Prólogo

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Os primeiros animais da manhã indicaram o nascer do sol; ele havia nascido após cinco anos submersos na escuridão sem estrelas.

Velark observou o céu satisfeito. De sua sacada podia encarar facilmente a majestade que rodeava todo o planeta mais uma vez. Ele sentiu falta do calor e da forte luz do crepúsculo. Os lábios se contorceram para cima em um sorriso e os pulmões foram fartos em oxigênio.

Naxssane, a filha caçula de Velark, promoveu um ritual antes mesmo que pudesse falar ou andar. Toda vez que o sol tocasse á terra os dois iriam até á ponta do parque, e ali ficariam sentados em bancos de madeira lascada até que o sol tivesse dado espaço a lua.

O homem ao auge de sua idade beijou a mulher, sua primogênita e o filho do meio e partiu com Nax. Ele tinha um cronograma em mente, prático e que custariam as próximas doze horas.

Quando deixou o saguão dos prédios anexados seus olhos se encheram. Pedestres circularam aos montes, empurravam carrinhos de comida ou a carregavam em cestas de cipó e lascas de madeira. Por um segundo reconsiderou a ideia de retornar ao pequeno apartamento no quinto andar, mas a regressão nunca foi um de seus adjetivos.

Estreitou as pálpebras e traçou o caminho até o parque central, cinco quadras de distância.

O banco de madeira lascada parecia ainda mais convidativo do que as outras infinitas vezes a qual já esteve ali. Velark sentou a filha em uma de suas pernas admirando fascinado os tons de ouro nos olhos puros e infantis, uma infinidade de sonhos residia nas íris de sua pequena estrela solar. A criadora havia lhe dado uma galáxia que cabia perfeitamente em suas mãos.

── Papai ── Nax chamou. ── Tem alguém ali, tem alguém na escuridão...

O elemento masculino virou esperando encontrar o vazio que jazia a parte baixa da cidadela, mas um estrondo rasgou o céu, dançou em luz esbranquiçada e queimou tudo o quê tocou. Inicialmente os olhos perplexos e sem entendimento foram as principais reações, até uma bola fogosa rodopiar contra a atmosfera.

O sol não havia renascido aquela manhã. Ingênuo, petulante.

Velark se viu obrigado a cobrir os próprios olhos com a palma da mão, enquanto puxava Naxssane para o leito de seu peitoral, tentando escondê-la da gritaria eufórica e o desespero que os rondava. Ele quis correr, mas as pernas estavam presas e petrificadas no próprio desespero.

Os gritos em agonia rasgavam os tímpanos, tremulava o corpo e fazia com que Nax encharcasse a camisa do progenitor com suas lágrimas de desespero. Junto ao medo que a consumia a dor rompeu-lhe em flash, tarde, muito tarde, Nax já não sentia.

Velark abriu os olhos miseravelmente a tempo de ver as crianças no extremo do parque virarem poeira, as mães alarmadas e a pequena garota em seus braços não tivera um destino diferente.

A boca se tornou amarga, e ele sentiu o próprio físico cair aos pedaços, como cinzas de um vulcão recém-adormecido.

Seu pequeno pedaço de galáxia não jazia mais ali.

O homem berrou, debruçou-se no amontoado de cinzas e urrou com a fúria de mil leões. Com o coração esmigalhado e a alma partida jurou-se treva, a fria e temida escuridão.

Ao longe, uma segunda observou-o com os olhos impassíveis. Atiçou a magia e viajou na velocidade da luz para a própria galáxia.

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