixar a cabeça automaticamente. Antes de começar a andar em sua frente, torci baixinho para que ele estivesse interessado o bastante na televisão para que nem se importasse comigo.

— Por que demorou tanto hoje?

Sua voz forte e imperativa me fez parar o no mesmo momento, antes que eu pudesse cruzar a porta da cozinha, para seguir ao corredor do meu quarto. Descontei meu nervosismo no moletom preto que eu usava, o apertando.

— Eu tive que parar um pouco no mercado, Noah —  falei baixo, sem virar meu corpo para o mais velho.

Sua risada sarcástica e raivosa me fez morder o lábio inferior.

— Não se faça de santinho, Jeon Jungkook — ele amassou o pacote, jogando ao seu lado no sofá — Eu sei que você estava dando seu cuzinho para algum gayzão por aí, porque você é nojento!

Apertei meus olhos, farto.

Eu odeio você. Eu realmente odeio você!

Aqueles pensamentos martelavam freneticamente na minha cabeça, e eu sabia que se continuasse ali, iria explodir. Isso me fez ficar calado e continuar meu caminho rapidamente até a saída da sala, com um nó de ira tão forte na minha garganta que chegava a ser sufocante.

Quando adentrei à cozinha, a primeira coisa que vizualizei foi a imagem da minha mãe lavando a louça, que estava cheia. Parecendo sentir minha presença, ela virou para trás e me olhou com aqueles olhos inchados, que transpareciam o seu cansaço.

— Boa tarde, filho — ela sorriu, deixando o sabão líquido escorrer pelo prato e cair no chão. — Como foi a escola hoje?

Meus olhos merejaram.

Idiota. Você é uma idiota.

F-foi legal... — respondi tão baixo que nem eu mesmo tinha ouvido direito minha voz. Ela
esboçou um sorriso obviamente forçado, estendendo o prato em minha direção. — P-pode colocar na mesa, por favor? — sua voz tremia, como se estivesse se segurando. — É para...

O prato caiu no chão, fazendo um barulho alto. Ela arregalou os olhos, e por um momento — só por um momento — eu pude ver o transtorno que se passava na sua cabeça. Seu olhar perdido olhando para todos aqueles pedacinhos de vidro no chão, como se de alguma forma se identificasse com eles.

Assim que percebeu que eu a olhava, ela curvou os lábios para cima. — Haha, minhas mãos andam furadas esses dias... Eu sou desastrada demais mesmo. — ela se agachou no chão, com as mãos trêmulas, catando cada mini caco de vidro — estes que eu tinha certeza que não estavam mais quebrados que eu.

Ver aquilo era torturante, e ao mesmo tempo, patético.

Era patético o quanto as pessoas eram tão capazes de amar, tão capazes que isso as fazia se perderem de si mesmas.

Cinza É A Nova Cor Do Arco-íris | Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora