Tomei uma decisão difícil: fui visitá-lo no cemitério. Naquele começo de tarde, era impossível ficar fora de alguma sombra.
O sol queimava forte. Droga! Eu deveria ter levado um guarda-sol. Não durou muito para que alguma coisa em meu peito me fizesse sair às pressas de lá.
Meu coração estava aflito com toda a situação. Eu me sentia uma idiota. Me sentia sozinha. Mas na verdade eu não tenho certeza do que eu, de fato, sentia.
Enquanto voltava pra casa, me esbarrei com Alec. Foi uma coisa boa. Ficar sozinha naquele dia não era uma coisa que eu tinha programado.
— Julie? — disse ele, sorridente. — Nossa, faz tanto tempo que não te vejo. O que aconteceu?
— Alec, ainda bem que você apareceu — disse eu.
— Ainda bem que você apareceu — complementou Alec, soltando uma risada. Seus olhos brilhavam. Não me surpreendi.
— Você se importa de ficar comigo? — pedi, com uma expressão no rosto que nunca falhava. Ele riu e disse:
— Eu tenho umas coisas para fazer. Você se importa? — perguntou. — Vamos nos divertir muito.
Ainda me pergunto se ele iria se divertir sem mim.
— Bem, o que aconteceu com você? Você desapareceu do nada. Não te vejo desde que dormimos na casa de... — ele se interrompeu, parando no meio da rua e olhando para o nada. Logo se pôs a andar novamente dizendo: — Claro, só se quiser falar.
— É que eu não tenho certeza se superei. Na verdade, eu não quero superar. Quando alguém morre, é uma merda. A gente tem que se livrar da pessoa como se ela não fosse nada."Temos que guardá-la na memória", dizem. Esquecemos tudo que ela já fez por nós. Não academia pelos momentos bons.
— É uma merda mesmo. Eu sei o quanto é difícil mas... — disse Alec, hesitante. — Mesmo assim, se ele pudesse ver você nesse estado... se é que não tá vendo... não iria gostar de te ver assim, e aí, se sentiria mais culpado.
Caminhamos até a praia, o sol continuava quente.
— Vou esperar uns amigos... — disse ele. Eu sabia quem era.
Tempos depois, seus amigos chegaram. Fizemos um churrasco à beira da praia. Durante um dos meus mergulhos, eu o vi.
Eu queria dizer que tentei enviar. Queria dizer que nada fazia sentido. Dizer que não sinto. Queria dizer que pus um fim em mim.
Resolvi sair da praia, mas fui abordada por Filip, que estava abraçado em Thomaz, que fitava Ashley enquanto conversava com Alec.
— Aonde você pensa que vai? — perguntou-me, com os olhos quase fechados. Estava babado.
— Vou dar uma volta pelo píer. Aquela pobrezinha que fica mais ao norte em direção contrária à cidade.
— Só toma cuidado, hein — disse ele, se afastando.
Continuei a longa caminhada até o píer. Lá, me deparei com uma coisa que eu tinha esquecido. Mas como eu poderia esquecer de uma coisa tão grandiosa assim? Vocês podem me achar idiota, mas é isto.
Deparei-me com o barco à vela que eu havia ganhado de meus pais quando eles estavam no ápice da riqueza. Na verdade, compraram se segunda mão, mas com o tempo, foi melhorada.
Sua cor branca reluzia a luz do sol. Sem hesitar, subi e comecei a navegar.
Dirigi-me para o sul e surgir do nada no meio do mar, para que meu amigos me vissem. Pensei na possibilidade de talvez, melhorar. Talvez, seguir em frente. Mas como? Precisava de uma ajuda.
Quando me toquei, já estava na frente da praia. Os garotos começaram a gritar por meu nome. Naquela hora, a praia estava mais cheia, comparada a hora em que chegamos.
Parei o barco e fiquei me embalando com as ondas que me levavam pra cá e pra lá. Naquela hora percebi que eu poderia superar. Percebi que eu era forte. Sabia o quanto aguentava, o quão longe poderia ir e quão ajudada seria.
Quando olhei pra trás, em meio ao pôr do sol, percebi o quanto a vida era bela. O que por mais que tragédias acontecessem, eu amava... tudo aquilo. Amava os meus amigos, amava aquela praia (mas nunca descartei o fato de querer morar em outro planeta), amava qualquer coisa que remetesse à ele, por mais distante que estávamos e estamos até hoje.
Espero que todos vocês possam superar suas dificuldades e percebam o quanto... tudo é lindo. Albert, eu ainda te amo. Aqui é Julie dando minhas últimas palavras. Que o sol ilumine sua vida, o mar de traga felicidade e o vento sussurre coisas boas.
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Quando Olho Pra Trás
Teen FictionDe um lado, Julie tem que lidar com a morte de seu namorado e de outro, seu amigo Alec tem que lidar com o sofrimento e um pequeno e repentino desafio. Não era isso que você queria? Uma história pequena?