cont. | CAPÍTULO 03 - Adelle

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Meus olhos estavam inchados. Meu coração quebrado. O silêncio do meu lugar estava me deixando louca.

Sem muito dinheiro saí da cidade com a passagem que havia comprado, consegui alugar um quarto, mas não por muito tempo. Na rua comprei algumas besteiras para escapar da fome.

No banheiro, tentando esconder meus ferimentos, com a voz de Lucia em minha cabeça, a única coisa que eu queria era acabar com minha vida a ter que pisar na cidade, voltar aquela casa, encontrar o que restou da minha família.

Estava em um quarto de hotel depois de ter chegado até o hospital e fraquejado entrar. Não sabia se encontraria Lucia, se veria o corpo sem vida da minha mãe, eu apenas não conseguia me mover para dentro daquele prédio.

Então corri para a parada de táxi mais próxima e saí da pequena cidade me escondendo no quarto, dentro de uma pousada de beira de estrada, onde havia me hospedado, chorei até cair no sono.

"Tem como sair hoje?" — Uma mensagem apareceu em meu celular.

Era um homem por nome Rinaldo. Ele me chamou pelo número que eu deixei em um app de encontros. Na discrição do meu perfil eu fui bem clara: sexo por prazer e dinheiro, quer?

O app mostra onde estou e se estou disponível me dando a possibilidade de encontrar onde eu estiver ou eles. Então esse Rinaldo, ao invés de fazer algo mais seguro, entrou no aplicativo, me viu que estava próximo e que possivelmente conseguiria sair comigo aquela noite.

"Estou em um bar, perto da sua localidade. Me responde antes que precise pedir uma bebida."

Ele insistia.

Abri o app e vasculhei o perfil dele. Ainda que a vista turva, pelas horas de choro e sono, consegui ler o perfil dele e vi uma foto do seu pau, um tanto menor que a média, mas não me entristecia.

Rinaldo Dantas. 43 anos. Branco. Cristão. Professor de Física. Casado. Sem filhos. Bebe moderadamente. Gosta muito de sexo e se possível com violência, além de orgias com qualquer tipo de pessoa, principalmente com meninas acima de 12 anos, no máximo 15 anos.

Ele não era tão bonito e atlético. Mas algo me chamou atenção, ele gostava de sexo com estranhas. E minha mente calculou rápido, o que pagaria por mais um dia no quarto de aluguel e refeição? Sexo. O que iria fazer aquela voz de Lucia sair da minha cabeça? Sexo. O que iria me fazer aplacar um pouco a fome da depravação? Sexo. O que iria me fazer esquecer um pouco daquele lugar? Apenas o sexo.

Eu sabia que ele poderia me ajudar, possivelmente me batesse forte até que eu não conseguisse escutar o choro que vinha de meu coração. Mas precisava ficar aqui e conseguir visitar minha mãe.

Com os dedos trêmulos, buscando respirar calmamente e afastar a voz de Lucia da minha cabeça, como uma menina sem escrúpulos, eu mandei a seguinte mensagem.

"Chego em meia hora."

Não iria ficar naquele quarto sozinha, no silêncio da minha dor. Como uma boa filha deveria estar ao lado de sua mãe. Mas não estava conseguindo. Estava decidida, amanhã, antes de amanhecer eu estaria entrando no hospital.

Quando meu rosto ficou coberto por uma boa camada de corretivo e maquiagem pesada, andei até minha mala.

"Vem de colegial, o mais juvenil possível, por favor."

A fantasia de Rinaldo era doentia. Mas de quase todos eles são. Peguei uma calcinha branca de algodão, meias coloridas em tons pastéis que me vestia até o meio da coxa, ligas para prender a meia até a calcinha. Vesti uma saia vermelha minúscula e cor de rosa, uma blusinha branca e curtinha com desenho de uma coelhinha com carinha safada lambendo um picolé. Coloquei uma peruca rosa e um perfume suavemente doce. Vesti um sobretudo caramelo, ele cobria qualquer roupa que eu estivesse vestindo. Peguei minha bolsa e celular.

COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora